quinta-feira, 10 de abril de 2014

O coronel que foi interventor de Juazeiro por duas vezes

Para quem gosta de história de Juazeiro aqui está uma novidade. A biografia do Coronel da Polícia Militar Porfírio de Lima Filho que foi interventor de Juazeiro por duas vezes: a primeira, no posto de capitão,  de 20 de setembro de 1933 a 8 de outubro de 1933, nomeado pelo governador Carneiro de Mendonça; e a segunda, no posto de major, de 16 de dezembro de 1946 a 22 de março de 1947, nomeado pelo interventor federal José Machado Lopes. O texto, transcrito abaixo, é de autoria do historiador ten-coronel José Xavier de Holandas, e foi publicado originalmente na revista Sentinela, nº 39-2014, editada pela Associação dos Oficiais Militares da Reserva e Reformados da Polícia Militar do Estado do Ceará, 

PERSONA
Relembrando a nossa História PORFÍRIO DE LIMA FILHO- CEL PM.
Por Ten-cel José Xavier de Holanda

O Cel. PM Porfirio foi escritor, prefeito municipal nomeado das cidades de Juazeiro do Norte (2 vezes), Cedro, Itapipoca e Boa Viagem no Ceara, Delegado de Policia da Capital (1° Circunscrição da Capital - funcionou como Delegado de Ordem Politica e Social) e em várias cidades do Interior; professor da disciplina Instrução Policial nos diversos cursos da PMCE, jornalista. Escrevia e publicava suas crônicas policiais nos jornais "O Nordeste", "O Povo" e na "Revista Policial", atuando nesta ultima como um dos redatores. Foi considerado pelo escritor, jornalista, historiógrafo e Bacharel em Direito Hugo Vitor Guimaraes, piauiense da cidade de Floriano, mas radicado no Ceara, - como o primeiro repórter policial de Fortaleza. Seu trabalho foi importante para consolidação da crônica policial na capital cearense. Na Policia Militar do Ceara galgou todos os postos da hierarquia militar e foi destaque da oficialidade em seu tempo.
Nasceu na cidade de Iguatu--CE, em 23/03/1895, filho de Porfirio Candido de Lima e Maria Rita de Lima. Casou-se com a Sra. Alzira Nunes de Lima e da união conjugal nasceram seis filhos: Porfirio, Maria, Lúcio, Lúcia, Adélia e Maria Cleide.

Quando jovem serviu na Guarda Cívica (Civil) criada pela Resolução Provincial n° 1903, de 03/09/1880, como Escrivão de Polícia e Inspetor de Veículos. Ingressou na amada Polícia Militar do Ceara em 21/12/1923, sendo nomeado 2° Tenente PM. Fez o Curso Técnico na então Escola Profissional da Forca Pública, embrião da Academia de Polícia Militar General Edgard Facó, extinta para dar lugar a atual Academia Estadual da Segurança Pública do Ceara (AESP), criada pelo Decreto Estadual 14.629, de 16/02/2010 e inaugurada no dia 18/05/2011, na Avenida Pre-sidente Costa e Silva, n° 1853, Mondubim, Fortaleza - CE. 

Em 1929, como 2° Tenente, teve a ideia de criar uma Revista Policial, tendo convidado para fazer parte do projeto o então, 1° Delegado Dr. Perboyre e Silva e o Bacharel em Direito José Ribamar Lima. Para a concretização do projeto teve o apoio do Chefe de Policia (atual Secretario de Segurança Pública e Defesa Social) Dr. Mozart Catunda Gondim. A primeira edição (n°01) da Revista Policial veio a lume no dia 25/08/1929, sob a orientação do Chefe de Polícia Mozart Catunda, tendo como Diretor Presidente Gregoriano Cruz (Irmão do Poeta Cruz Filho), Diretor Secretário: 2° Tenente PM Porfírio de Lima Filho e Diretor Técnico: José Ribamar Perez Lima. A Revista Policial foi um periódico técnico-científico de natureza policial, mensal, de rigorosa pontualidade, que divulgava as notícias relativas aos acontecimentos policiais do estado. A colaboração era franqueada a todos. Assuntos, porém, de natureza político-partidária não eram aceitos, por não se enquadrarem no seu programa. A Revista Policial teve a sua pu-blicação encerrada no começo da década de 1960.

