quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Chamas da Fé

Ninguém sabe a data exata do início da Romaria das Candeias em Juazeiro do Norte. Segundo contam os biógrafos do Padre Cícero tudo começou quando um romeiro veio a Juazeiro e foi pedir orientação. Como ele disse que era artesão, então o padre pediu que ele ficasse aqui e fizesse candeeiro. O romeiro seguiu o conselho, começou a fabricar, mas nada de vender. Sua produção já estava muito grande e ele foi informar a Padre Cícero, pois tinha feito muito candeeiro, contudo, não havia conseguido vender nenhum. O padre disse que ele continuasse a fazer e não se preocupasse. Depois de algum tempo, numa de suas pregações aos romeiros e moradores do povoado, Padre Cícero pediu que todos comprassem candeeiro para fazer uma bonita procissão das Candeias. E assim o artesão vendeu tudo.
Histórias e lendas fazem parte da rica cultura popular desta cidade. De concreto sabemos que atualmente as Candeias se constituem numa das três grandes romarias, ao lado da Padroeira e de Finados. São milhares de pessoas oriundas de todo o Nordeste, as quais percorrem centenas de quilômetros espontaneamente, todas motivadas em pisar neste solo considerado sagrado e obter ou agradecer as bênçãos de seu padrinho. O ponto alto da Romaria das Candeias é sua procissão de velas, verdadeiro espetáculo da fé, a mais pura manifestação popular, apoteose de luzes a qual traduz todo o misticismo e devoção desta nação romeira.
Na procissão de velas cada chama representa uma esperança, seja por tempos chuvosos com consequente boa colheita, seja por dias melhores com menos violência, ou mesmo por um pedido particular de cura. São as chamas da fé deste povo simples e humilde, mas que em conjunto simboliza este gigante Juazeiro do Norte.
Também durante a procissão podemos ouvir a canção popular das romarias, marca registrada de Juazeiro, a qual é entoada pela multidão num coral emocionante. Canção que também ganhou o mundo através do filme Central do Brasil.
Ninguém poderia imaginar que um milagre protagonizado por uma costureira negra e pobre, a beata Maria de Araújo, e por um padre de um pequeno vilarejo fosse estopim de tamanha manifestação popular, que muitos tentam explicar, mas poucos obtêm êxito.
Não há explicação, é tudo sentimento. É ouvir a multidão cantar os versos “Bendita e louvada seja a luz” e “Nos caminhos de Juazeiro nunca ninguém se perdeu” e apenas se emocionar. Esta é a essência. Isto é Juazeiro do Norte.

*Texto elaborado com a colaboração do historiador Daniel Walker.

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