sábado, 16 de julho de 2011

20 DE FEVEREIRO DE 1911. Dr. Floro passa a adotar uma nova denominação para o povoado: Juazeiro do Padre Cícero.

18 DE JUNHO DE 1911. Padre Cícero apreensivo com as pretensões do major Joaquim Bezerra de Menezes de aspirar ao cargo de prefeito de Juazeiro envia carta ao governador Accioly na qual argumenta que “este cidadão não reúne as condições necessárias para assumir tal cargo” e apresenta seu próprio nome para indicação do governador. No começo de julho, faltando poucos dias para a emancipação de Juazeiro, a chegada de um visitante, comandando uma comitiva de gente armada entra no povoado e por pouco não desestabiliza as negociações da independência do povoado. É um fato muito interessante e está bem contado no livro Guerreiro togado, do escritor Pedro Nunes Filho e por isso vale a pena ser transcrito:

"Quando chegou ao Juazeiro, Santa Cruz dirigiu-se imediatamente à residência do Padre Cícero para comunicar-lhe que havia chegado e colocar-se sob sua proteção. Embora fosse comum grupos armados passarem pelo Juazeiro, em poucos instantes os habitantes se deram conta de suas presenças ali. No momento exato em que estava sendo recebido pelo Patriarca, chegou uma comissão de pessoas da cidade para falar com o sacerdote. Um dos integrantes da comitiva tomou a palavra e disse
- Padre, nós fomos informados de que o senhor irá receber um bandido de nome Augusto Santa Cruz e queríamos dizer que isso poderá trazer sérios transtornos à nossa questão política. Nós viemos aqui porque está havendo uma reação da população contra a presença de tais cangaceiros, fugitivos da polícia paraibana. Esse fato pode dar ao coronel Antônio Luís o pretexto de voltar atrás prejudicando o acordo de nossa emancipação do Crato, como o senhor bem sabe. O Padre, com muita sabedoria e calma, escutou tudo, em seguida ponderou dizendo:
- Os senhores estão enganados. O Dr. Augusto não é um bandido. Trata-se de um homem formado em Direito que vem sofrendo perseguições políticas na Paraíba. É um homem muito inteligente, um orador brilhante e, para comprovar o que estou dizendo, vou lhes apresentar o próprio Dr. Augusto que se encontra aqui ao meu lado. Todos ficaram perplexos e constrangidos com a denúncia que estavam acabando de fazer, em nada se abalando o Dr. Augusto. Pelo contrário, como era um homem educado, um cavalheiro, aproveitou a oportunidade para cumprimentar os presentes, apertando a mão de cada um. Em seguida, explicou pessoalmente o que estava acontecendo com ele na Paraíba. Como se tratava de um homem muito fluente, em poucos instantes deixou todos encantados com sua coragem, com a firmeza de sua personalidade e com suas convicções políticas. Horácio Patriota, um dos integrantes do grupo que acompanhou o Doutor até o Juazeiro, contava que, enquanto Santa Cruz foi se entender com o Padre, os cabras ficaram sentados na calçada da igreja, aguardando o resultado do entendimento. O Patriarca, que costumava dar asilo em seu território a pessoas perseguidas e injustiçadas, a toda sorte de náufragos da vida, cumpriu o que havia prometido, mas, para evitar algum problema que por ventura viesse a prejudicar as discussões e acordos em favor da emancipação do Juazeiro, impôs uma condição: o grupo deporia as armas a seus pés. E assim foi feito. Os cabras foram entrando um por um na sala de sua residência para depositar as armas a seus pés. Cerimônias como essa criavam um clima de magia e de força, aumentando ainda mais a fama de que o sacerdote possuía poderes excepcionais. Além de desarmar o bando, o Patriarca enviou 25 dos mais perigosos cangaceiros de Santa Cruz para a Serra do Araripe, onde deveriam trabalhar nos plantios de maniçoba, como penitência por crimes que haviam praticado. Na verdade, o religioso era um homem de grande sensibilidade, um sábio. Ao receber cangaceiros e bandos como o de Santa Cruz, tornava-se um pacificador dos sertões, pois, a seus pés, elementos perigosos depositavam suas armas, mansos como cordeiros, muitos deles chegando até mesmo a abandonar a vida da espingarda. Contava ainda Horácio Patriota que escondeu uma pequena pistola com a intenção de com ela permanecer, pois tinha o hábito de andar sempre prevenido contra qualquer eventualidade. Testemunhava ele que o Padre, além de santo, tinha uma ciência oculta. Pois, quando todos entregaram as armas, ele levantou a cabeça e disse com autoridade e sabedoria:
— Está faltando uma arma!
— Aí, eu saquei a pequena pistola da cintura e depositei a seus pés — contava demonstrando grande admiração, diante dos poderes excepcionais do santo taumaturgo do Cariri cearense.

Dr. Santa Cruz terminou fazendo boas amizades em Juazeiro e como era político experimentado participou de reuniões nas quais emitiu opiniões que muito ajudaram aos juazeirenses engajados na luta pela emancipação.