Porfírio Lima Filho participou como 1° Ten PM da Revolução de 1930 no Ceara, ao lado do Cel. PM (Comissionado) Edgard Faco (Cmt-Geral da PMCE), Dr°. Mozart Catunda Gondim (Secretario de Policia) e do Major PM Francisco Ribeiro Montenegro (Chefe da Casa Militar do Governo do Estado).
A Revolução de 30 no Ceará teve como desfecho a deposição do Governador do Estado Dr. Jose Carlos de Matos Peixoto (Iguatuense-Prof. de Direito da UFC e da UFRJ), que teve que se refugiar a bordo do Navio Itanajé fundeado ao largo da Praia de Iracema em companhia de sua família e de quase todos os seus auxiliares. Foi substituído no Governo do Estado pelo medico Manoel do Nascimento Fernandes Távora (1° Interventor Federal do Estado do Ceara e pai do Ex-governador Virgílio Távora).
Em 1931 quando exercia a árdua função de Diretor da Casa de Detenção de Fortaleza (EMCE-TUR), Porfírio resolveu enfeixar em livro os trabalhos que publicou no jornal "O Povo", atinentes todos eles relacionados a vida presente e pretérita daquele esta-belecimento prisional. A publicação do livro intitulado "Nos Tempos dos Látegos e dos Grilhões: memoria sobre a Cadeia Publica de Fortaleza 1931" foi lançada em setembro de 1931. Segundo o autor da obra "O livro teve por parte da imprensa e da critica o melhor acolhimento. Só este fato, se não existissem os motivos expostos as primeiras folhas deste livro justificaria o seu aparecimento". Sua 2a edição foi publicada em 1941. 0 livro epigrafado consta de duas partes: 1° Parte: Fatos Históricos (relacionados a Cadeia Pública), 2a Parte: Perfis de Criminosos (Os mais periculosos) e Anexos.

Em 1932, Porfírio Lima foi designado pelo Interventor Federal do Ceará Cap. EB Roberto Carneiro de Mendonça (1931/1934), para participar e combater a "Revolução Constitucionalista" iniciada em 09 de julho de 1932, no Estado de São Paulo, incorporado ao 1° Batalhão Provisório (Comandado por Olímpio Falconiere da Cunha, Capitão do Exército e comissionado Coronel do Corpo de Segurança Pública (PMCE), da qual fazia parte, também, o 1° Tem. BM Jose Benigno Gondim (Ex-Cmt-Geral do Corpo de Bombeiro do Ceara). A Revolução durou 87 dias, até à rendição dos revoltosos, e teve um saldo oficial de 934 mortos, embora as fontes não oficiais afirmarem que o número de mortos chegou a 2200.
A Revolução e considerada por historiadores como um dos maiores conflitos bélicos do Brasil no Sec. XX.
Em 1935, como Diretor Secretário da Revista Policial, Porfirio foi homenageado pela mesma em sua edição n° 12 com o título "A Viga Mestra da Nossa Existência", cujo do conteúdo retiramos essa passagem:
"Tenacidade invulgar, perseverante e vontadoso, Porfírio Lima tornou-se o esteio, o fator decisivo, a célula máter da nossa existência.
Traindo, mau grado, aquela modéstia condenável com que procura esconder as belezas do espírito, as acentuadas carac-terísticas da bela e promissora inteligência de que e portador, constituía uma grande injustiça de nossa parte se fizéssemos si-lenciar neste dia de tão alta significação para nós, o muito que tem feito para manutenção da Revista Policial.
Investido das funções de Redator Secretário da Revista, delas vem o boníssimo companheiro se desempenhando com raro brilho, conosco cooperando, ativamente, na feitura intelectual deste órgão de policia cearense. Aí, não fica, porém, a brilhante atividade do Redator Secretário da Revista Policial, que se desdobra e multiplica, no afã de mantê--la e de dar-lhe vida e projeção."

Em 2013, por iniciativa do Prof. Márcio de Souza Porto (Mestre em Sociologia e Doutorando em História Social - UFC) Diretor do Arquivo Público do Estado do Ceará, o livro do Cel. Porfírio foi reeditado (3a edição). O lançamento aconteceu no dia 15/03/2013, às 18 horas, nos Jardins do Teatro José de Alencar, com apresentação do Prof. Márcio Porto e prefácio dos Professores Francisco Linhares Fonteneles Neto (Prof. Associado II da UFRN e Doutorando em História Social UFRN) e Marcos Luiz Bretas (Prof. Associado I da UFRJ).

Como parte da programação do lançamento do livro aconteceu uma palestra, coordenada pelo Policial PM José de Abreu (Assessor Técnico do Instituto Histórico e Cultural da PMCE) no Salão Nobre do Quartel do Comando Geral da PMCE sob o Tema "História da Polícia no Brasil: Problemas e perspectiva", proferida pelo Prof. Dr. Marcos Bretas, com a presença de praças e oficiais, do Secretário da Cultura Prof. Francisco Pinheiro e deste articulista. Ao final da palestra houve debate com os presentes.
O Cel. PM Porfírio de Lima Filho, passou para a reserva re-munerada da PMCE, no dia 31/10/1945 e faleceu no dia 07/02/1962, aos 67 anos de idade, de colapso cardíaco, retornando nesta data a Pátria Espiritual, onde se encontra ao lado de outros milicianos notáveis, protegidos pelos Anjos Potestades da Milícia Celestial.

O autor do trabalho é pesquisador/historiador, Sócio Honorário do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico).

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