segunda-feira, 2 de julho de 2012

Coleção Xilogravuras de Juazeiro


O MAUC detém, sem exagero, um dos maiores e mais valiosos conjuntos de matrizes xilográficas do País. Esse trabalho de recolha e estímulo aos artistas se deve muito ao fundador e primeiro Reitor da Universidade do Ceará, Antonio Martins Filho (1904/ 2002), que trabalhou como aprendiz de artes gráficas em uma tipografia do Crato, cidade onde nasceu. Imbuído da ideia de constituição de um acervo, a Universidade do Ceará formou uma comissão constituída pelos artistas plásticos Floriano Teixeira (1923/ 2000) e Sérvulo Esmeraldo (1929), e pelo crítico e historiador da arte Lívio Xavier Jr. (1930). Eles foram ao Cariri, no início dos anos 1960, com a incumbência de adquirir tacos, trazer cópias de matrizes, e encomendar trabalhos aos artistas de extração popular, que atuavam em torno da edição de folhetos de cordel, na lendária Tipografia São Francisco, empreendimento do editor alagoano José Bernardo da Silva (1901 /1972), estabelecido neste ramo, na cidade do Padre Cícero, desde 1926. Graças à interferência destes emissários da Universidade do Ceará, a xilogravura, anônima, que servia apenas como ilustração para as capas dos folhetos, novenas, benditos, e rótulos para as manufaturas da região, deixou de ser artesanato para se tornar arte. Nesse salto de qualidade, a xilogravura ganhou autores, como Mestre Noza (1897/ 1983), Walderêdo Gonçalves (1920 / 2006), Antônio Lino (1941), e José Caboclo (1941), integrantes de uma geração pioneira. A ideia de arte vinha da peça única, ainda que pudesse ser diluída, posteriormente, pelo próprio autor, como Noza fez com a Via Sacra, da qual temos pelo menos quatro versões, ou com a Vida de Lampião, da qual circulam três variantes. A autoria dava dignidade ao artista, até então artesão, trabalhador anônimo de gravuras sem assinaturas e que se perderiam no esquecimento e na voragem do tempo, não fosse essa possibilidade de ser identificada, catalogada, arquivada com tanto zelo pelo MAUC. Exatos cinquenta anos depois, o baú é reaberto, o tesouro é tornado público pela edição dos álbuns "Apocalipse", de Walderêdo Gonçalves; "As aventuras de Vira-Mundo", de José Caboclo; e "A Vida do Padre Cícero", de Antônio Lino. Incorpora-se a este conjunto uma reedição de "A Vida de Lanpião (sic) Virgulino Ferreira", de Mestre Noza, artista que dá nome ao atelier de gravura do MAUC e que se inscreve como referência da escrita na madeira e da escultura em umburana. A Universidade Federal do Ceará orgulha-se deste tesouro amealhado e faz questão de partilhar esta fruição com aqueles que reconhecem a importância da criação, da valorização da tradição e do patrimônio imaterial de nossa gente.

Jesualdo Pereira Farias
Reitor da Universidade Federal do Ceará


Coube ao professor Gilmar de Carvalho fazer a apresentação dos quatro xilogravuristas que compõem o acervo da coleção. Os volumes da Coleção estão acondicionados numa bonita caixa de papelão com apresentação esmerada e de muito bom gosto. Gilmar de Carvalho é professor doutor da Universidade Federal do Ceará, escritor com vários livros publicados, cidadão juazeirense e uma das pessoas que mais tem contribuído para a divulgação e fortalecimento da xilogravura e da literatura de cordel de Juazeiro e do Ceará.

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