sexta-feira, 12 de julho de 2019

Soou o final do portaldejuazeiro.com. A cortina se fecha. O seu criador, Daniel Walker, alçou voo para a eternidade. A sua missão foi cumprida aqui na Terra. Sabemos que ele deixou um grande legado de conhecimentos, de estudos e de pesquisas através deste blog. A todos que apreciavam e gostavam de acessar este jornal nos despedimos com agradecimentos sinceros.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Projeto de Extensão em Tanatologia da Estácio firma parceria com a Associação de assistência às pessoas com câncer

Um trabalho que tem obtido à adesão de diversos profissionais e estudantes da área da saúde, além de instituições, está sendo realizado por meio do Projeto de Extensão Laboratório de Tanatologia da Estácio FMJ. No último final de semana foi firmada mais uma parceria, desta vez com a Associação Casa Esperança e Vida de Assistência às pessoas com câncer de Barbalha.
A parceria foi realizada por meio dos coordenadores do projeto, Ana Cristina Gomes Duarte e Djailson Ricardo Malheiro, estudantes dos cursos de Medicina e Enfermagem, com o importante apoio da Assistente Social da entidade, Camila Lopes Peixoto. “Faremos um trabalho de ‘aconselhamento’ para os funcionários, dando suporte para que eles possam atuar com seus pacientes”, disse a assistente social.
Para o Professor Djailson Ricardo Malheiro, coordenador do projeto, essa parceria representa uma importante possibilidade de levar um serviço de grande relevância à Casa da Esperança, como também uma importante oportunidade de troca de conhecimentos. “A tanatologia pode possibilitar importantes conquistas para os familiares e pessoas com a doença. Além de colaborar enormemente no contexto de ampliar os horizontes daqueles que atuam com os pacientes, dentro do processo de elaboração das perdas”, destacou.

quarta-feira, 3 de julho de 2019

MEU PEDIDO DE SOCORRO PELA LEITURA NO CARIRI

Zenaide Alves

Hoje pra mim, tudo estava correndo normalmente como um dia de terça-feira qualquer, com um diferencial: a empolgação de trocar os livros na Biblioteca do Centro Cultural Banco do Nordeste. Lá estava eu e meu filho, na tenra idade dos 8 anos, onde a curiosidade e a sede de conhecimento foi aguçado com a educação, mesmo que precária da rede pública, mas alicerçada por uma alfabetização particular. Para nossa surpresa, fomos interceptados na recepção com a triste notícia de que não estavam renovando os livros. Um tanto decepcionados ficamos sem norte, até que observando a movimentação no local, fiquei sabendo de uma apresentação do Coral da UFCA em parceria com o CCBA na programação do “Terça Musical”. Como por obra do universo, fomos instigados a assistir.

Mesmo diante da famosa ‘fila brasileira’, por um lapso de segundos, pensamos em desistir, mas lá estávamos sentados aguardando a apresentação do coral. Qual tamanha gratidão por não ter desistido. Mesmo sendo interrompidos pela inapropriada educação daqueles que ali prestigiavam o evento com seus aparelhos de smartphones tocando, me emocionei a partir do primeiro momento de formação.

Vi ali distribuídos entre jovens adolescentes e adultos, uma dedicação a música, procurando formação acadêmica num curso muitas vezes julgados como “isso não tem futuro não”.

Pela primeira vez tive que me redimir e ver a beleza do fruto de tantas horas de ensaio na busca da sintonia de vozes e harmonia de flautas, piano e violoncelo.

Eu me emocionei. Acredito que muitos ali, que ainda continham uma alma delicada, tenha se emocionado também. Um auditório lotado, pessoas em pé, sentado no chão. Um público curioso, outros companheiros dos alunos e até mesmo familiares.

O tempo passou tão rápido que não se percebeu. Foi sim um belo espetáculo, uma espécie de ‘lavagem da audição’ de tanto lixo musical que invade nossa sociedade.

Quero parabenizar a regência do Professor Danilo Nogueira juntamente com sua simpatia em acolher o público explicando aos leigos o que era cada ato apresentado. Saudar a dedicação de cada aluno acompanhado de sua Professora Rute Azevêdo que foi aclamada por todos na sua apresentação.

Ainda extasiada da emoção desta noite, quero aqui também fazer um manifesto.

