terça-feira, 30 de maio de 2023

Projeto de Criação de centros de assistência Integral a pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

 Um processo educativo sobre a necessidade da luta por direitos. É essa a expectativa da assistente social, cearense,  Irene Jucá, de 50 anos, caso a ideia legislativa apresentada por ela, em 2017, seja aprovada no Congresso Nacional e transformada em legislação.

Legenda: Autora da ideia legislativa, Irene Jucá é mãe de Letícia, diagnosticada com autismo; na foto, elas estão junto com Judas Tadeu, pai de Letícia

Foto: Ismael Soares
A proposta – assinada por ela, mas criada a muitas mãos – prevê a obrigatoriedade de criação de centros de assistência integral a pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Sistema Único de Saúde (SUS).

Algo que, ao ser efetivado, pode representar uma melhoria na qualidade de vida de crianças e adultos com autismo, mas também de cuidadores e, principalmente, cuidadoras, já que, Irene enfatiza, este papel é majoritariamente ocupado pelas mães.

 fonte: diariodonordeste  #cearense #lei #proposta #Ceará #DiáriodoNordeste #dn

segunda-feira, 29 de maio de 2023

O QUE JUAZEIRO DO NORTE PRECISA . Texto do professor Tiago Pereira

 


O debate sobre a eleição municipal de 2024 em Juazeiro do Norte foi antecipado pelo conjunto dos circuitos políticos tradicionais e por grande parte dos meios de comunicação. Tenho dito que, até agora tudo tem sido mais do mesmo, só apresentações de pretensos nomes concorrentes ao poder executivo, projeções que deixam muito claro que a primeira preocupação é com os projetos pessoais de poder. E essa forma de apresentar o debate sobre as eleições acaba sendo transmitido para a população como se a simples substituição ou permanência das figuras eleitas fosse a solução que nossa cidade carece, limitando o papel do cidadão simplesmente ao dia de votar. 

Muito mais do que escolher um novo prefeito ou prefeita e mudarmos o conteúdo da câmara de vereadores, precisamos mudar é a forma de fazer política em nossa cidade, radicalizar a democracia, fazer com que os cidadão juazeirenses participem ativamente da construção das respostas que tanto necessitamos para uma cidade melhor. Para mudarmos a realidade política local defendo a criação do Sistema Municipal de Participação Cidadã, um conjunto de iniciativas que garantirá a efetiva e permanente ação de controle do povo sobre os recursos e a qualidade dos serviços públicos, o que aos poucos ajudará na formação de uma nova cultura política imune ao clientelismo vulgar e a compra e venda de votos.

Entre os elementos do sistema municipal de participação cidadã  destaco os seguintes instrumentos:

1- Orçamento Participativo: 

A partir de um amplo processo de divulgação, formação e encontros permanentes a população tomará conhecimento da situação das finanças municipal, conhecerá a força das receitas e acompanhará com toda transparência a destinação dos recursos públicos, elencando as prioridades onde devem ser investido o dinheiro público. O Orçamento Participativo será executado pelo Conselho Municipal de Administração formado por representantes dos conselhos populares dos bairros e localidades rurais. O Conselho Municipal de Administração também acompanhará as obras estruturantes do município.

2- Conselhos Populares:

Em cada bairro e localidade rural da nossa cidade serão formados os conselhos populares, que terão a finalidade de acompanhar, avaliar e propor os serviços públicos do território. Cada conselho apresentará as prioridades de cada bairro ou localidade rural, essas prioridades formarão o plano de ações do governo,  que atenderá as reinvindicações propostas conforme a capacidade financeira.  Assim o governo realizará o que é o desejo da comunidade e não mais a mera vontade pessoal do gestor. Os conselhos populares serão um braço auxiliar do poder legislativo nas atividades de fiscalização e sugestão de leis.

3- Escola Municipal de Gestão:

A criação da escola municipal de gestão terá como objetivo a formação permanente dos servidores públicos municipais de todas secretarias, fundações e autarquias, garantindo assim a valorização dos servidores e o aperfeiçoamento constante dos serviços públicos. 

