sexta-feira, 22 de outubro de 2021

91 Anos da violação do túmulo da Beata Maria de Araújo

 A HÓSTIA SE TRANSFORMOU EM SANGUE E O TEMPO DO SILÊNCIO ACABOU



“Juazeiro será a terra onde os pecadores irão se arrepender
e os justos irão perseverar”
(Beata Maria de Araújo)
Hoje são 22/10/2021. Há exatos 91 anos, em 22/10/1930, o túmulo de Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo, Beata Maria de Araújo, foi violado e o que sobrou dos seus restos mortais foi recolhido pelo Padre Cícero e registrado em cartório, como documento particular assinado pelo Padre Cícero Romão Batista, com os seguintes termos: “Neste vidro devidamente lacrado se acha tudo que encontrou-se nos despojos mortais da Beata Maria de Araújo, quando em 22.10.1930 foi o seu túmulo aberto clandestinamente por ordem do Revmo. vigário desta cidade Monsenhor José Alves de Lima”.

A Beata Maria de Araújo dedicou sua vida à fé cristã, foi tão íntima de Cristo que transcendeu e apresentou em seu corpo os estigmas do crucificado e levitou no êxtase da fé; como mulher juazeirense com traços negros e indígenas, protagonizou o mais importante fenômeno do seu tempo: as transformação da hóstia em sangue, pelo qual enfrentou todos os preconceitos e perseguições do seu tempo. Portanto, além de uma mística religiosa, é hoje, também símbolo da consciência negra e indígena e mártir do povo de Juazeiro, nordestino e brasileiro.

As autoridades da Igreja Católica do final do século XIX não aceitaram o Milagre da Hóstia e fizeram um conjunto de ações com o objetivo de apagar a memória da Beata Maria de Araújo e a devoção popular, o catolicismo miscigenado que surgiu em Juazeiro, oriundo da identificação dos sertanejos, negros, índios, caboclos e brancos pobres que chegaram nas romarias para reverenciar a Santa Beata Maria de Araújo de Juazeiro, a Beata do Milagre.

A igreja começou proibindo falar do milagre, classificou o fato como embuste, proibiu o Padre Cícero de atuar como padre, suspendendo-o de suas ordens, enclausurou a Beata, prendeu a Beata, sob severa vigília clerical. Ela morreu enclausurada e em silêncio em 1914. Esse silêncio foi imposto através do medo da excomunhão. Era proibido falar do milagre. O padre Cícero, em obediência à Igreja, resolveu silenciar e pediu que os devotos e devotas também silenciassem. Portanto, as devotas e devotos da Santa Beata Maria de Araújo a veneraram em silêncio por mais de cem anos. Mas agora o tempo do silêncio acabou.

Com a morte da Beata Maria de Araújo em 1914, seu corpo foi sepultado na Capela do Socorro. Seu túmulo era um local de visitas dos romeiros e romeiras que visitavam o Juazeiro para venerar a Santa Beata Maria de Araújo e ouvir os conselhos do Padrinho Cícero, o padrinho conselheiro de milhares de nordestinos que vinham pedir solução para os mais variados problemas sociais daquele tempo: fome, orfandade, violência, desemprego. A igreja do Socorro precisava ser benta pelo bispo, então, em 22 de outubro de 1930 o vigário do Juazeiro, Monsenhor José Alves de Lima resolveu destruir o túmulo da Beata Maria de Araújo para que capela ficasse pronta para o bispo Dom Quintino benzer.
O fato é que, 91 anos após este acontecimento, não se sabe onde estão seus restos mortais.

Portanto, os devotos e devotas da atualidade e o povo de Juazeiro querem saber: Onde está Maria de Araújo? A memória desta mulher, seu papel na história é patrimônio material e imaterial da cidade. Portanto, reivindicamos um posicionamento da Igreja sobre tais fatos. E das autoridades da cidade, reivindicamos medidas concretas de salvaguarda da memória da Santa Beata Maria de Araújo. O Padre Cícero, em sua grande sabedoria, dizia que chegaria o tempo de falar abertamente sobre o Milagre de Juazeiro. O tempo do silêncio acabou. Esse tempo chegou.
Movimento pela Reabilitação da Memória da Beata Maria de Araújo

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