sábado, 16 de abril de 2011


A subida à serra do Horto na Semana Santa
 Na minha época de criança subir ao Horto na Sexta-feira Santa era uma alegria tão grande que nos deixavam quase uma semana só planejando, sonhando, isto porque não fazíamos passeios constantes, era uma raridade um passeio ao Caldas, mas a subida ao Horto era sagrada, na companhia de Munda, Babá, Nina e outros vizinhos. O passeio se resumia apenas até à subida, não demorávamos muito, tínhamos direito a tomar água, comprar alguma merenda, visitar a capela, fazer as orações, ficar por um tempinho debaixo do pé de tambor, árvore centenária que os antigos consideravam sagrada e já descíamos. Mas mesmo assim era gostoso, apreciar o movimento de pessoas subindo e descendo, o vai e vem parecia um formigueiro. Lembro de um episódio que causou o maior alvoroço. Aconteceu em um desses anos que fiz esse passeio, um menino quis dar uma de Tarzan e ficou pulando de galho em galho, tinha muitas árvores, umbuzeiro, pé de cajarana, macaúba e nessa brincadeira ele escorregou e se desequilibrou caindo ao chão  em cima do braço, e não deu outra, fraturou o braço, tiveram que improvisar uma tipóia e desceram com ele para engessar o braço e acabou para ele e os companheiros o dia divertido. Na faixa de idade de 14 para 15 anos a subida já tinha um gostinho de aventura, passávamos a semana toda planejando o que levaríamos para comer, a roupa que usaríamos (calça comprida para mulher era difícil ser usada), vestidos, saias e blusas eram o comum naqueles tempos. Acompanhada das amigas e dos irmãos subíamos na quinta-feira à noite para apreciarmos a beleza e o encanto da lua cheia e na sexta-feira íamos bem cedinho para passarmos o dia. A alegria era contagiante. O sentido era de piquenique e não de penitência e mortificação. A folia animada subia com entusiasmo, passava na pedra do joelho de Nossa Senhora (é uma pedra que tem um orifício e às pessoas acreditam que  Nossa Senhora se ajoelhou nela e ficou marcado o seu joelho) e seguia em frente até chegar ao alto da colina. Já bem próxima da chegada o rosto coberto de suor do esforço, não havia desânimo, a vontade era de chegar e sentar um pouco, descansar as pernas e depois visitar os atrativos do local, como as muralhas da  Guerra de 14,  fazer as orações na capela, sentar nas pedras e ficar observando todo movimento. Correndo de vez em quando um ventinho e aliviando o calor pelo sol causticante, este ventinho era oriundo do local por localizar-se na serra e assim nos tirava todo enfado da caminhada. No local redes armadas nas árvores, toalhas estendidas no chão com panelas em cima (a comida feita trazida de casa), pratos, colheres e copos  e as pessoas sentadas ao redor. A visão era de um piquenique. Sem contar que era o momento de rever amigos, da troca de olhares para uma aproximação e depois o namoro. Ao se aproximar à tardinha a tristeza chegava nos fazendo lembrar que estava na hora de voltar e que só no próximo ano este passeio tão salutar aconteceria novamente, deixando-nos saudosos por este dia tão especial. Em outros anos quando o inverno ocorria bem rigoroso e na Semana Santa ainda estava chovendo o gosto da subida era diferente porque o acesso ao Horto se tornava bem difícil. No trecho conhecido como Areia grossa, após o rio Salgadinho, a lama tomava conta próximo à plantação de avelós que era como um corredor margeando a estrada. Vi muitas pessoas escorregando e outras conduzindo um pedaço de pau para se apóias e assim evitar a queda. A chuva incomodava não nos deixando ficar por muito tempo. Nestes tempos idos a ética, o respeito, a disciplina existiam em nossa Juazeiro. O som alto, a canalhice, a bagunça, bebedeiras, roupas impróprias não encontrávamos neste local que é considerado sagrado. E as famílias, crianças, jovens, idosos não tinham o mínimo temor em visitar o Horto na Semana Santa.  
Nas fotos abaixo mostro uma sequência de fotos de alguns locais citados no texto.
 A capelinha construída em baixo do pé de Tambor e pessoas no Horto
 A pedra do joelho de Nossa Senhora e o início da Areia grossa vendo o Cruzeiro do Século (hoje inexistente)
 Uma pequena parte das muralhas da guerra de 14
Uma foto do meu arquivo onde são vistos: um rapaz da família de seu João Lopes (da extinta Casa das Rendas), cujo nome não recordo, eu, minha irmã Analuce, minha irmã  Regina e a amiga (falecida) Aguinailde em foto da época.

E-MAIL RECEBIDO
Prima querida,como é bom sempre saber noticias suas através da sua coluna. tantas recordações maravilhosas você  proporciona a todos nós. Parabéns pela sua iniciativa.
 Margarida Fernandes, Fortaleza, Ceará
RESPOSTA: Obrigada, prima, por tê-la como leitora e divulgue a Coluna entre suas amigas e parentes.
RETIFICAÇÃO:
Na coluna da semana passada falei o nome do programa apresentado por José Carlos Pimentel, "As dez mais elegantes da semana" e o dia que era apresentado, merece retificações, de acordo do mentor da ideia, o nome do programa "as dez mais da semana" e o horário, domingo, as 10h. Foram também lembrados mais alguns nomes que faziam parte da lista: Vera Menezes (na época funcionária do Banco da Bahia), Fátima Barbosa, Marilac Fernandes, Zeina (uma jovem de Manaus que morava aqui), Auxiliadora Almeida.
Até breve e uma Feliz Semana Santa!  

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