No final da programação, diante do público que aplaudiam de pé aqueles alunos e mestres, foi concedida a atenção a dois jovens que participavam da organização do evento e da coordenação do CCBN. Naqueles breves minutos fomos comunicados que devido a contenção de gastos anunciados pelo Governo Federal no começo do ano, tanto a UFCA como o próprio Centro Cultural Banco do Nordeste, sofreu um corte de 35% na sua verba; portanto, foi dado a notícia de que este mês de Julho, talvez seria o último mês de apresentação de momentos culturais como aquele que findava diante do público.

Com um ar de manifestação, os jovens solicitavam a presença de todos pra encontrarem uma solução e reforçarem a luta para não deixar o Centro Cultural fechar, anunciando ali, o corte do projeto de empréstimo de livros pra sociedade caririense, assim como as futuras apresentações artísticas. Devido ao horário, não pude esperar pela reunião, mas fiquei com a ‘culpa na consciência’ de não poder dar minha opinião nessa causa.

Então faço aqui um questionamento: se houve esse corte de 35% da verba pública pra manutenção dos centros culturais e da faculdade, o que farão com os outros 65%?

Sei que é muito fácil jogar pedra, apontar ou criticar a administração alheia. Só quem faz parte da administração, sabe da real necessidade. Mas nessa hora fica a questão: como administrar a verba mesmo com contenção de despesas? O que cortar? O que deixar acessível?

Nessa hora, aqueles que lidam diariamente com o ‘jeitinho brasileiro’ de conviver muitas vezes, com menos de um salário mínimo, saberá do que estou aqui tentando dizer.

Dizer: ‘…estão querendo nos calar...; …nos impedir de exercer a cultura…, …nos tirando os livros e colocando armas…, …impedindo de aprender…, …acham que somos máquinas…, …querem nos imbecializar…’; são jargões válidos num momento de revolta em que o país está enfrentando. Mas será que não podemos fazer diferente diante do que temos?

Por quê fechar a biblioteca e cortar o projeto de empréstimos de livros, se é exatamente a leitura que leva ao conhecimento?

Por quê não podemos sacrificar momentaneamente, outros setores, ou tentar balancear as despesas, para nem todos saírem perdendo?

Cortar o mal pela raiz, as vezes não é a solução. Estamos fadados a seguir ordem do Estado e a se revoltar diante de uma militância as vezes desnecessária.

Podemos fazer diferença. Mostrar que temos a habilidade de administrar com pouco, para que no muito, podermos fazer mais pela educação e pela cultura. Para tanto temos também que saber ceder. Mas tudo pode ser feito, desde que não ‘mexam no meu alto salário’. Vamos mudar o Brasil, mas sem abrir mão do alto padrão de alguns cargos hierárquicos.

Não podemos perpetuar essa cultura de ódio que emana na população brasileira, dividindo a raça humana em cores, sexo, classe econômica e partido político.

Será que é utopia minha ver que, com senso de humanidade e espiritualidade, podemos fazer sim a diferença no mundo?

Particularmente, ver meu filho se deleitar nos livros da biblioteca do CCBN, é muito gratificante. Trazer um livro pra casa e poder sair por alguns minutos da bolha das redes sociais é prazeroso. Ver tudo isso se esvaindo por orgulho de poucos que não sabe dividir, se dar, abrir mão de alguma coisa pra ver a cultura nascer da raiz dos olhos e mentes das crianças que frequentam a biblioteca, é revoltante. Nessas horas é que pergunto: de que adianta ‘conhecer a verdade’ se ela só consegue libertar uma pequena parcela da sociedade? Seremos sucumbidos pela ambição alheia? Pensem bem.


