segunda-feira, 2 de maio de 2011

O HOMEM: PADRE ALENCAR PEIXOTO
Padre Alencar Peixoto. Em sua terra natal, Crato, padre Peixoto já atuando no jornalismo se envolve com a política, apoiando ativamente o coronel Antônio Luís no episódio da deposição do coronel Belém. Mas, curiosamente, em 1907, o intrépido Peixoto briga e rompe com Antônio Luís e, sem condições de viver em Crato, parte, sem permissão de seu bispo, para Juazeiro, onde foi encontrar abrigo na casa do Padre Cícero. O escritor José Peixoto Junior, no seu livro Padre Peixoto, intelectual, político, sacerdote refere-se a este episódio informando que Padre Peixoto “atritado com o vigário geral aceita convite do adoentado padre Ágio Moreira Maia para substituí-lo na capelania de Nossa Senhora das Dores, em Juazeiro. Substituição temporária. No dia 7 de agosto de 1907, o padre Alencar Peixoto muda-se para Juazeiro. Afirmam que não teve autorização superior para mudar-se. No dia 15 de agosto assume o lugar de capelão temporário e, com o falecimento do padre Ágio, a substituição definitiva.” Concretizada a independência de Juazeiro, contrariado por não ter sido indicado como o primeiro prefeito do recém-criado município, fechou o jornal O Rebate, rompeu amizade com Padre Cícero, tornando-se a partir daí seu mais ferrenho crítico. Escreveu o livro Joaseiro do Cariry em cujas páginas destila todo o seu veneno contra o Padre Cícero.



O FATO:

22 DE MAIO DE 1910. Na edição deste dia, O Rebate publica matéria culpando  Antônio Luís por tudo que tem havido contra Juazeiro, inclusive de aliciar cabras com donos de sítios para empastelarem o jornal, assassinarem o Pe. Peixoto e espingardearem o povo de Juazeiro. O certo é que naquele momento o Cariri estava vivendo um clima de inquietação. Lavras da Mangabeira e São Pedro (Caririaçu) haviam sofrido ataques e a culpa fora atribuída ao Coronel Antônio Luís. Para se prevenir, o município recebeu reforço militar enviado pelo governo estadual. O povoado de Juazeiro ficou em polvorosa, pois se temia que tal força militar fosse usada para atacá-lo. Por isso na edição desse dia O Rebate estampou em destaque o seguinte:
“... A força que aí vem sob o comando do Cap. Edmundo, unida à que já se acha no Crato, sob o capcioso pretexto de perseguir cangaceiros no Cariri, perfaz exatamente aquele número ambicionado de duzentas praças. Na ignorância do segredo, no meio da dúvida que tortura, enchendo-os de pavor e espanto, todos perguntam: Qual o fim que têm em mente os mandões do Crato com toda essa concentração de forças e cangaceiros? Acabar com os cangaceiros como eles, os tais mandões, propalam? Bater o 'fanatismo' do Juazeiro, como dizem outros? Derrotar os demais chefes do Cariri, como opinam geralmente todos? E o espírito público, mais que nunca, se debate angustiado no meio dessas conjecturas terríveis, aflitivas, lancinantes e desesperadoras. Acabar  com  os  cangaceiros? De quem? do Sr. Antônio Luís, que lançou mão deles e os confraternizou com a Polícia que amedronta o Crato? .... Acabar com o 'fanatismo'  do Juazeiro,  como por mais  de uma vez tentaram, mancomunados com certas   autoridades  eclesiásticas cujos nomes aparecerão mais tarde? Mas isto seria provocar uma revolução medonha que abalaria o País.  Demais, se o sentimento religioso que domina o povo do Juazeiro é tachado de fanatismo, mesmo assim não pode ser atacado, nem agredido, quando a Constituição do País admite todos os cultos e lhe dá garantia como no Piauí e ainda no Amazonas.  Derrotar os demais chefes do Cariri! Se a ocasião é  azada, porque  abusam da ausência do Exmo. Sr. Dr. Nogueira Accioly, e dispõem do Sr.  Belisário, não deixa por isso de acarretar com uma revolução tremenda que arrastará consigo os próprios régulos do Crato. Em todo caso, a hipótese que mais se acentua, e que ainda hoje os tais chefes do Crato consideram como mais viável, embora por impossíveis não chegam eles aos fins que desejam, os quais são derrotarem os coronéis Domingos Furtado, Antônio de Santana, João  Raimundo de  Macedo, José Inácio, etc., e apoderarem-se, depois,  das  célebres minas do Coxá". Previnam-se, portanto, enquanto é tempo, os demais chefes do Cariri! Alerta, povo do Cariri! que a guerra aí vem!”
A reação do Correio do Cariri foi imediata. Artigos desaforados qualificavam Juazeiro de “tapera”, “lugarejo retrógrado”, “corja de bandidos, assassinos e desordeiros”, “espécie de Sodoma ou Gomorra”, “terra clássica dos preguiçosos que ameaça de extermínio, de destruição, saques e roubos a cidade do Crato”. E mais, na rua exemplares do O Rebate foram rasgados pelos seus assinantes em sinal de protesto. Crato e Juazeiro estavam realmente em pé de guerra.

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