sábado, 7 de agosto de 2010



ESTÓRIAS DO MURILO (08.08.2010)
Por Renato Casimiro

Em muitas edições do Juaonline, desde 27.08.2006 até 30.08.2009, eu me ocupei em reproduzir algumas estórias pitorescas acontecidas com o nosso vigário, Pe. Francisco Murilo de Sá Barreto. Rebuscando a memória, vou encontrando estas lembranças, às quais ajunto a narrativa de tantas outras pessoas, testemunhas destes casos engraçados e típicos de seu bom humor. Um dia, isto tudo vai parar num livrinho.
Um dia, o jornalista e radialista Dario Maia Coimbra procurou o vigário para se aconselhar. Não era coisa rara, e neste dia Darim comentou com o Pe. Murilo que há algum tempo tinha contraído uma dívida de 20 mil reis com um cidadão, por um empréstimo que tomara, para uns investimentos no seu Centro Regional de Publicidade (CRP). Acontece que antes de quitar a dívida, a pessoa havia falecido, fazia poucos dias. Ele achava melhor pegar aquele dinheiro e mandar celebrar uma missa pelo repouso eterno do seu credor. Isto porque ao devolver o dinheiro para família, até poderiam pensar que a dívida era maior do que a que estava sendo saldada. Pe. Murilo foi direto: - Darim, com esse dinheiro você não vai poder mandar celebrar nem meia missa. - Nem mal celebrada? indaga o Darim. - Nem celebrada por mim, respondeu.

Com nossa amizade, vez por outra eu era surpreendido com alguma atitude sua que me deixava verdadeiramente fascinado, por sua sensibilidade e grande generosidade. Na comemoração dos trinta anos de casamento de meus pais, em 08.12.1978, com missa que ele celebrou no altar de Nossa Senhora de Lourdes, eles estavam sentados à frente, muita gente da família e amigos nos bancos e eu em um local um tanto privilegiado, usando um genuflexório antigo. Terminada a missa ele veio nos cumprimentar e me perguntou baixinho: - V ocê viu onde você se ajoelhou ? E eu, um tanto disperso, não entendi, a princípio, o que queria me dizer. Então ele me disse: - esse era o genuflexório que o Padre Cícero usava quando vinha assistir missa aqui, nesse local... Comecei a chorar de emoção. Ele me abraçou e me disse ao ouvido: - Se entenda com a Nêga (Assunção), foi presepada dela...

A Pia União das Filhas de Maria, da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, foi fundada durante o vicariato de Mons. José Alves de Lima, em 17.05.1932. Sempre congregou os melhores quadros, jovens juazeirenses escolhidas a dedo, por minuciosa verificação das suas circunstâncias de família, trabalho, caráter e conduta moral. Bastaria ver a relação das suas integrantes para se ter uma idéia aproximada disso. Certo dia, bem recentemente, na calçada da casa paroquial, uma deltas vem reclamar ao vigário de umas coisas da paróquia e pergunta o porque da Pia União das Filhas de Maria estar se acabando. Sem arrumar argumento melhor, e falando sério, ele vai explicando que “ultimamente é muito difícil encontrar virgens imaculadas”. “Agora mesmo eu posso lhe dizer que só tem mesmo umas poucas: Assunção, Nair Chaves, Balbina Garcia, Quininha e Alzirinha, aqui de casa.

E a propósito, Balbina Garcia, que era, afinal, uma destacada Filha de Maria, desde os anos 40, tinha fama de ser uma pessoa muito autêntica, às vezes irreverente e arrogante, bastava uma situação qualquer onde ela se sentisse ofendida. Numa noite, em cerimônia que acontecia na Matriz de Nossa Senhora das Dores, ela estava postada na entrada do altar-mor para ver de perto a passagem do sr. bispo diocesano, D. Vicente de Paulo Araújo Matos, durante uma Visita Pastoral que fazia às paróquias de Juazeiro do Norte. Vendo que a passagem se estreitava, Pe. Murilo pediu a compreensão de Balbina para se afastar e desimpedir a passagem do cortejo. Bom, bastou. Balbina ficou uma fera e com o dedo em riste foi dizendo: - Olhe aqui, Pe. Murilo, quando você chegou aqui eu já estava. Murilo disse baixinho um “vôte”, e saiu devagarinho sem mais reclamar de Balbina.

As vezes aparecia umas pessoas que de tão ingênuas ensejavam algumas brincadeiras do vigário. Eram situações as mais engraçadas. Em dados momentos isto o colocava diante da rivalidade Crato-Juazeiro. Numa destas, uma romeira chegou junto e logo lhe interpelou: - Pe. Murilo, é pecado a gente ir no Crato ? - Claro que não, minha filha, respondeu prontamente. O Crato é a sede de nossa Diocese, é lá que o bispo D. Vicente reside, a terra do nosso santo Padre Cícero, uma cidade bonita para se visitar, etc, etc. - Então, padre, eu posso ir lá ? Mas é claro, vá lá, faça o que você tem a fazer, mas não demore muito, não, viu ? Noutra situação, Antonio Calábria, seu dedicado colaborador, passou pelo gabinete e já foi dizendo: - Padre eu estou indo no Crato. Ao que Murilo indagou: - Fazer o quê, Antonio? Sua “mãe” (referia-se à nossa Mãe das Dores) está é aqui mesmo.

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