4- Fortalecimento dos conselhos setoriais:

Todas as políticas públicas precisam ter o controle social como força ativa para seu sucesso. Para garantimos o bom funcionamento dos conselhos precisamos instalar a Casa dos Conselhos, um espaço estruturado para realização das reuniões, debates e formações continuadas para os membros dos conselhos municipais e aberta ao acompanhamento público. Somente com conselhos fortes e estruturados podemos ter os planos de cada política pública em concordância com as necessidade dos  territórios e da nossa população. 

Somente com a incorporação da participação cidadã como método de gestão é que podemos aprofundar nossos conhecimentos sobre a realidade local, demandas e necessidades das pessoas. Envolver as pessoas na construção de soluções é a maneira mais segura para a superação das deformações e vícios políticos. Acredito que esses elementos somados a outros podem nos ajudar no fortalecimento da democracia e no desenvolvimento de uma cidade mais justa e sustentável. Você se contenta só em votar? Gostaria de ser ouvido sobre o que pensa para seu bairro? Quantas vezes você participou da construção de soluções para algum problema da coletividade? 

Está na hora de debatermos ideias, ouvindo as pessoas, e não apenas nomes.

Professor Tiago Pereira.

FONTE: Colesocialista.blogspot.com/2023



sábado, 27 de maio de 2023

Barbalha divulga programação da Festa de Santo Antônio 2023

 


A Prefeitura de Barbalha divulgou na manhã desta quarta-feira (3), toda a programação da Festa de Santo Antônio de 2023, desde o pré-pau até o dia de Santo Antônio, comemorado em 13 de junho. Artistas locais e nomes renomados no país se apresentarão na festa que abre os festejos juninos do Brasil.

Na noite das Solteironas, 3 de junho, duas atrações foram confirmadas. Fábio Carneirinho e João Cláudio Moreno estarão no palco.

Já no dia do Pau da Bandeira, 4 de junho, serão disponibilizados três palcos, como de costume.  Eles estarão localizados no Marco Zero, no Largo do Rosário e na praça da Estação.

Veja a programação completa:

04/06 – DOMINGO – ABERTURA DOS FESTEJOS
• 5H – ALVORADA FESTIVA
• 9H – CELEBRAÇÃO DA SANTA MISSA NA IGREJA MATRIZ DE SANTO
ANTÔNIO
• 11H – DESFILE DOS GRUPOS FOLCLÓRICOS NO CORREDOR CULTURAL
NA RUA DO VÍDEO ATÉ O LARGO DO ROSÁRIO
• 14H – INICIO DAS APRESENTAÇÕES ARTISTICAS

PALCO 01 – LARGO DO ROSÁRIO
D’ DO NORTE
ÍTALO QUEIROZ
ALCIMAR MONTEIRO
ELBA RAMALHO

PALCO 02 – PRAÇA ENGENHEIRO DORIA (PRAÇA DA ESTAÇÃO)
MANINHO E BANDA
WALDONYS
JORGE DE ALTINO

PALCO 03 – MARCO ZERO
FORRÓ TAPERA
JOÃOZINHO DO EXU
LUIZ FIDELIS
SANTANAA O CANTADOR

DIA 07/06 – QUARTA DO FORRÓ
• 20H – LARGO DO ROSÁRIO
WAWÁ PINHO
AROLDINHO
TATY GIRL

DIA 12/06 – SEGUNDA-FEIRA / DIA DOS NAMORADOS
• 20H – LARGO DO ROSÁRIO PAULO BRENO
MARCELO E RAIAN BONDE DO BRASIL

DIA 12/06 – SEGUNDA-FEIRA / CASAMENTO COLETIVO DAS NOIVAS DE SANTO ANTÔNIO
• 15H – INICIO DO CORTEJO DOS NOIVOS, SAINDO DO LARGO DO ROSÁRIO ATÉ A IGREJA MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO
• 16H – INICIO DA CELEBRAÇÃO

