sábado, 30 de outubro de 2010


FABRICA DE RELOGIOS DOS SALESIANOS
É claro que as gerações atuais não sabem, mas em Juazeiro do Norte já existiu uma fábrica de relógios de propriedade dos padres salesianos, cujo prédio é mostrado na foto acima. Funcionava na Rua Padre Cícero, logo no início da ladeira. O pioneiro nesse ramo em nossa cidade foi co conhecido Mestre Pelúsio Correia de Macedo que ingressou no ramo graças ao incentivo recebido do Padre Cícero.
Este fato é muito bem contado por Walter Barbosa no seu livro Padre Cícero Pessoas, Fotos e Fatos conforme transcirção abaixo:
FÁBRICA DE RELÓGIOS
A casa do Reverendo estava calma. Não apresentava aquela movimentação de pessoas que iam e vinham. Alguns amigos se encontravam, como sempre, sentados à mesa na larga sala-de-jantar. Dentre esses, estava um homem de baixa estatura, cor branca, calmo, externando no seu semblante, qualidades que possuiu até desaparecer do convívio terráqueo: - honestidade, inteligência, amor ao trabalho, sinceridade e uma humildade sem par.
Quebrando o silêncio que envolvia aquele ambiente, falou aquele homem:
- Meu padrinho, vim atender ao seu chamado.
Sentado à cabeceira da comprida mesa, entregando o seu
cajado a uma das domésticas, o Padre Cícero dirigiu o olhar ao seu interlocutor, o Mestre Pelúsio Correia de Macedo.
- Sim, senhor... eu precisava há muito falar com você,
mas o tempo me tem sido pouco. As horas passam que não as
percebo. Antes, porém, me diga como vão os meninos e a comadre Antônia (refere-se a sua esposa).
- Todos bem.
- Seu camaradinha, eu lhe mandei chamar, para lhe propor um negócio: Juazeiro está crescendo, mas o seu crescimento não está sendo coordenado. Eu não disponho de tempo para realizar empreendimentos, a fim de dar condições de subsistência a esse povo. E é constrangido que vejo tudo isso acontecer .
Dando um suspiro profundo, continuou: - Não disponho
de meios... Pensei, e cheguei à conclusão de que vou precisar
do trabalho e de uma porção de gente que pode me ajudar; por
isso eu o escolhi. ,
- Estou às ordens do senhor... Se achar que posso ser
útil em alguma coisa...
- Como não. Olha, Pelúsio, é condoído que vejo essa
criançada crescendo, sem ter um ofício. Já estou encaminhando uns para aprenderem a arte de sapateiro, pois é uma arte que sempre dá, todo mundo precisa andar calçado; outros, encaminhei para ourivesaria, a fim de se tornarem bons artífices, c agora, desejo montar uma fábrica de relógios...
- Meu padrinho, e onde vai ser essa fábrica?
- Aqui em Juazeiro.
- E onde o senhor vai mandar buscar os engenheiros
para fazê-la funcionar?
- Aqui em Juazeiro.
- Em Juazeiro?
- Sim, homem de Deus. O engenheiro que escolhi foi
você. A fábrica vai ser dirigida pelo meu bom amigo e afilhado .
- Mas, meu padrinho, eu nunca tive a menor noção de
tal coisa.
- Pelúsio, para você não há problema. Temos que montar essa fábrica de relógios monumentais, a fim de servir de escola ou aprendizado para uma parte dessa rapaziada.
- Mas, meu padrinho, como é que eu posso fazer uma coisa que nunca fiz?
- Fazendo a primeira vez. Olhe, vou mandar comprar um despertador. Quando esse chegar, você o desmonta, veja como funcionam as suas peças, estude-as. Depois você as montará. Quando isso acontecer, já se tem meio caminho andado para
se implantar uma fábrica de relógios na nossa Juazeiro.
- Mas meu padrinho, e como vou fabricar essas peças?
- Seu camarada, você usa o mesmo processo dos ourives. Faz fundição em areia. Quanto às ligas dos metais, essas, os livros ensinam.
Outras orientações foram dadas àquele homem, que, desde aquele momento, firmara um pacto com o seu protetor de montar uma fábrica de relógios e sinos monumentais.
O trabalho foi intenso. A orientação recebida foi posta em prática. O Padre sempre visitava a nova indústria, que começava a chamar a atenção de todos. Poucos criam no sucesso. Mas o trabalho edificante daquele homem, dentro de pouco tempo, atingia os objetivos.
Começaram a ser fabricadas as peças, as quais depois de um polimento aprimorado, começaram a ser montadas. E o primeiro relógio foi montado, conseguindo fabricação perfeita.
Todos vinham olhar de perto aquele engenho, produto da inteligência de um homem sertanejo, que sem recursos técnicos, conseguiu fazê-lo, atendendo ao pedido do seu padrinho que desejava uma fábrica de relógios.
No dia do aniversário do seu protetor, o relógio lhe foi ofertado como presente, e para surpresa de todos, o cronômetro não registrava somente horas, mas minutos, dia, mês, ano e fases da lua.
Por ser uma realização de tamanha importância, este relógio ainda hoje se encontra funcionando na Coluna da Hora da cidade de Juazeiro do Norte, comprovando a cada minuto que passa, a sua idade e valia.

Na foto: o jornalista Walter Barbosa e Mestere Pelúsio na sua oficina.

Um comentário:

mário disse...

Olá.

Lembro-me de uma "História" que contavam sobre a construção deste relógio em Juázeiro.

E "Eu mesmo" cheguei ainda a dar corda neste relogio quando tinha mais ou menos quinze anos de idade.

Neste tempo o meu Pai conhecido como "Manoel Amorim" era o jardineiro da Praça Padre Cicero.

Jardineiro este que ficou conhecido por suas famosas podações nos pés de arvores, desenhando com a sua tezoura, varias formas as quais foram vistas por pessôas desta cidade e de outros locais.

Abraços.