terça-feira, 25 de abril de 2023

Reflitamos: SOBRE A FAMILIA E A EDUCAÇÃO

 SOBRE A FAMÍLIA E A EDUCAÇÃO

Para que se tenha uma ideia adequada da extraordinária importância da família, basta pensarmos que o Deus eterno e onipotente que movido por seu imenso amor para conosco dignou-se revelar-se à humanidade como Pai, Filho e Espírito Santo, é ele próprio uma divina família, uma comunidade perfeitíssima, no seio da qual cada uma das três pessoas divinas ama as outras duas com um amor eterno e infinito.

A família humana, na condição de “célula originária da vida social”(CIC) procede de Deus, o qual, “ao criar o homem e a mulher, institui-a e dotou-a de sua constituição fundamental.” (CIC)

Ela surge ao longo dos séculos qual um imponente e majestoso edifício de relações interpessoais, como uma “comunidade na qual, desde a infância, se podem assimilar os valores morais, tais como honrar a Deus e usar corretamente a liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade.”(CIC)

A família se nos apresenta ainda como uma espécie de microssociedade, dotada de estrutura própria, onde recebemos de nossos amados genitores, de cujo amor recíproco somos frutos, as primeiras manifestações concretas de amor, carinho extremado, atenção, sem contar naturalmente, os rudimentos inicias de nossa primeira educação.

Os estudiosos tendem hodiernamente a admitir como ponto pacífico que os primeiros anos no seio da comunidade doméstica são não apenas determinantes mas também decisivos para o resto da vida. Desta sociedade miniaturizada passaremos com o passar do tempo à sociedade política mais ampla na qual a sociedade familiar acha-se inserida. A sociedade é uma reunião de famílias.

Ensina-nos a Igreja que “a família é a primeira escola das virtudes sociais de que todas as sociedades tem necessidade.” Ora, se a família é a primeira escola, tem-se como consequência que os pais são forçosa e necessariamente os primeiros educadores, competindo-lhes em virtude do nobilíssimo encargo inerente à paternidade e à maternidade, educar a sua prole.

Um famoso documento eclesiástico – Gravissimum Educationis – sublinha que “esta função educativa é de tanto peso que onde não existir, dificilmente poderá ser suprida.”

Os pais, aos quais naturalmente cabe em primeiro lugar a tarefa de máxima gravidade de educar os seus filhos, tem um papel decisivo e absolutamente insubstituível no processo educativo. O papa São João Paulo II ensinou que o “dever e o direito da educação são primordiais e inalienáveis para os pais.” (Familiaris Consortio)

Direito inalienável e constitucionalmente assegurado por lei e ao qual todos indistinta e sem exceção deveriam ter acesso, a Educação não é menos importante nem menos eficaz como instrumento privilegiado do desenvolvimento humano do que a mesma família.

“Todos os homens, disse certa feita o Papa Pio XII, de qualquer raça, condição e idade, por força da dignidade da pessoa, tem direito inalienável a educação, acomodada a própria índole, sexo, cultura e tradições pátrias, e ao mesmo tempo, aberta ao consórcio fraterno com os outros povos, para favorecer a verdadeira unidade e paz na terra.”

Plenamente consciente do valor formativo e informativo da educação, a Igreja, que sempre a valorizou, incentivando-a por toda a terra e promovendo ela mesma a fundação de colégios e universidades, reconhece que “entre todos os meios de educação, tem especial importância a escola, que, em virtude de sua missão, enquanto cultiva atentamente as faculdades intelectuais, desenvolve também a capacidade de julgar retamente, introduz no patrimônio cultural adquirido pelas gerações passadas, promove o sentido dos valores, prepara a vida profissional, e, criando entre alunos de índole e condição diferente um convívio amigável, favorece a disposição à compreensão mútua; além disso, constitui como que um centro em cuja operosidade e progresso devem tomar parte, juntamente, as famílias, os professores, os vários agrupamentos que promovem a vida cultural, cívica e religiosa, a sociedade civil e toda a comunidade humana.”

