sábado, 30 de outubro de 2010


OS ATOS FINAIS E A LEI 1028.Ao celebrarmos o Centenário do Município de Juazeiro do Norte é inevitável que nos lembremos de muitos nomes de pessoas que por seus cargos e funções, mas também pela sua cidadania, estiveram à frente do movimento, especialmente entre 1909 e 1911. Na esfera do poder, os atos finais foram a proclamação da Lei 1028, através da aprovação na Assembleia Legislativa e sanção pelo chefe do Governo Estadual. Quatro pessoas nestas duas instâncias foram as mais importantes: os deputados estaduais Floro Bartholomeu da Costa e Belisário Cícero Alexandrino (Floro era o representante legal da proposta da sociedade juazeirense e Belisário era o presidente do poder legislativo); Antonio Pinto Nogueira Accioly e José Lino da Justa (Accioly era o Presidente do Estado do Ceará e José Lino da Justa era o seu Secretário de Interior).

Floro Bartholomeu da Costa era natural da Bahia, faleceu a 08.03.1926, no Rio de Janeiro (RJ), com as honras de General do Exército. Médico. Clinicou, durante muito tempo, nos sertões de seu estado natal. Em 1908 veio para Juazeiro do Norte (CE), atraído pela fama das minas da área do Coxá. Foi um dos defensores do Padre Cícero, na questão judiciária que este moveu contra outros pretendentes às referidas minas. Dr. Floro, com seu tato e inteligência foi o orientador político do Padre Cícero, quando este se envolveu nas malhas da política partidária. Foi o único que soube inspirar-lhe absoluta confiança. Os diretores do Partido Republicano Conservador, do Rio de Janeiro, encontraram nele o Chefe supremo da rebelião de Juazeiro. Ao chegar ao Cariri, o Dr. Floro era amável, conversador, gostava de contar e ouvir boas anedotas. Com as lutas, foi aos poucos se transformando, até tornar-se extremamente irascível. Rompeu com o Presidente Franco Rabelo, e convocou a Assembleia Legislativa, instalando-a em Juazeiro e elegendo-se seu presidente, fazendo-se reconhecer como Chefe do Governo; depois, marchando sobre a capital, de vitória em vitória, chegou à intervenção federal. A façanha aumentou-lhe o prestígio, que só declinou um pouco no governo do Coronel Benjamim Barroso, com quem também rompeu, mas sem resultado político prático. Foi eleito Deputado Federal em mais de uma legislatura, pronunciando na Câmara diversos discursos de caráter político, em defesa do Padre Cícero, enfeixando-os em volume. Desde que voltou ao Ceará, os seus dias estavam contados, pois ele não era mais aquele homem tranqüilo, porém forte, de palavra serena e veemente na tribuna. Transformou¬se, outrossim, numa pilha de nervos. Por ocasião da marcha da Coluna Prestes pelo Nordeste, ele foi incumbido pelo Governo Federal de defender o sul do Ceará, e, seu papel, bem ou mal desempenhado, evitou a invasão do Cariri pelos revoltosos. Naquele tempo, todos foram testemunhas do quanto a fama de Juazeiro do Norte calou no ânimo de Carlos Prestes e seus companheiros. Obteve como recompensa, por este feito, as honras de General do Exército, com as quais morreu.

Belisário Cícero Alexandrino era filho de Francisco José Alexandrino e de Rita Alexandrino. Nasceu a 20.04.1845, em Icó (CE), e faleceu em Fortaleza. Advogado. Fixou residência na então Vila da Telha, hoje Iguatu (CE), em 1856, com a família, dedicando-se à profissão de advogado (1865), provisionando-se em 1872 pela Relação de Pernambuco. Foi Promotor de Justiça; Delegado de Higiene; Inspetor Escolar; Vereador; Presidente da Câmara; Intendente; Tenente-coronel do 44º Batalhão de Infantaria de Iguatu (CE), da Guarda Nacional. Com a extinção desse, foi nomeado Coronel Comandante da 8ª Brigada. Presidiu a Assembléia no antigo regime (de 1900 a 1912), sendo incontestavelmente notável a sua atuação na tribuna parlamentar, principalmente no biênio 1888-1889, quando era o único deputado da facção liberal Acioli. Por ocasião da seca de 1877-1879, prestou relevantes serviços à população iguatuense e dos municípios vizinhos, com a abertura de uma farmácia, em 1878, para o que obteve a necessária licença da Junta de Higiene do Rio de Janeiro. Como Intendente de Iguatu (CE), foi deposto por um movimento popular, no Governo Franco Rabelo, abandonando a cidade sob disfarce, pois criara contra si uma situação a que não pôde enfrentar, vindo, então, a residir em Fortaleza (CE). Quando da passagem de seu centenário de nascimento, foi inaugurado o seu retrato a óleo no Palácio do Governo do Estado, dando o jornal “Correio do Ceará”, uma edição especial, comemorativa, onde se encontram dados completos sobre a vida de tão eminente figura da política, de excepcional prestígio no Estado do Ceará.