DIA 13/06 – TERÇA-FEIRA / DIA DE SANTO ANTÔNIO
• 9H – MISSA DE ENCERRAMENTO NA IGREJA MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO
• 16H – PROCISSÃO DE ENCERRAMENTO SAINDO DA CASA DE MARCIANO TELES DUARTE, AV. PAULO MAURICIO, CENTRO.
• 19H – SHOW RELIGIOSO NO SANTUÁRIO DE SANTO ANTÔNIO PADRE FÁBIO DE MELO

DIA 16 E 17/06 – SEXTA E SÁBADO
• FESTIVAL DE QUADRILHAS
LOCAL: QUADRA DO COMPLEXO MAIS INFÂNCIA, VILA SANTO ANTÔNIO

fonte:www.badalo.com.br

 

Concurso público para professor do magistério superior na UFCA

 


A Universidade Federal do Cariri (UFCA) publicou na última quinta-feira, 25 de maio de 2023, o Edital 38/2023 referente às inscrições para o concurso público para professor do magistério superior na Instituição. O edital é de responsabilidade da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progep/UFCA). 

O concurso dispõe de uma vaga para o setor de estudo “Clínica Médica/Urgências Médicas/Semiologia” e o professor selecionado vai atuar na Faculdade de Medicina (Famed/UFCA), no campus Barbalha. 

Para participar do certame, os interessados devem ter graduação em Medicina e residência em “Clínica Médica” ou “Medicina de Emergência”. As inscrições podem ser realizadas, por meio da plataforma Forms/UFCA (Edital 38/2023 – formulário de inscrição), entre os dias 29 de maio e 16 de junho de 2023. 

O vencimento básico, somado à retribuição por titulação e o auxílio alimentação, é de R$ 3.010,35. O valor da taxa de inscrição é de R$ 75,00.  Outras informações podem ser obtidas por meio do endereço eletrônico concursos.progep@ufca.edu.br.  Serviço Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas concursos.progep@ufca.edu.br Fonte: https://ufca.edu.br

NÃO ESPERE PELA MORTE PARA DIZER “EU TE AMO” OU OFERECER FLORES - texto Dom Samuel Dantas ,OSB

 NÃO ESPERE PELA MORTE PARA DIZER “EU TE AMO” OU OFERECER FLORES

imagem: Pautilia Ferraz 

Desde muito jovem tenho a persistente mania de perguntar a mim mesmo qual é ou pode ser o sentido de determinadas coisas que acontecem neste mundo e com as quais vamos nos deparando ao longo de nosso sofrido jornadear aqui por estas bandas onde vivemos exilados por algum tempo. Tal mania, de tanto cultivá-la, acabou se tornando um hábito, uma como que extensão de minha personalidade, e hoje sou levado a crer que uma parte integrante de mim mesmo, e sem a qual eu  não seria exatamente quem sou.

Algumas destas esquisitices bizarras cujo significado tenho procurado, mas sem tê-lo até agora encontrado é o que as vezes sucede nas chamadas missas de corpo presente. Quando o extinto(a) era socialmente bem posicionado e tinha ocupado algum cargo prestigioso no teatro do mundo – um político famoso, um empresário endinheirado, um ator mundialmente conhecido, um jogador de futebol que se destacou nos gramados – nunca falta quem apareça para desfiar um rosário de elogios para o recém-finado(a), colocando-o ali mesmo em um pedestal de ouro, quando não convertendo-o em santo antes mesmo de a Igreja se pronunciar a respeito. Lá diz antigo ditado que quem morre vira santo de imediato, pelo menos na boca de muita gente.

Em muitos casos, o fulano ou a cicrana que em tais momentos de dor costumam aparecer assim do nada para discursar, exaltando as virtudes ou qualidades do morto, mostraram-se totalmente ausentes e despreocupados em relação a pessoa falecida quando ainda respirava e estava viva  entre nós, não tendo ido uma única vez ao seu encontro.

