sábado, 17 de setembro de 2011

Recordando as romarias
É interessante a mudança de hábitos, de costumes e de comportamentos. Os tempos mudaram muito, e como mudaram! Recordo a aparência, os trajes e o jeito místico dos romeiros que visitavam nossa cidade tempos atrás. As romeiras usavam vestido bem simples, de chita, pode-se dizer, tecido muito usado naquela época. Largo e franzido na cintura, ou então, saia larga e blusa de mangas compridas. Algumas usavam calça comprida por cima do vestido ou da saia. O transporte usado eram os caminhões pau de arara e para que se acomodassem nos seus assentos tinham que subir numa pequena escada e era por esse motivo que elas usavam a calça comprida. As calçadas lotadas de gente, homens, mulheres, crianças, idosos indo em direção à casa da Mãe de Deus, Nossa Senhora das Dores, ou em busca da Capela do Socorro visitar o túmulo do Padre Cícero e acender suas velas e fazer seus pedidos. Durante o percurso para esses lugares, parava aquele amontoado de gente num local só, a pedir água nas residências ou pedindo informações sobre alojamentos. Mas, existia uma característica essencial que os distinguiam dos demais transeuntes: o ar contrito e piedoso. O aspecto de pessoas fervorosas que buscavam aqui, em nossa cidade, o bálsamo para curar os seus sofrimentos, as suas angústias e doenças. Adquiriam logo o chapéu para se resguardar do sol abrasador. Um rosário nas mãos ou no pescoço e o ar cansado de uma viagem cansativa e sem conforto. Após um pequeno repouso nas pousadas ou ranchos, já bem animados, cedinho começavam a peregrinação pelas igrejas, parecia um formigueiro humano. Após as obrigações religiosas, partiam para a diversão que eram as compras e as visitas aos locais considerados por eles como sagrados, como o Horto, a casa onde Padre Cícero morreu. No comércio, paravam admirados  olhando o movimento nas lojas, o sortimento, e estranhavam os congestionamento dos carros, pois nas cidades de suas origens é difícil esse fato acontecer. As barracas e bancas se instalavam nas Ruas São Pedro com Santa Luzia; São Pedro com Conceição; São Pedro com Rua São João (atualmente Rua Alencar Peixoto), e isso dificultava bastante o trânsito devido o Centro ficar totalmente tomado pelo comércio avulso. Existiam a miudeza, o alumínio, os baldes de zinco, os chapéus, as esteiras de palha, as sandálias de tira expostas no calçamento, o quebra-queixo, a rapadura, a batida enrolada em palha de bananeira, as confecções, as merendas, os sucos com o gelinho ralado, o sortimento era grande para atrair o interesse dos romeiros em comprar. Lembro bem, que nesta época trabalhava na Lojas Credilar e tinha dificuldade em atravessar todo este emaranhado de pontos de vendas para chegar ao trabalho. A concentração maior ficava próximo à Matriz, com pousadas, ranchos e casas de famílias que acolhiam essas pessoas movidas pela fé, enfrentando muitas dificuldades, mas o importante de tudo isso era pagar a promessa feita no momento de aflição e necessidade. Nas imediações da Capela do Socorro era outro local muito procurado pelos romeiros, devido à instalação das bancas e lojas com artigos religiosos. Procuravam se alojar nas casas residenciais próximas, pela localização de serem bem perto dos locais de suas orações, e já confirmavam sua reservas para a próxima romaria. Com o crescimento da cidade, a propaganda também da romaria aumentou e com isso eles começaram a imigrar para outros locais não tão próximos do Centro, crescendo dessa forma a visita para outras igrejas como o Santuário de São Francisco e ao Santuário do Sagrado Coração de Jesus. A figura do romeiro típico de minha infância já quase não vemos mais. Mudou o perfil. O romeiro atual  freta ônibus ou vem em carros pequenos, caminhão pau de arara quase não se vê mais. As roupas, os chapéus que antes eram fabricados aqui na região, de palha, hoje o que vemos é a infiltração crescente do chapéu moderno, colorido, importado da China. Os romeiros e romeiras entraram na era cibernética, no modernismo da tecnologia. Todos portando celulares e máquinas digitais. O famoso fotógrafo do monóculo ou do postal não existe mais. Esta profissão antes tão requisitada foi extinta de nossa romaria. O que se percebe ainda nos visitantes mais velhos é a satisfação, a alegria e o sentimento de devoção, de agradecimento por pedidos alcançados. Entretanto, nos jovens o que eles buscam em Juazeiro é a viagem, o passeio, a diversão, o entretenimento. Que assim seja! E sejam bem vindos!  




Fé e alegria na fisionomia dos romeiros

     Comentários:

- Como sempre você nos fez mais uma vez fazer uma grande viagem no túnel das nossas lembranças... e que lembranças! Era como se estivéssemos vivendo tudo novamente, a escutar os taróis, bumbos, cornetas e ver o corre-corre das pessoas  para assistir o tão famoso desfile de 07 de setembro, como foi bom! Na elegância e disciplina não tinha ninguém que ganhasse do nosso Mons. Macêdo. Era um orgulho. Que saudades! Hoje, tudo tão diferente, como você mesma já disse. Ainda bem que nos restaram as lembranças. A moçada de hoje nem isso tem para recordar. Ficamos no aguardo de suas novas emoções e surpresas.
Marleide Barbosa, Fortaleza

  
- Parabéns pelo belo artigo,- Que memória prodigiosa da escritora Tereza Neuma! Voltei no tempo e me vi desfilando pelo Colégio Salesiano!
Fernando Maia da Nóbrega, Fortaleza

- Que saudades dos desfiles de nossa época, me emocionei ao ver as fotos e todo o comentário que você relatou tão bem, realmente lembra os mínimos detalhes que nos levam a uma maravilhosa viagem, ao nosso passado. Parabéns e continue nos proporcionando momentos excelentes como esses. Ficarei agora uma de suas blogueiras assíduas e apaixonadas.
Jane Cristina, Juazeiro do Norte

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