quinta-feira, 6 de abril de 2023

 HEROICIDADE E GRANDEZA FEMININA NA BÍBLIA

Há pessoas que pensam haver na Bíblia uma visão um tanto quanto negativista acerca da mulher, mas quando lemos de maneira atenta o conjunto dos livros que a constituem, ficamos até admirados com o destaque dado a determinadas personagens femininas que claramente nos são apresentadas como verdadeiras heroínas, de grande e incontestável valor, e isto numa época histórica na qual de fato encontramos visões distorcidas sobre o valor e a importância da mulher.



Pode-se pois dizer, que a pretensa misoginia que algumas pessoas mal informadas julgam existir na Escritura Santa, é apenas aparente. De acordo com o livro dos Juízes, foi através de uma mulher – chamava-se Débora – que Deus concedeu a vitória ao povo de Israel sobre um dos seus inimigos. Ela foi não apenas profetiza, mas também uma espécie de juíza, a quem eram levados casos complexos para que os julgasse. Uma mulher juíza numa época bem afastada da nossa!

Foi através de uma mulher – chamava-se Judite – que Deus concedeu uma vitória extraordinária ao povo de uma localidade chamada Betúlia quando esta viúva saiu ao encontro do temido general Holofernes, comandante em chefe do todo poderoso Nabucodonosor, e cortou-lhe a cabeça, libertando o povo de uma opressão iminente.

Foi ainda uma mulher – chamava-se Ester – que conseguiu que o rei Xerxes, que a desposara, revogasse um decreto real que tinha condenado parte dos judeus a um inapelável extermínio. Foi ela quem lhe pediu pela vida do seu povo ameaçado de morte, e o fez com tanta coragem que foi prontamente atendida. Os livros do AT, relatam mais de uma notável façanha feminina!

No livro dos Provérbios lemos: “Uma mulher de valor, quem a encontrará? Ela vale muito mais do que o coral. Nela confia plenamente o seu marido e a ele não faltará proveito.” (Provérbios, cap. 31, v. 11 e 11)

Nos Santos Evangelhos, depois do filho de Deus, sua mãe é a mais eminente figura, conquanto os autores do Novo Testamento a apresentem de uma maneira bastante discreta, com o que quiseram sublinhar a sua imensa humildade. Apenas a ela(que era mulher) foi dito que era cheia de graça, somente a ela foi dito que conceberia por obra do Espírito Santo. A Criatura que a Igreja mais venera e exalta depois do homem-Deus, é uma mulher, tanto assim que desde os primórdios da Igreja foi esta mulher distinguida com um especial culto de veneração que na língua grega chama-se de Hiperdulia. 

Todos os autores cristãos dos seis primeiros séculos em peso, consagraram-lhe textos de uma beleza ímpar, até hoje lidos. Aliás, o insuspeito Lutero chegou a dizer numa frase que se tornou famosa: “De Maria nunquam satis”, isto é, “de Maria(uma mulher) nunca dir-se-à o bastante.”

O Papa João Paulo II, deu a Maria Madalena, uma mulher, o título de “apóstola dos apóstolos”, porque foi a uma mulher(por incrível que pareça) que o Senhor Jesus apareceu em primeiro lugar depois de ressuscitado dos mortos. Foi ainda no seio de uma mulher que o filho de Deus se fez homem para salvar a humanidade.

Nos Evangelhos, lemos que algumas mulheres ajudaram Jesus com os seus bens em suas necessidades. Aí são citados os nomes de Joana e outras. O apóstolo Paulo, no final da carta aos Romanos, se refere em termos elogiosos a uma série de mulheres que muito o ajudaram na obra da pregação e difusão do Evangelho: entre outras são aí citadas Prisca, Aquila, Maria, para só ficarmos em alguns nomes. (Rm cap. 16 e seguintes)

Três livros Bíblicos do Antigo Testamento levam o nome de uma mulher: Judite, Ester e Rute. Na árvore genealógica do Senhor Jesus, que está logo no começo do Evangelho de Mateus, aparecem quatro nomes de mulheres: Tamar, Rute, Raab e Betsabéia, duas das quais, a primeira e a terceira, prostitutas.

Ainda que os quatro Evangelhos que chegaram até nós, considerados inspirados pela autoridade da Igreja, tenham sido escritos por homens, quem os ler com atenção, verá claramente que as mulheres tiveram o seu papel relevante nos inícios da Igreja Cristã. Afinal, Sara aparece ao lado de Abraão, Rebeca ao lado de Isaac, Raquel ao lado de Jacó no Antigo Testamento; e no Novo, Jesus é apresentado como filho de uma mulher. Diz ainda o texto Bíblico que ao pé da cruz de Jesus, enquanto ele agonizava, estavam de pé Maria, sua mãe, e a outra, Maria de Magdalena. Está aí pressuposta a coragem de duas mulheres, na aparência frágeis, mas possuidoras de uma firmeza inabalável, tanto assim que lá estavam presentes naquele momento infinitamente dramático, dando uma lição a pusilanimidade masculina!

Os homens fugiram, ao passo que elas ficaram inabaláveis como rocha firme até o fim, mostrando à sua época e ao mundo inteiro quão grandes e admiráveis são sua força, sua coragem, e sua capacidade de atravessar impávidas e altaneiras os momentos mais difíceis e as situações mais adversas.

Colaborador : Dom Samuel Dantas, OSB

Dom Samuel(Émerson Dantas de Araújo), é natural de Mauriti- Ce. Monge professo solene de votos perpétuos do Mosteiro de São Bento da Bahia, Salvador. É licenciado em Filosofia e Bacharelado em Teologia pela antiga faculdade de São Bento da Bahia e mestre em Filosofia pela UFBA(universidade Federal da Bahia)

 

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