sábado, 15 de outubro de 2011


Lembrando guloseimas do meu tempo de criança
Um dia desses entrando no Santuário do Sagrado Coração de Jesus, pela Rua Santa Clara, me deparei, espalhadas no chão, com várias bages de tamarina (ou tamarindo), e logo enchi a boca de água, lembrando do azedinho que ela provoca quando colocada na boca. Ah! Infância. Na residência de dr. Feitosa, hoje a Policlínica de Juazeiro, tinha várias árvores desta fruta e caía de montão na calçada, a meninada aproveitava para apanhar e chupá-la. A língua ficava pelada de tanto chupar, tanto verdinha como madura. Hoje, já não faz parte do meu cardápio. A delícia das bolinhas de imburana que comprávamos na ruazinha estreita, chamada de beco de Catarina, localizado no início da Av. Dr. Floro, próximo da antiga Celca. Os filhós feitos na hora, no Mercado, logo na entrada do lado da Rua Alencar Peixoto, onde existiam uns boxes que ofereciam café, lanches, caldo de cana com pão. E o bolo de milho, feito em tabuleiros, cortado em pedaços e vendidos por um pequeno valor. Lembro que fazia questão de acompanhar Munda, que era nossa mãe de criação, quando diariamente ela ia comprar carne, verduras, frutas e com o troco ela comprava uma fatia do bolo (que fatia!), bem grande e me dava, não dividia com ninguém. O mel de engenho, no período da moagem passava por minha casa, um senhor com um bule grande carregando nas costas e na asa do bule um medidor, gritando: “Olha o mel, vai passando o mel”. Como era gostoso misturado com farinha, ou então, feito alfenim. Mamãe colocava no fogo para ferver e ficava mexendo até dar o ponto, depois colocava farinha nas mãos para puxar. Puxava para cima e para baixo, até obter o ponto ideal para preparar o cacho, formando uma flor. Arroz com leite e carne assada tinha um sabor inigualável. Tenho procurado em muitos lugares por onde ando, mas aquele gostinho que tinha o da casa da minha mãe, não encontrei até agora. O suco da cajarana, tirando a fruta do pé, dá muita saudade. De subir no pé de seriguela e tirar com a mão e chupar fresquinha, como era bom. O doce de laranja da terra, feito em casa com aquela calda bem grossa e os pedaços de cravo. E depois colocada no pires para degustar. É difícil de encontrar. O nego bom feito com banana e melado com açúcar e depois enrolado em papel celofone transparente. Sinto ainda o gosto. Das batidas temperadas e expostas na feira livre colocadas em cima de lonas sem nenhuma higiene, e nem fazia mal. O cavaco chinês, o vendedor avisando com o triângulo para chamar a atenção das crianças para que os pais comprassem o petisco. Uma iguaria que é encontrada hoje em nossa cidade é o bricelet, feito pelas monjas beneditinas do Mosteiro de Nossa Senhora da Vitória, localizado no bairro Betolândia, que é bem parecido com o cavaco chinês ou chegadinha. A tábua com muitos buraquinhos para colocar enfileirados os pirulitos. Feito com mel e enfiado num palito e enrolado em papel. Lembro de Inês, uma senhora baixinha, morena, que andava rua acima, rua abaixo, oferecendo os seus pirulitos. Quando colocado na boca ficava pregado nos dentes, era um Deus nos acuda para desgrudar. Um fato interessante aconteceu comigo, quando participava do CJC (Comunidade de Jovens Cristãos), agremiação criada pelos padres jesuítas, do Colégio Jesuítas, hoje é o local que funciona o Hospital Santo Inácio, que está encerrando suas atividades hospitalares, lá descobri o jatobá, uma fruta que é revestida de uma casca bem grossa de cor escura e dentro tem um caroço com um pó amarelo, gostei e comecei a comer, quanto mais comia mais vontade sentia, de repente, me deu um mal estar, náusea, tive que sentar para não cair. Fui socorrida com medicamento, acho que foi Alka-Seltzer, mas a experiência foi traumática, nunca mais quis ver mais o bendito jatobá. Lembram da broa de rapadura e de goma? Vez por outra encontro a de goma, mas não tem o mesmo sabor e nem a consistência da época da minha infância. A de rapadura não a tenho encontrado mais. O pirró feito de açúcar em vários formatos, coração, bolinha, chupeta, cachimbo, enfiado num pauzinho, sempre comprávamos na bodega de seu Cícero Lolô. O doce de goiaba com queijo, fazia parte da minha merenda da tarde. O cuscuz paulista que à tardinha passava um senhor com uma caixa gritando: vai passando o cuscuz paulista, quentinho. E a pipoca calhambeque, meninos e rapazinhos com uma cesta de arame amarrada com uma fita por cima do pescoço era vendido em vários pontos da cidade. E o quebra-queixo, era vendido nas ruas por senhores, colocado numa forma retangular e cobria-se com um plástico levando-a na cabeça, e no ombro colocava-se um pequeno cavalete para atender o freguês na hora de comprar, pegava uma espátula e um pedaço de papel e enrolava o quebra-queixo. Hoje não encontramos mais esses vendedores, sumiram do mapa, ou então, a modernidade extinguiu esse produto das nossas ruas. O colchão de noiva, doce de coco queimado e uma parte branca feita com açúcar.
Assim... os tempos levaram comidas, merendas e frutas que já não vemos mais.  
 Para lembrar e encher a boca... hum!





COMENTÁRIO
A respeito da coluna anterior (sobre brinquedos de  infância) recebi de meu irmão, poeta Antonio Luiz de Macedo e Silva, o poema  que transcrevo abaixo:
CRIANÇA

Existe dentro de mim uma criança adormecida,
escondida no meu coração.
Nesta madrugada ela saltou do meu sonho,
devagarinho, como um passarinho
pra não me acordar.
Pegou a sua caixa de presente
e contente dirigiu-se à calçada,
onde a molecada animada
mostrava o que ganhara.
Recostou-se na amureta da varanda
e começou a observar as crianças.
"Só pode ser outra geração" - comentou.
Tomei a palavra e expliquei:
"Esta é a geração sanduiche,
refrigerante, maionese, catchup,.
hamburger, chesburger, bauru..."
Ela apenas balançou a cabeça.
Observou que cada uma das crianças
trazia aparelhos estranhos, nunca vistos...
Intervi outra vez:
"As crianças de hoje têm computador,
videogame, celular, internet..."
Ela meneou a cabeça com um olhar triste.
Na calçada abriu a sua caixa: pião,
peteca, bolas de gude, de ping-pong,
carrapetas, uma raia, corda para pular,
bandeirinhas, jogo de botões,
dominó... Quando elevou a cabeça
estava só em meio a risadas
que se perdiam no fim da rua.
Não entendeu nada.
Recolheu os brinquedos
sem revelar os segredos da decepção.
As lágrimas banhavam o seu rosto,
de desgosto e solidão.
Tomou a sua caixa,
abriu a porta da infância
e entrou no meu sonho.
Pouco tempo depois adormeceu...
Ainda ouvi suas palavras entrecortadas:
"Crianças que guardam no peito
adultos racionais. Esta criança não sou eu."

ALMacêdo

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