Eis aí o que a mim causa profunda estranheza quando estas coisas vejo: qual o sentido das palavras ali ditas, ainda que verdadeiras e saídas do fundo do coração, se a pessoa de quem se fala não está mais viva(pelo menos para este mundo) para ouvi-las? E se alguém me perguntasse em que me baseio para fazer tal afirmação, diria que na Bíblia. Mas suponhamos por um momento que a pessoa de quem se fala pudesse ouvir os louvores entoados sobre ela. Acaso ela não diria para si mesma: e por que ele(a) não me disse tudo isso enquanto eu estava lá? Geralmente quem diz maravilhas sobre a pessoa morta jamais disse nada a ela enquanto estava viva, pelo menos nada de semelhante ao que se diz em tais ocasiões, que para o defunto(a) aliás, não pode ter nenhuma significação já que não mais está ali para ouvi-las.

Eis o que me parece absolutamente incompreensível: quem nessas ocasiões lutuosas fala, tendo podido dizer tais coisas a pessoa de quem fala, enquanto ela estava viva e podia ouvi-lo, não as disse. Se a amava e a estimava de fato e de verdade, não teria sido mais sensato e razoável dizer-lhe isso enquanto estava viva? Agora que não mais está, agora que seus ouvidos para sempre foram cerrados, para que dizer? E o mais impressionante é que o “panegirista de finados”, que aparece nos momentos fúnebres, nunca ou quase nunca deu a mínima importância para a pessoa enquanto estava viva. Sabia que estava gravemente enfermo e não o visitou uma só vez; não ignorava que estava no hospital e lá jamais  pôs os pés. Sem contar que nunca sequer se deu ao trabalho de ligar para um parente próximo para solicitar informações sobre o estado de saúde da pessoa.  E se uma tal pessoa poderia alegar como desculpa em sua defesa que não tinha estômago para ver uma pessoa tão querida nas últimas, não poderia, todavia apresenta-la para não ter sequer ligado, coisa que também nunca fez. E todavia, o sujeito lá está na missa de corpo presente para discursar, justamente o tal que antes da morte esteve sempre ausente. Para que? Para quem? Com que propósito, pergunto eu.

As vezes não derrama uma lágrima, prova cabal da grande estima que tinha pelo morto...da autêntica e sincera amizade que lhe votava.

Contou-me uma distintíssima senhora de grandes virtudes que antes de falecer, seu esposo por várias vezes comunicou a um “amigo” o grave estado de saúde em que se encontrava não tendo nunca obtido uma resposta nem recebido uma só visita. Mas no dia da missa de corpo presente, lá estava a esquisita  figura falando sobre o morto, a quem não deu qualquer tipo de assistência moral ou espiritual enquanto estava vivo... 

Acontece ainda que em tais ocasiões o ridículo costuma entrar em cena, mesmo que o fazedor de discursos fúnebres disto não se aperceba. Ora, se é verdade tudo o que ele diz sobre o morto é inútil dizê-lo porque todos sabem; se é mentira, o sujeito se expõe aos risos e comentários dos presentes que sabem que tudo aquilo não passa de invenção imaginária.

Jamais me esqueço do que um padre disse certa feita em uma missa celebrada no dia dos pais: Não espere que quem você ama morra para lhe oferecer flores. Ofereça-as enquanto está vivo. E se pensarmos um pouquinho que seja, não é coisa muito mais razoável e racional depositarmos um lindo buque de flores nas mãos de quem amamos enquanto ainda está vivo do que o depositarmos em cima de um caixão ou inutiliza-lo depositando-o num buraco de sete palmos de terra?