20 DE JULHO DE 1911. Dois dias antes da aprovação da lei que criou o município de Juazeiro, o jornalista cratense João Brígido, opositor do presidente Accioly, publicou no jornal O Unitário, de Fortaleza, um difamante artigo em que dizia:

"Aquilo nunca será uma vila, mas por todo tempo uma “vileza” no gênero de outras que já se acumulam na região do Cariri, onde Missão Velha já é vila, Brejo dos Santos, São Pedro, Mauriti e Porteiras. Firmemente insistimos no pensamento de que nessa zona do Ceará só devem existir os quatro antigos termos do Crato, Barbalha, Milagres e Jardim, cumprindo tudo mais ser suprimido em bem da ordem, diremos, da moral, sobretudo quando esses lugares estão a despejar os seus habitantes para o Amazonas e margens da via férrea de Baturité, cada vez mais empobrecendo-se  de  homens próprios  para  a administração e governo".
(Nota: esse mesmo João Brígido, mais tarde esteve ao lado de Juazeiro para a deposição do presidente Franco Rabelo, combatendo na famosa Revolução de 1914.).

22 DE JULHO DE 1911. Juazeiro conquista sua independência oficializada através da Lei 1028 cujo teor é o seguinte:
            
            A Assembleia Legislativa do Ceará Decreta
Art. 1º. — A povoação de Juazeiro, da Comarca do Crato, é elevada à categoria de Vila e sede do Município, com a mesma denominação.
Art. 2º. — Os limites do Município:
Ao Norte: o Município de São Pedro
Ao Sul: Município de Barbalha,
A Leste:  o Município de Missão Velha.
A Oeste: o Município do Crato
Linhas divisórias:
Com São Pedro, ao Norte, a linha divisória é o riacho dos Carneiros.
Com Barbalha, ao Sul, a linha divisória é a Lagoa Seca. Com Missão Velha, a Leste, a linha divisória é o Rio Carás, no Alto da Jurema. Com Crato, a Oeste, a linha divisória é o riacho São José.
Art. 3º. — Fica criado no mesmo Município o Termo Judiciário, anexo ao Crato.
Art. 4º. — Nestes termos haverá um Tabelião Público Judicial e de notas, que acumulará as funções de Escrivão Geral.
Art. 5º. — Revogam-se as disposições em contrário.
Paço da Assembleia Legislativa do Ceará, 22 de julho de 1911.
As. Belizário Cícero Alexandrino — Presidente
Lourenço Alves Feitosa de Castro — 1º. Secretário
Omar Feital     — 2º. Secretário

Nesta mesma data, o presidente Accioly promulgou a lei aprovada na Assembléia cujo teor é o seguinte:

Lei nº 1028 de 22 de julho de 1911
Eleva à categoria de município e termo a povoação de Juazeiro, da comarca do Crato.

O povo do Estado do Ceará, por seus representantes, decretou e  promulgo a seguinte lei:
Art. 1° - A povoação do Juazeiro, da comarca do Crato, é elevada à categoria de vila e sede de município, com a mesma denominação.
Art. 2º - Os limites do município serão os seguintes: com o do Crato, a linha divisória partirá da casa de José de Britto, no sítio Alegre, para seguir ao longo da estrada que vai do Juazeiro até o riacho da Areia, de onde pela estrada do carro de Antônio Felipe, sairá no engenho deste, cujo sítio pertencerá ao Juazeiro; a partir desse ponto demandará a linha do sítio Porteiras, de propriedade do Padre Cícero Romão Batista, que também pertencerá ao Juazeiro, prosseguindo diretamente até a baixa das almas para continuar em linha reta até a lagoa das Aroeiras, onde se acham os limites de Barbalha com Juazeiro. Daí  tomará a direção da barra dos riachos Batateiras e Carás, subindo até a estrada Jurema e passando por São Gonçalo até o cemitério velho, na direção da descida das águas do sítio Amarão Coelho para os Carás, inclusive o Chupador. Partindo, então, deste sítio para o Olho d´água, subirá pelo riacho Carneiro até a estrada de São Pedro do Crato, cuja direção deverá seguir até o sítio Alegre, incluindo a referida casa de José de Britto.
Art. 3º - Fica criado, no mesmo município, o termo judiciário, anexo ao do Crato.
Art. 4º Nestes termos haverá um tabelião público, judicial e notas, que acumulará as funções de escrivão geral.
Art. 5º - Revogam-se as disposições em contrário.
O Secretário do Estado dos Negócios do Interior e Justiça a faça publicar.
Palácio da Presidência do Estado do Ceará, em 22 de julho de 1911, 23º da República.

Antônio Pinto Nogueira Accioly
José Lino da Justa
         

            Reportando-se sobre a lei que criou o município de Juazeiro, assim se expressou o escritor Otacílio Anselmo, em seu livro Padre Cícero, mito e realidade:

Pensando bem, aquela resolução teleguiada da Assembleia não só fundara um novo Município no Estado do Ceará, cuja área territorial não ia além de 211 quilômetros quadrados, mas fizera surgir o maior caudilho político dos sertões nordestinos, cuja soma de poderes ainda hoje não foi alcançada por qualquer outro líder regional.

          Nesta mesma data é criado o Conselho Municipal de Juazeiro sendo empossados os seguintes membros: Major Fenelon Gonçalves Pita, João Bezerra de Menezes, José Eleutério de Figueiredo (Zé Xandu), Raimundo Nonato de Oliveira (Natim), Cincinato José da Silva, Manuel Vitorino da Silva, Ernesto Rabelo e Fausto da Costa Guimarães. Suplentes: João Gonçalves Sobreira, José Xavier de Oliveira, José Júlio Carneiro, João Duarte Pinheiro, José Alves da Silva, Pedro Fernandes Coutinho, Firmino Teixeira Lima e João Batista de Oliveira. (Fonte: História da Independência  de Juazeiro do Norte, de Daniel Walker)

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