domingo, 14 de julho de 2013

A singular santidade do Padre Cícero - Por Lauro de Sá Barreto

Com a proximidade da visita do Papa, é inevitável lembrar que o Brasil é a nação de maior população católica do mundo e, paradoxalmente, um país de pouquíssimos santos – apenas dois, para ser exato: Frei Galvão e Madre Paulina.

Além disso, temos que reconhecer que os dois brasileiros canonizados até agora são de expressão bem reduzida em matéria de devoção popular. Por exemplo, você conhece algum devoto de Frei Galvão? Ou já ouviu falar que alguém fez promessa para Madre Paulina? Pois é...

Na fila das beatificações e canonizações temos mais de uma centena de brasileiros: do histórico José de Anchieta à carioquíssima menina Odetinha, que acaba de ganhar a condição de Serva de Deus e está em vias de ser beatificada. Mas todos eles têm em comum a desvantagem de minguada devoção dos fiéis.

Exceção à regra, só mesmo o Padre Cícero Romão Batista, que já foi santificado pela vox populi, embora a Igreja Católica ainda esteja engatinhando no processo de reconciliação com ele.

Padim Ciço, em número de devotos, está em pé de igualdade com os ‘santos do primeiro time’, vamos dizer assim, como São José, Santo Antônio, São Sebastião, São Judas Tadeu etc. e tal. E nem como beato ele já foi reconhecido pela Igreja. Aliás, existe um dado muito interessante na santidade do Padre Cícero que merece ser divulgado e objeto de reflexão. São Bernardino Realino, italiano que viveu de 1530 a 1616, é considerado o único na história dos santos que ainda em vida se tornou padroeiro de uma cidade – Lecce, na Itália.

Ele só foi canonizado em 1947, pelo Papa Pio XII, mas já era padroeiro de Lecce desde mil seiscentos e pouco, por livre escolha de seus moradores.

Padre Cícero é o fundador da cidade de Juazeiro do Norte, no Cariri, que cresceu e se desenvolveu por força da devoção que a ele é dedicada. Além de padroeiro de Juazeiro, ele também é consagrado como padroeiro do Nordeste. E, repita-se, oficialmente sequer beato ele é.

Enfim, se é verdade que temos poucos santos brasileiros, também é verdade que temos no Padre Cícero um exemplo singular da força da veneração popular. Seria muito bom e oportuno que o Vaticano se lembrasse disso, agora que o Papa Francisco vem ao Brasil, e desse um empurrãozinho no processo de reconciliação com o Padim.
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Lauro de Sá barreto é advogado e escritor.

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