terça-feira, 2 de julho de 2019

Cícero – A anarquia de um corpo santo

Padre Cícero é o personagem com o qual  Samir Murad encerra sua bem-sucedida  trilogia de solos. A montagem, com direção de Daniel Dias da Silva, estreia  dia 05 de Julho no Maria Clara Machado
O Brasil tem na figura de Padre Cícero (1844-1934) um exemplo de dedicação à fé cristã. No Nordeste, onde ficou conhecido como “padim Ciço”, o sacerdote ganhou uma dimensão ainda maior, sendo venerado até hoje (sua estátua em Juazeiro do Norte é um exemplo disso). Por trás de cada mito há a figura humana. No caso de Cícero, o indivíduo Cícero Romão Batista, nascido no Crato, Ceará. Esse homem, com suas angústias, idiossincrasias e características que o marcaram é a figura central de “Cícero – A anarquia de um corpo santo”, novo solo do ator Samir Murad. O espetáculo, escrito e idealizado pelo próprio ator, encerra a trilogia sobre Teatro, Vida e Genealogia, iniciada em 2001 com “Para acabar de vez com o julgamento de Artaud” (escolhido um dos dez melhores espetáculos daquele ano pela crítica Bárbara Heliodora) e continuada com “Édipo e seus duplos” (2008). Em ambos, o trabalho físico do ator foi uma ferramenta de suma importância para contar as histórias. E isso ainda é latente em “Cícero – A anarquia de um corpo santo”, espetáculo com direção de Daniel Dias da Silva que estreia no dia 05 de julho, no Teatro Municipal Maria Clara Machado, na Gávea, onde cumpre temporada até o dia 28 do mesmo mês.

Samir Murad tem nos desígnios de Antonin Artaud (1896-1948) um norte para seu trabalho de ator. Murad parte do princípio de que o ator é o principal construtor da cena. De pé sobre uma extensa passadeira, que lhe serve de cenário, ele está sozinho em cena. Sozinho em  termos… Ele usa de seu corpo e voz para nos mostrar esse Cícero que está nos estertores de sua vida, já com a visão debilitada e sofrendo das agruras intestinais. Esse é o ponto de partida da trama, na qual diferentes relatos e narrativas (alguns cantados como ladainhas) são minuciosamente costurados como nas tramas de uma bordadeira.

E por essas veredas passam personagens da história de Cícero – real ou onírica. E aqui cabe uma explicação importante: Cícero (ante)viu, através dos sonhos, acontecimentos que acabaram por direcionar os rumos de sua vida e que, alguns deles, marcaram a história do próprio país – como a visão da deposição da Família Real Brasileira 20 anos antes de ela ocorrer de fato.

Como já dito, Samir Murad não está só. E empresta corpo e voz a diferentes nomes que passaram pela vida de Cícero. Cada um deles com uma dinâmica, um timbre, uma composição. Há desde personagens históricos como Jesus Cristo – que, em sonho, pede a Cícero para olhar por aquele povo do Nordeste – a Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Há também figuras cruciais na vida do personagem como o médico Floro Bartolomeu, seu amigo; o pai, Joaquim Romão Batista, fundamental para sua ordenação (ele, que morrera vitimado pela cólera, alerta o filho, num sonho, para retomar seus estudos) e, claro, a beata Maria Madalena de Araújo, com quem ocorreu o que ficou conhecido como o “Milagre da hóstia” – o que propagou a fama de milagreiro do padre.

E, assim, Samir Murad descortina o mito para revelar o homem. Sem se ater a didatismos ou estereótipos. Longe de dogmas, mas munindo-se de conceitos de outras crenças e filosofias como o budismo e o islamismo. E encontra nos recursos de luz e nos poucos objetos de cena ferramentas para compor seu retrato. O figurino alude à batina ao mesmo tempo em que remete ao traje de um samurai. É do Japão que vem, aliás, outra referência importante para o ator: o Butô, mistura tradicional entre teatro e dança.

Nesses tempos em que homens são alçados a mitos num piscar de olhos (na política ou na indústria do entretenimento), Samir Murad faz o caminho inverso: sai do mito para buscar (e encontrar) o homem. E mostra, com isso, que o Brasil é algo ainda possível.

Ficha técnica:
Criação,texto e atuação:Samir Murad
Direção:Daniel Dias da Silva
Cenário e Figurino: Karlla de Luca
Desenho de luz: Felício Mafra (Russinho)
Trilha sonora: André Poyart
Preparação Vocal: Breno Pizzorn
Projeto Gráfico: Redson Pereira
Fotos: Fernando Valle
Produção Executiva:Wagner Uchoa
Mídias sociais e apoio de produção: Muna Omran
Costureira: Maria Helena
Realização: Cia. Cambaleei, mas não caí…

Serviço:
Temporada: de 05 a 28 de julho
Dias e horários: sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h
Onde: Teatro Municipal Maria Clara Machado Machado (Av. Padre Leonel Franca, 240, Gávea. Tel: 2274-7722)
Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)
Duração: 70 minutos
Classificação: 14 anos