sábado, 4 de setembro de 2010


ESTÓRIAS DO MURILO

Recolho em algumas entrevistas de Pe. Murilo à imprensa os esclarecimentos que ele, freqüentemente disseminava com os próprios romeiros, numa linguagem simples e direta, muito compreensível ao seu entendimento. É o caso da origem desta devoção que se celebra a cada dia dois de fevereiro. Ele dizia que “é porque a festa de Nossa Senhora das Candeias é a primeira festa de Nossa Senhora das Dores que existia no calendário, porque é o dia em que Nossa Senhora apresenta o menino Jesus no templo e escuta do velho Simião a profecia de que uma espada de dor traspassará seu coração. O padre Cícero que não podia celebrar a missa, benzia as velas lá na casa dele e vinha assistir a missa da purificação de Nossa Senhora. Como a devoção de Nossa Senhora aqui é envolvente essa festa é a mais antiga de Juazeiro.”

Pe. Murilo nos esclareceu como foi estabelecida a Procissão dos Caminhões, em 1974. “As coisas aqui vão nascendo conforme os romeiros descobrem. Eles têm uma mania de pedir para benzer os caminhões, e para eu não estar benzendo todo dia um, eu preferi juntar todos e dar uma recepção a eles, e fui me lembrando que talvez isso significasse muito pra eles. Realmente, o caminhão de romeiro e o ônibus que não vai pra essa procissão é como se fosse uma dor na alma do romeiro. Quando ele faz a promessa de vir, ele já se inclui como participante dessa noite festiva, dessa tarde festiva, tarde que Juazeiro atende ao chamado, por exemplo, nós pedimos a rua São Benedito para que as pessoas fossem para as esquinas, levando um pouquinho d’água, para o romeiro menor, para a criancinha que vem em cima do caminhão e que desde um hora da tarde esta agüentando o sol de setembro.”

Uma das cenas comuns nas romarias de Juazeiro do Norte é o ritual do romeiro e o chapéu que ele carrega na cabeça por todo o seu trajeto nos dias em que passa na cidade e para muito além da cidade, no seu retorno. Pe. Murilo nos esclarece este comportamento, porque “o chapéu de palha é um companheiro de todas as horas do romeiro, e as coisas mudaram, antigamente era falta de respeito você entrar na igreja com chapéu. Mas, se for o chapéu de palha, aí é um ornamento, faz parte da indumentária romeira, então, como a minha visão é popular, se hoje numa festa de casamento se coloca chapéu nas damas para ornamentação e elas entram, por que o romeiro num pode entrar com o chapéu? E, em segundo lugar porque é bonito, é um símbolo de nordestinidade e da nossa romaria.”

E sobre Juazeiro e Canindé, o que ele nos dizia? “A nossa romaria ela é pura e é nordestina, você não vê isso em Canindé. Há muita diferença. Primeiramente, a de Canindé não é nordestina, ela é cearense, riograndense do norte, e piauiense, embora seja maior a presença do Ceará, 200 vezes maior do que a presença do Ceará em Juazeiro. Porque aqui no Juazeiro houve as mãos da proibição da hierarquia. Enquanto lá em Canindé fazem é escangalhar. Pra você ver o que é peso de discurso. Hoje nós temos caminhões e ônibus da Serra Grande aqui, e nunca houve isso. Gente de São Benedito, de Viçosa. E todos os domingo vem cinco ônibus de Fortaleza, isso não só significa que a romaria de Juazeiro está puxando gente de Fortaleza, mas significa que muita gente do interior foi morar em Fortaleza e não perdeu a devoção.”

E a Romaria de Novembro? “Ela tende a ser maior, porque cada romeiro que assistiu e gostou, vai trazer um, não precisa você fazer propaganda de romaria no Juazeiro, receba bem o romeiro, que é ele quem vai dizer que rancheiro fulano de tal é ladrão, que beltrano não atende ele, nem que o padre fulano de tal acolhe você. A festa de novembro desse ano (1989) já vai ser muito grande. Porque agora houve umas incidências sérias, as chuvas em Alagoas, as enchentes no Recife... Como eles não podem deixar de vir, vão vir na festa em novembro. Em novembro vem também estudante demais, porque é feriado, e é também muito animado. A festa da padroeira também ainda tem um aspecto social muito forte, comunitário. É um momento de lazer, essas pessoas que vivem morrendo de trabalhar lá no cabo da inchada, na zona da mata, elas vem pra aqui se encontrar, dançar em carrossel, ir pra festa, ir pro cinema, esse tipo de coisa.”

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