Alguém escreveu: “Triste coisa o animal de duas pernas chamado ser humano.” Entre outras coisas talvez, porque só se resolve a dar flores a alguém quando a pessoa já não pode aspirar sua suave fragrância e dizer-lhe com um lindo sorriso: muito obrigado! 

colaborador : Dom Samuel Dantas, OSB

Dom Samuel(Émerson Dantas de Araújo), é natural de Mauriti- Ce. Monge professo solene de votos perpétuos do Mosteiro de São Bento da Bahia, Salvador. É licenciado em Filosofia e Bacharelado em Teologia pela antiga faculdade de São Bento da Bahia e mestre em Filosofia pela UFBA(universidade Federal da Bahia)


quinta-feira, 25 de maio de 2023

No aniversário da beata Maria de Araújo, devotos e estudiosos pedem mais protagonismo dela nos milagres atribuídos a Padre Cícero

 

No aniversário da beata Maria de Araújo, devotos e estudiosos pedem mais protagonismo dela nos milagres atribuídos a Padre Cícero
imagem:Pautilia Ferraz 


O dia 24 de maio marca o nascimento da beata, conhecida pelos episódios em que hóstias se transformaram em sangue. Movimento pede mais atenção à memória da mulher, que foi retratada historicamente como coadjuvante.



Os eventos da trajetória de uma mulher negra em um pequeno povoado do interior do Ceará levaram a uma forte devoção popular perpassada por controvérsias e centrada na figura do padre Cícero Romão Batista. Estudiosos e devotos defendem um olhar mais atento para a memória da beata Maria de Araújo, protagonista dos episódios em que as hóstias viraram sangue em sua boca.


No dia 24 de maio, discussões e eventos fazem memória à data do nascimento da beata, cuja imagem deve ser colocada ao lado do padre Cícero nas repartições públicas de Juazeiro do Norte que trazem a representação do “santo popular”. É o que prevê lei municipal aprovada em 2021 no município, situado na região do Cariri.


Na data de aniversário da beata, o g1 conversou com estudiosos sobre Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo e traz detalhes conhecidos sobre a vida da beata.


Início da vida de Maria de Araújo


O povoado de Joaseiro era um distrito do Crato, no Cariri cearense. Era o lugar que depois viraria a cidade de Juazeiro do Norte. No local, morava o casal Antônio da Silva Araújo e Ana Josefa do Sacramento, vinha de uma família pobre de negros e mestiços.

Não é possível precisar o ano em que Maria de Araújo nasceu, pois só foram encontrados os registros de nascimento dos seus onze irmãos, relata Fátima Pinho, historiadora e professora da Universidade Regional do Cariri (Urca). Por isso, a estimativa é que ela tenha nascido no dia 24 de maio entre os anos de 1861 e 1863.


Em uma carta de padre Cícero, ele relata que conheceu Maria ainda criança, quando ela tinha entre oito e dez anos. À época da primeira comunhão, o sacerdote percebeu na menina dotes especiais e se tornou um diretor espiritual. Assim, ela recebeu do sacerdote o conselho de dedicar a vida à religião.

Visões, estigmas pelo corpo e outros eventos espirituais já haviam sido relatados em dois jornais de Fortaleza, com notícias sobre uma “virgem piedosa”.


“Entre esse encontro do padre com a beata até a ocorrência do sangramento da hóstia, tem relatos de Maria de Araújo tendo êxtases, colóquios e manifestações místicas”, aponta Fátima Pinho.

Viagens espirituais, sonhos e profecias foram experiências relatadas pela própria beata nos depoimentos que ela daria à Igreja Católica anos depois.

"Milagres de Juazeiro"


Outro grande divulgador foi o padre Francisco Rodrigues Monteiro, reitor do Seminário do Crato. Acreditando no milagre, ele escreveu uma carta ao bispo diocesano do Ceará, dom Joaquim José Vieira, e organizou uma primeira romaria à casa da beata no mês de julho. Ele reuniu cerca de 3 mil pessoas neste primeiro momento, comenta a pesquisadora Dia Nobre.


Por dois anos, a Igreja não se manifestou publicamente sobre o assunto, enviando apenas cartas ao sacerdote e pedindo que ele não divulgasse os eventos.

Em 1891, outro evento repercutido na imprensa brasileira foi a declaração de um médico carioca que havia se mudado para o Crato. Após examinar a beata, ele afirmou que os fatos envolvendo Maria de Araújo eram extraordinários.


