sábado, 2 de julho de 2011

7 DE SETEMBRO DE 1910. A cidade acorda ao som dos acordes do Hino da Independência, executado pela Banda de Música Padre Cícero, sob a regência de mestre Pelúsio. Inconformados com os boatos que circulavam no povoado, segundo os quais o prefeito do Crato muito em breve “arrasaria a população” para o que contaria com auxílio da força armada federal, os juazeirenses se reúnem novamente em grande concentração para realização de um comício no qual foi dado oficialmente o primeiro grito de VIVA A INDEPENDÊNCIA DE JUAZEIRO, pronunciado pelo Sr. Paulo Maia Ferreira de Menezes, condutor da bandeira da independência confeccionada às pressas para esta finalidade. Ao meio-dia, em frente à redação de O Rebate, é renovada a manifestação. Às cinco horas da tarde há grande concentração popular em frente à residência do coronel José André. Daí a passeata avança pela Rua Grande (atual Padre Cícero), onde padre Alencar Peixoto, de cima de um palanque improvisado faz o mais violento discurso de toda a campanha. Terminou seu discurso empunhando a flâmula do jornal e finalizando, enfático:
 Este retalho de pano será a minha mortalha se porventura, na defesa do Juazeiro, eu morrer atravessado pela bala do cangaceiro inimigo ou pelo punhal do assassino.
 A multidão aplaudiu entusiasticamente. Na oportunidade, José Sebastião de Carvalho fala ao povo e é ardorosamente ovacionado. Mais uma vez o Hino da Independência é entoado e explodem os foguetes. Também falou Dr. Floro e foi igualmente aplaudido com entusiasmo. A população se dirigiu à casa do Padre Cícero e lá pediu insistentemente que ele falasse. E ele falou diante de uma multidão atenta e em silêncio. Pronunciou um pequeno discurso, afirmando entre outras coisas que: “Tinha fé em Deus e na virgem Mãe das Dores que ninguém mataria um povo porque defendia a sua liberdade”.
  A concentração termina em frente à redação do jornal, com a palavra do coronel Fausto Guimarães, ouvido atentamente à luz das estrelas. Juazeiro decidiu: estava independente do Crato!
  
11 DE SETEMBRO DE 1910. O Rebate publica artigo com o título “Como o Sr. Antônio Luís abusou do povo do Joaseiro”. Também dá destaque a alguns telegramas e cartas ameaçadoras do coronel Antônio Luís para o Padre Cícero.

14 DE SETEMBRO DE 1910. Empolgado com a campanha emancipacionista uma comitiva de Barbalha, chefiada pelo coronel João Raimundo de Macedo, veio a Juazeiro para hipotecar sua irrestrita solidariedade ao movimento. A comitiva é recepcionada com discursos, foguetes e músicas.

17 DE SETEMBRO DE 1910. Padre Cícero recebe a visita de uma comitiva da cidade de Barro, composta por cem pessoas sob a chefia do major José Inácio de Sousa. Esta luzida comitiva foi alvo de calorosa recepção a qual durou dois dias. Durante o banquete oferecido em sua homenagem, o embaixador de Barro visivelmente emocionado pronunciou vibrante discurso afirmando entre outras coisas que:
 Ali se achava juntamente com seus companheiros de comitiva para felicitar o Padre Cícero e o digno povo desta terra por ter-se libertado do jugo do seu maior inimigo, afirmando com toda sinceridade que aquela visita valia por um compromisso de solidariedade com o povo juazeirense, em qualquer emergência, fosse ela qual fosse.

25 DE SETEMBRO DE 1910 – “Quem não gostar que se morda”, com esse sugestivo título O Rebate abre sua edição desta data. A luta está renhida. De um lado Alencar Peixoto com sua pena mordaz, do outro o Correio do Cariri, do Crato, usando como arma o poderio político, desfechando golpes ferozes contra o Juazeiro.

10 DE OUTUBRO DE 1910 – Padre Cícero recebe carta de José Accioly Filho, presidente estadual do Partido Republicano Conservador, na qual ele fala da boa vontade de seu pai para elevar o Juazeiro à Vila. Manifesta, entretanto, o seu desejo de paz entre as duas cidades: Crato e Juazeiro.

17 DE NOVEMBRO DE 1910. O Rebate abriu a edição deste dia com um longo editorial com o título “Incoerência da Circular do Exmo. Sr. Bispo de Olinda Contra o Juazeiro e o Revmo. Pe. Cícero” com o qual repudia em alto e bom tom a divulgação pelo Correio do Cariri de  uma Circular assinada pelo bispo de Olinda, D. Luís Raimundo da Silva Brito, na qual recomendava  a exclusão do nome de Cícero para batismo de crianças, pois isso “era sinal de arraigado fanatismo”. Dentre outras coisas assim escreveu padre Peixoto no editorial:
 O que motivou esta circular, é preciso que o público conheça, foi tão-somente a contrariedade produzida no espírito de S. Exa. pela oposição dos habitantes dos sertões de Pernambuco à atitude pouco decente e anticristã assumida contra o Juazeiro e o Revmo. Padre Cícero pelos frades enviados em missão a essa zona ultimamente. Foi unicamente o despeito que originou tal medida por 'circular'; porque vocalmente S. Exa. nunca cessou de guerrear injustamente esta terra e este povo. Por todos, é sabido que, de há muito tempo, a única preocupação de alguns padres, por ordem ou por adulação a alguns bispos, quer missionando, quer paroquiando, é ridicularizarem a Religião Católica Apostólica Romana, com apreciações caluniosas contra o Juazeiro e o virtuoso Padre Cícero.
 Para melhor compreensão deste assunto vale a pena transcrever a referida circular, cuja divulgação era do interesse dos cratenses no sentido de desqualificar o Padre Cícero, no momento em que estava em curso, patrocinada por ele a emancipação de Juazeiro. Eis a circular do bispo:
 Revmo. Sr. Vigário. Chegando ao nosso conhecimento de que, infelizmente, se tem alastrado pelo interior desta Diocese a superstição, já pela Santa Sé condenada, dos embustes do Juazeiro, no Ceará, a qual tem obcecado os espíritos de nossos filhos que juntamente com os habitantes de outros Estados, em constantes romarias, não só abandonam sua casa e trabalho, mas chegaram a tal ponto de cegueira, que recusam crer e receber senão o que enganadamente julgam lhes impor o Padre Cícero, que devia ser o primeiro a lhes ensinar como se acham em erro, dando assim prova de sua obediência à S. Congregação que condenou seu desvio, somos obrigados a chamar a atenção de V. Revma. encarregando-o, em consciência, de esclarecer esses pobres iludidos, não consentindo em práticas tão prejudiciais. Outrossim, recomendamos que não aceite para batismo o nome de Cícero, que é o sinal de arraigado fanatismo. V. Revma. conhece o quanto nos obriga em consciência o decreto da S. Sé emanado da Congregação que fiscaliza a pureza da fé. Por isso, esperamos que não será moroso em cumprir com esse dever que lhe apontamos e Deus permita que vossos filhos dóceis à vossa advertência e conselho, ponham termo a esses desmandos. Bem sentido por este triste estado, enviamos a V. Revma. e aos vossos paroquianos nossa bênção pastoral.
Soledade, 26 de agosto de 1910
+ Luís, Bispo de Olinda” (Fonte: História da Independência de Juazeiro do Norte, de Daniel Walker)

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