A Igreja, que do seu divino fundador recebeu a tarefa de educar a humanidade no caminho de Deus e da eterna salvação, não poderia de modo algum alhear-se no que concerne a um assunto de tamanha importância, qual é o da educação. Sirva como prova inequívoca do que dissemos a grande quantidade de documentos papais, alocuções e mensagens sobre a educação, entre os quais poderíamos aqui citar a título de pequena amostra a carta apostólica de Bento XV Communes Litteras, de 10 de abril de 1919, a carta Encíclica de Pio XI Divini illius Magistri de 31 de dezembro de 1929, uma alocução aos jovens de Pio XII datada de 20 de abril de 1946, além de outros muitos.

O Concílio Ecumênico Vaticano II que promoveu uma verdadeira renovação na vida da Igreja no século XX, em uma atitude de simpatia para com os muitos problemas

que agitavam o mundo de meados do século XX “considerou atentamente a extrema importância da educação na vida do homem e sua influência cada vez maior no progresso social do nosso tempo.”

Sem educação, nossos horizontes hão de permanecer sempre limitados; sem este indispensável meio de aperfeiçoamento graças ao qual o ser humano consegue sair da caverna das sombras enganadoras e contemplar o sol brilhando em todo o seu deslumbrante esplendor matutino, a própria sociedade não cresce, ficando estagnada no tempo e no espaço, vítima da ignorância, a grande praga da inteligência.

Pitágoras, famoso matemático e filósofo grego, deixou para a posteridade umas palavras que bem poderiam ser gravadas com letras de ouro na entrada dos estabelecimentos fundamentais de ensino: “EDUCAI OS MENINOS E NÃO SERÁ PRECISO CASTIGAR OS ADULTOS.”

Valeria a pena pensarmos que a futura árvore será via de regra o que tiver sido lá no início a pequenina semente. Eis porque, recorda-nos a exímia pedagoga do espírito que se chama Igreja, “é necessário que, tendo em conta os progressos da psicologia, pedagogia e didática, as crianças e os adolescentes sejam ajudados em ordem ao desenvolvimento harmônico das qualidades físicas, morais e intelectuais, e à aquisição gradual dum sentido mais perfeito da responsabilidade na própria vida, retamente cultivada com esforço contínuo e levada por diante na verdadeira liberdade, vencendo os obstáculos com denodo e constância. De tal modo se preparem para tomar parte na vida social, que devidamente munidos dos instrumentos necessários e oportunos, sejam capazes de inserir-se ativamente nos vários agrupamentos da comunidade humana, abram-se ao diálogo com os outros e se prontifiquem a trabalhar pelo bem comum.”

Sagrado direito a que todos deveriam ter amplo acesso, a educação, ao lado da família constituem duas das asas mais possantes com a ajuda das quais os seres humanos tendem a humanizar-se num ritmo sempre crescente.

“Pais, escreveu o apóstolo São Paulo para os pais de todos os tempos e lugares, não revolteis os vossos filhos, mas criai-os ministrando-lhes uma educação e conselhos inspirados pelo Senhor.” (carta aos Efésios, cap. 6, verso 4)

Se quiserdes, senhores pais, saber que conselhos são estes, lede atentamente a Bíblia e sabereis!

Queridos pais, tende muito cuidado com a educação de vossos filhos. Se acaso errardes neste ponto de capital importância, nem Deus com todo o seu poder consertará. Não queirais correr o risco real de que um dia – oxalá não permita nunca o bom Deus que tal aconteça – eles vos amaldiçoem por lhes terdes dado a vida, pondo-o neste mundo.

colaborador : Dom Samuel Dantas, OSB

Dom Samuel(Émerson Dantas de Araújo), é natural de Mauriti- Ce. Monge professo solene de votos perpétuos do Mosteiro de São Bento da Bahia, Salvador. É licenciado em Filosofia e Bacharelado em Teologia pela antiga faculdade de São Bento da Bahia e mestre em Filosofia pela UFBA(universidade Federal da Bahia)

 

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