Periódicos de outros países também começam a divulgar cartas e testemunhos de pessoas que quiseram visitar a terra da “santa beata”.

É a partir deste ponto que a Diocese do Ceará busca ouvir o depoimento do padre Cícero pela primeira vez e declara que os acontecimentos de Juazeiro não são milagrosos.


Enquanto isso, as notícias continuaram a circular com esforços do jornalista José Marrocos. Na região, os relatos circulavam na oralidade, e a casa da beata virou ponto de peregrinação, assim como a casa do padre Cicero.


Mesmo sem o reconhecimento oficial, a população queria conhecer a cidade como “terra santa com um padre santo e uma santa virgem”.


As apurações oficiais


Uma comissão nomeada pela Igreja foi até o povoado. No período, a beata Maria de Araújo passa por uma série de exames médicos e interrogatórios, que se estendem aos padres, personalidades e outras beatas da região.


Descartados problemas mentais e físicos na beata, os eventos são chamados de extraordinários mais uma vez. A Igreja não aceita o relatório desta comissão, afirma a historiadora Fátima Pinho. Uma segunda comissão é nomeada pela diocese.

O inquérito liderado por um pároco de Quixeramobim teve métodos duvidosos, conforme a historiadora Dia Nobre.

 

“Ele prende a beata Maria de Araújo dentro da Casa de Caridade. Há relatos de que ele a deixou jejuando a pão e água, que ele a mantinha com a boca aberta por muitas horas, de joelhos nos milhos. Então tem aí uma tortura dessa mulher para que ela negasse os fenômenos ou dissesse que ela produzia esses fenômenos de forma falsa”, conta.

O resultado da segunda comissão diz que os eventos são um embuste. A reação é uma pressão popular e de parte do clero local.


Um padre da primeira comissão traduz os depoimentos colhidos para o italiano e envia a Roma. Ao mesmo tempo, o bispo à frente da Igreja no Ceará recorre ao Vaticano na esperança de uma solução que acabe com as romarias em devoção a Maria de Araújo.


Em posse dos depoimentos e inquéritos, um relatório da Congregação para a Doutrina da Fé, representando a Santa Sé, reafirma a negação dos milagres e pune os envolvidos: suspensão para os padres e isolamento social para a beata.

O papel do padre Cícero durante os processos foi de defesa da beata. Para Fátima Pinho, isso demonstra que ele teria sido o primeiro devoto das manifestações divinas em Maria de Araújo, se recusando a se retratar para reverter a punição determinada pela Igreja.


O caso de Maria de Araújo coincide com o período de “romanização” na Igreja, fruto das discussões do Concílio Vaticano I, de 1869 a 1870. Conforme Dia Nobre, a reforma buscava um afastamento das vivências místicas e práticas populares, nas quais os fiéis estabeleciam relações com as divindades sem a mediação da Igreja.


A historiadora relata ainda que um caso semelhante de sangramento da hóstia aconteceu no interior da França. A diferença seria que os fenômenos da beata Matilda não encontraram defensores no clero local, com um fim rápido das romarias e do culto à religiosa.


Um último comunicado da Santa Sé sobre o caso de Juazeiro foi em 1898, reiterando que a beata deveria ser afastada e que medalhas, orações e objetos de devoção a ela deveriam ser queimados.


Uma mulher vista como coadjuvante


Êxtases, colóquios divinos e aparição de estigmas no corpo foram sinais reconhecidos pela Igreja em casos de mulheres europeias, como a santa italiana Catarina de Sena.


A falta de reconhecimento da beata cearense é atribuída a ideias excludentes. Conforme Fátima Pinho, a frase de um padre que circulou na época dizia que Jesus jamais sairia da Europa para derramar seu sangue na boca de uma mulher pobre e feia.


