terça-feira, 25 de maio de 2021

UMA SANTA NO CEARÁ: BEATA MARIA DE ARAÚJO

 UMA SANTA NO CEARÁ: BEATA MARIA DE ARAÚJO 

profª Drª. Fátima Pinho

No dia 24 de maio celebramos 160 anos de nascimento de Maria Magdalena do Espírito Santo. 


Comemoração com live na net como mediadora Profª Claudia Rejane da URCA e cantos de benditos na casa da Mestre Nair Silva e Aparecida Rodrigues

Considerada por muitos estudiosos uma das mais importantes mulheres da história do sertão nordestino, foi a principal personagem dos fenômenos que ocorreram nas décadas de 1880 e 1890 no povoado do Juazeiro, então termo do Crato. Segundo os protagonistas dos acontecimentos religiosos - padre Cícero e a beata Maria de Araújo -, a transformação da Hóstia consagrada em sangue se deu pela primeira vez em 1° de março de 1889, na sexta-feira que antecede o Carnaval. 

 O fato rapidamente se alastrou na oralidade e não demorou para ganhar espaço na imprensa dentro e fora do Brasil. Cartas eram enviadas do povoado às redações dos jornais que narravam o que chamavam de “milagres”. A primeira notícia sobre os fatos do Juazeiro foi veiculada num jornal de Fortaleza, Pedro II, no dia 19 de julho de 1889, no qual se anunciava: “[...] na povoação do Joazeiro, termo do Crato, existe uma mulher moça, de reconhecidas virtudes. 

Desde algum tempo, a datar de sexta- -feira santa do corrente ano, que nas confissões que faz, por ocasião de comungar, a partícula sagrada desfaz-se em sangue, de modo que a toalha da mesa de comunhão está completamente manchada de sangue [...] O Rvd. Padre Cícero Romão Baptista, que é o confessor de Maria de Araújo (assim se chama a virtuosa moça) afirma o fato já descrito, que ainda ontem, antes da missa cantada e sermão, reproduziu-se, de modo que o sangue estava visivelmente novo.” A partir daí a simples e pobre mulher e o jovem padre Cícero, assim como o pequeno povoado do Juazeiro, passaram a ser narrados, discutidos, analisados, interpretados por jornalistas, médicos, cientistas, historiadores, etc. Passados 132 anos do sangramento da Hóstia, o lugar foi transformado na “capital da fé nordestina”, recebendo, em tempos normais, mais de 2 milhões de romeiros por ano.

 Padre Cícero e Maria de Araújo, igualmente, ganharam visibilidade e projeção através da imprensa, de livros e de centenas de estudos realizados nas mais diversas áreas do conhecimento ao longo do tempo. Neste tocante, no entanto, pode-se afirmar que, enquanto o padre Cícero foi transformado numa das personalidades mais conhecidas do Brasil, cuja biografia é descrita em centenas de livros, objeto de milhares de reportagens, julgado, defendido, analisado, polemizado, estudado, etc., coube à beata Maria de Araújo apenas o papel de coadjuvante. Ainda no final do século XIX, a Igreja Católica, ao não reconhecer os fatos do Juazeiro como milagres, considerando-os como “prodígios vãos e supersticiosos”, cassou as ordens sacerdotais do padre Cícero e proibiu os fiéis de falarem sobre a beata e os ditos fatos sob pena de excomunhão. 

 A beata Maria Araújo, que antes da condenação da Igreja foi tratada na imprensa como a protagonista dos chamados “milagres”, descrita comumente com adjetivos elogiosos, tais como: virtuosa moça, devota de reconhecidas virtudes, santa, virgem, sendo em muitas matérias apresentada como a “A beata Maria do Crato”, “A beata Maria do Juazeiro”, “A beata Maria de Araújo e os fatos do Juazeiro”, “A santa do Juazeiro”, “pobre e humilde serva de Deus”, passou, sobretudo a partir de 1897, a ser descrita como “cavilosa”, “embusteira”, “celebre impostora”, “a grande embusteira do Juazeiro”, “ardilosa embusteira”, “histérica”. Embora continuasse a ser amada e adorada por milhares de sertanejos, no transcorrer do século XX Maria de Araújo caiu no ostracismo, no esquecimento, pouco se falando sobre ela e quando o faziam, aparecia como uma coadjuvante do padre Cícero. 

 Felizmente, na década de 1980, no meio acadêmico, a memória de Maria de Araújo começou a emergir através da bela dissertação de mestrado, depois publicada em livro, de Maria do Carmo Forti, intitulada “Maria de Araújo: a beata do Milagre”. Outros trabalhos acadêmicos surgiram e monografias, dissertações, teses, artigos científicos, traziam a beata como tema. Em 2014, por ocasião do centenário de sua morte, teve início um movimento popular com o objetivo de “resgatar a memória da beata Maria de Araújo”. 

 Hoje existe um grupo formado por devotos, pesquisadores e religiosos intitulado “Movimento pela reabilitação da memória da santa beata Maria de Araújo”, cujo intuito é realizar encontros acadêmicos e religiosos para discutir sua importância nas questões religiosas do Juazeiro e reivindicar dos poderes públicos o seu reconhecimento, como a lei que obriga a colocação do retrato da beata em repartições públicas. A beata Maria de Araújo ainda não ocupa o lugar que lhe é devido na História do Juazeiro e da religiosidade sertaneja, mas que isso é uma questão de tempo.

matéria publicada no  https://jornaldocariri.com.br/. 25 a 31 de maio de 2021 p.2 Opinião

Imagens da comemoração dos  parabéns a santa beata Maria de Araújo ( atriz Tica Paiva) na casa da Mestre Nair Silva e Aparecida Rodrigues que nos anfitrionou , onde a mestre Dorinha do Horto cantou o bendito que sua mãe cantava 


atriz Tica Paiva de beata Maria de Araújo


momento de comungar o chá da Santa

Nenhum comentário: