segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O adeus de uma princesa - Paulo Leonardo Celestino

     Recentemente precisei viajar para Recife a fim de resolver assuntos particulares. Ao chegar à rodoviária de Juazeiro para comprar a minha passagem eis a surpresa: não existia mais o guichê da empresa Princesa do Agreste. Fui informado que a mesma faliu, e a tradicional linha Crato-Recife ficou sob responsabilidade da Viação Cruzeiro.
     O Cariri sempre se identificou muito com a capital pernambucana. Até o final dos anos 90, era intensa a movimentação de estudantes universitários caririenses. O nosso sotaque sempre foi uma mistura entre o cearense do litoral e o pernambucano. E não é à toa a existência do tradicional bloco “Virgens do Crato”, os bonecos gigantes na Festa de Santo Antônio em Barbalha, dentre tantas influências.
      Como intermediários desta ligação cultural Cariri-Recife estavam os famosos ônibus da Princesa do Agreste. Desde o “pinga-pinga” até os ônibus-leito, as famílias caririenses atravessavam a madrugada no sertão pernambucano tanto como forma de passeio, comércio ou em busca do ensino universitário, ainda incipiente por aqui na época.
    Lembro do medo dos assaltos, do frio insuportável de um ar condicionado sem controle de temperatura, do choro da despedida de pais e filhos. Eu mesmo fiz esta maratona por diversos anos. Iniciando criança com meu saudoso avô, Aloísio Oliveira, até a minha formatura. No período universitário, apenas em alguns feriados prolongados e nas férias eu podia estar no meu amado Cariri. Em todas as vindas, ao avistar a estátua do meu padim bem de longe, com o ônibus passando pelos canaviais de Barbalha, lágrimas enchiam meus olhos.
      Mas agora tudo acabou. Afinal, na vida nada material é eterno. Permanecem as memórias!



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