“O fato acontecia num povoado do interior do Ceará, não era nem uma vila. Era uma mulher pobre, negra, analfabeta no final do século XIX, no país que tinha abolido a escravidão há pouco tempo. O padre Cícero vai ter uma repercussão muito maior, inclusive na imprensa. Era um homem branco dos olhinhos azuis”, compara a pesquisadora.


Nos anos iniciais, o povo das primeiras romarias tinham como figura central a beata Maria de Araújo e a devoção ao Sangue Precioso de Jesus, que brotava da hóstia e dos estigmas no corpo dela. A partir de 1892, as peregrinações voltaram o foco para Nossa Senhora das Dores.


Um elemento importante para que a memória da beata fosse esquecida foi uma proibição voltada aos leigos: eles só poderiam ter acesso à confissão e aos demais sacramentos se declarasse não acreditar nos milagres da beata.


“Naquele contexto, você dizer para o católico que ele não tem direito ao sacramento, é algo extremamente grave. O que estava em jogo era a vida após a morte, a salvação eterna. Isso vai contribuir para o esquecimento dela na memória local”, conta Dia Nobre.

 

Assim como no nascimento, os registros da morte de Maria não deixam certezas, com a informação apenas do nome e da data. Ela tinha saúde frágil e faleceu em 17 de janeiro de 1914, no contexto da Sedição de Juazeiro. O confronto armado entre as oligarquias cearenses e o Governo Federal resultou em invasões no Crato e no Juazeiro.

Em 1930, o túmulo de Maria de Araújo foi destruído. Segundo a historiadora, isto foi feito a mando do monsenhor José Alves de Lima, vigário local que não dispunha de autorização legal. Ficaram apenas restos do cabelo e o cordão de São Francisco, com o qual ela havia sido enterrada.


Um movimento pela memória da beata


Em 2004, uma campanha na região do Cariri espalhou um cartaz com a foto de Maria de Araújo e a mensagem “Procura-se”. O grupo de artistas chamava atenção para o fato de que, até hoje, o destino dos restos mortais da beata não é conhecido.

Os esforços para resgatar o protagonismo da beata na história começaram em 1989, com um simpósio que marcou o centenário dos milagres a ela atribuídos.


Atualmente, a figura histórica inspira celebrações nas datas que marcam o nascimento, a morte e o início dos milagres.


O Movimento pela Reabilitação da Memória da Beata Maria de Araújo se fortaleceu a partir de 2014, reunindo acadêmicos, artistas e grupos culturais interessados em ressaltar a importância da beata para todos os acontecimentos que transformaram Juazeiro do Norte em um destino de romeiros e manifestações da devoção popular.


Dentre as conquistas celebradas pelo grupo, está a lei municipal aprovada em 2021 no município de Juazeiro do Norte. A legislação torna obrigatório o uso da imagem de Maria de Araújo nos espaços das repartições públicas que já traziam imagens do padre Cícero. Assim, o padre e a beata devem ter representação com as mesmas dimensões.

Nesta quarta-feira (24), o aniversário da beata será comemorado com a sexta edição da Mostra Poemas para Maria. O objetivo é reunir a produção dos artistas locais em homenagem a ela. São selecionados 20 poemas, que ficam eternizados em um livro com edição física e digital.


O tema deste ano é “Maria de Araújo e as Marias de Juazeiro”. Concorrendo a uma premiação em dinheiro, os candidatos foram chamados a refletir sobre as mulheres invisibilizadas e silenciadas na região.


“O evento tem um lado artístico, mas também crítico e político, de pensar essa sociedade estruturada a partir do silenciamento das mulheres, tomando como base a vida de Maria de Araújo”, explica Roberto Viana, diretor do Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura de Juazeiro do Norte.


A celebração acontece a partir das 18 horas no auditório da Secretaria da Educação (Seduc). Além da recitação dos poemas selecionados, haverá um colóquio com a historiadora Dia Nobre e o corte do bolo de aniversário de Maria de Araújo.


fonte: g1.globo.com/ce/ceara/cariri/noticia/2023/05/24/no-aniversario-da-beata-maria-de-araujo-devotos-e-estudiosos-pedem