Após a aprovação na Assembléia, neste mesmo dia a lei foi encaminhada ao poder executivo, recebendo, incontinenti, as assinaturas do Presidente Accioly e do Secretário José Lino. Com data de 22.07.1911 nascia, também graças a estes quatro homens, o novo município de Joazeiro. Quem eram eles? Recapitulemos isto com a base de dados da própria Assembléia Estadual do Ceará.

Antonio Pinto Nogueira Accioly era filho do Coronel José Pinto Nogueira e de Ana Pinto Nogueira (família de descendência italiana, de troncos Achiolli). Nasceu a 11.10.1840, em Icó (CE), e faleceu a 04.04.1921, no Rio de Janeiro(RJ). Era casado com a filha do Senador Pompeu, D. Maria Tereza de Sousa Acioli. Comendador. Bacharelou-se em Direito e em Letras pela Academia de Letras de Pernambuco, em 1864. Foi Promotor Público de Icó e de Saboeiro; Juiz Municipal de Baturité e Fortaleza; Substituto da comarca especial de Fortaleza (1871). Não era, porém, a Magistratura a carreira que o destino lhe acenava com as mais risonhas esperanças, e sim, a Política, que o sagrou um dos chefes de maior prestígio no antigo e no novo regime, dan¬do-lhe uma cadeira na Câmara dos Deputados Gerais (1880), e a escolha de Senador (1889), após valente pleito eleitoral, cheio de complicações e surpresas. Foi o 1º Vice-presidente do Estado, Senador Federal por duas vezes; Presidente do Estado, em substi¬tuição ao Coronel José Freire Bezerril Fontenele, e de novo em substituição ao Dr. Pedro Borges (1904), e reconduzido ao cargo em 1908; Presidente da grande Convenção em que foi escolhido e aclamado o Dr. Rodrigues Alves, como candidato à Presidência da República. Governou o Ceará durante 20 anos, isto é, de 1892 até 24.02.1912. Vitorioso o movimento político pró-Franco Rabelo, foi forçado a deixar a presidência, embarcando para o Rio de Janeiro, recolhendo-se à vida privada. A República fê-lo Presidente do Congresso Estadual reunido após a deposição do General Clarindo de Queiroz. Foi a maior figura política do Ceará no 1º vintênio da República, vindo já em pleno destaque do regime monárquico. Apesar de relativamente ilustrado, na concepção literária e intelectual do termo, era dotado de uma acuidade de espírito que superava as demais, e possuidor de tino político raramente encontrado em chefes de partidos no País. Reuniu em suas mãos a maior soma de poderes que um homem público jamais reuniu no norte, e acusado, por todos os meios, por seus adversários e inimigos, de desonestidade administrativa, delapidação do dinheiro público, etc. Então, foi deposto pelas armas e a multidão insuflada incendiou as propriedades dos Aciolis, em Fortaleza, inclusive a Fábrica de Tecidos da família Pompeu (herança que havia recebido por parte da família da esposa). Embo¬ra haja cometido excessos como governante, o bem que praticou no governo foi bem maior do que as injúrias que lhe imputaram seus inimigos, pois, eles mesmos o proclamaram por ocasião da celebração do seu centenário de nascimento, solenemente comemorado pelo Instituto do Ceará, no Auditorium da Escola Normal, a 11 de outubro de 1940. O Governo Imperial, em atenção aos serviços prestados à causa pública, outorgou-lhe a Comenda da Ordem da Rosa. Foi o último Senador da Monarquia.

José Lino da Justa era filho de José Antônio da Justa e de Joana Teófilo Costa da Justa. Nasceu a 23.09.1863, na Serra de Aratanha, Pacatuba (CE). Farmacêutico e Médico. Formado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1889. Foi Diretor da Inspetoria de Higiene do Estado e Secretário de Interior (por nomeação do Presi¬dente Nogueira Acioli); Chefe de Polícia (de março a junho de 1914); Deputado Federal (eleito em mais de uma legislatura); Membro da Academia Cearense de Letras e do Instituto do Ceará; Presidente e orador do Centro Literário rival da «Padaria Espiritual»; Secretário do Clube Acadêmico Abolicionista 24 de maio, de Salvador; Fundador, juntamente com Justiniano de Serpa e Álvaro Mendes, do jornal “Diário do Ceará”; Colaborador do jornal político “O Norte”, de Fortaleza-CE, durante e após o governo José Clarindo. Retirou-se para o sul, em exercício de sua profissão médica, pelos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, fazendo parte da redação do jornal “O Cachoeirense”, de Cachoeiro do Itapemirim. Resolveu abandonar totalmente a política, recolhendo-se, a seguir, à vida privada. Foi orador do mais alto quilate, sendo digno de nota o discurso pronunciado em 24.05.1900, por oca¬sião da inauguração da estátua do General Sampaio, em Fortaleza, e o versando “A religião católica como vínculo da unidade e grandeza territorial do Brasil”. Sua bagagem literária foi sobremodo importante, porém esparsa, em grande parte, pela imprensa do Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo.

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