quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Afaj festeja Padroeira de Juazeiro em Fortaleza


Como vem realizando há vários anos, a Associação dos Filhos e Afilhados de Juazeiro do Norte – AFAJ, sediada em Fortaleza, reuniu seus associados e a comunidade caririense para a celebração do dia da Padroeira de Juazeiro do Norte, com Missa Gratulatória em honra de Nossa Senhora das Dores. O evento aconteceu na capela de Nossa Senhora das Graças, no interior do Hospital Militar, na Aldeota (Av. Des. Moreira esquina com a rua Torres Câmara). Pelo sexto ano consecutivo, foi prestada uma homenagem a uma senhora da comunidade juazeirense nesta capital. Ela, na companhia de seus familiares, recebeu de presente da AFAJ uma imagem de Nossa Senhora das Dores e lhe foi prestada uma homenagem por sua vida dedicada à família e ao Juazeiro. Este ano, por unanimidade, foi escolhida a senhora Maria Consuelo de Figueiredo (vista na foto acima). Sobre ela, foi lido na oportunidade o seu perfil elaborado pelo diretor Renato Casimiro, destacando suas qualidades morais e profissionais.
 Maria Consuelo de Figueiredo nasceu na rua do Padre Cícero, na casa de número 152, no dia 31 de maio de 1920. Seus pais eram João José de Figueiredo, que se conhecia mais como João Alencar de Figueiredo, por alteração do próprio nome na sua maturidade, e Zulmira Roza de Figueiredo. Antes de vir morar em Joazeiro, João Figueiredo havia sido um dos soldados da borracha, que se alistara para o desbravamento e o alargamento da fronteira do país para o norte, na região amazônica, no território do Acre, no começo do século. Ali também explorara jazida de ouro e pedras, talvez tendo sido por isto que terminou por aportar na cidade que já se consolidava como pólo joalheiro, com grande número de ourivesarias, mercê do seu apurado artesanato. Nas suas origens, João era filho do português Antonio Maria de Figueiredo e de Ana Tranquilina Bastos de Figueiredo. De Zulmira, se sabe que era uma das filhas do casal Antonio Paz da Silva Roza e de Jacinta Umbelina Brasileiro Roza.
Com menos de um mês do nascimento da filha Consuelo, seus pais procuraram o Padre Cícero para que apadrinhasse a garota que seria batizada na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores, oficiada pelo primeiro vigário da paróquia, Pe. Pedro Esmeraldo da Silva. Pelas penas impostas ao velho patriarca, Padre Cícero teve que submeter ao seu bispo diocesano uma petição onde se lia: “Ilmo. Sr. Bispo do Crato. O Padre Cícero Romão Baptista, presbítero secular, residente em Joazeiro, nessa Diocese, humildemente pede a V. Excia. que se digne conceder-lhe licença para ser padrinho de uma criança, filha legítima dos Sr. João Alencar de Figueiredo e da sra. Zulmira Roza de Figueiredo, residentes nesta cidade. Nestes Termos. Pede Deferimento. Joazeiro, 28 de junho de 1920. Pe. Cícero Romão Baptista.” No mesmo documento, o bispo diocesano despachou prontamente: “Como pede. Crato, 01.07.1920. D. Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva.”
Nesta época em que nasceu Consuelo, seu pai era próspero comerciante no ramo de artigos religiosos, estabelecido com loja bem situada na rua Nova, esquina de Padre Cícero, onde muitos anos depois foi instalado o Ginásio Santa Terezinha e depois Monsenhor Macedo. Dentre os seus colaboradores na loja, Consuelo lembra particularmente de José Edwiges e Joaquim Estevão Barbosa (Joaquim Mancinho). Este último, por sinal, ingressaria também e com sucesso, no comércio varejista de produtos religiosos. Além desta atividade, João Figueiredo era escrivão da Coletoria Federal, ao tempo em que o titular era Fausto da Costa Guimarães. Num dos mandatos do prefeito José Geraldo da Cruz, João Figueiredo foi dedicado funcionário administrativo da municipalidade.
Consuelo foi a penúltima dos filhos, do primeiro casamento de seu pai. Antes dela vieram Edgar Roza de Figueiredo, que casou com Maria do Carmo e a família viveu na Bahia; Violeta de Figueiredo Galvão, que casou com Antonio Lacerda Galvão e residiriam em Recife; João Figueiredo Filho, que casou com Raimunda Pereira de Figueiredo, filha do grande mestre artesão João Pereira, e que ainda hoje reside em Juazeiro; José Maria de Figueiredo, que casou com Maria Alacoque Bezerra, sempre residentes em Juazeiro do Norte, e Mirian Figueiredo que casou com Eustáquio. Complicações no parto de Mirian determinariam o falecimento precoce de dona Zulmira. Consuelo perdeu sua mãe com a idade de três anos. Três meses depois deste fato, João Figueiredo se decidiu por contrair novo casamento. Sua segunda mulher se chamava Hilda Bezerra Figueiredo, e lhe deu duas filhas: Julieta de Figueiredo e Ana Matos de Figueiredo (Nininha). Na terceira gravidez, Hilda não resistiu e faleceu. Novamente, João Figueiredo se casa com Maria Soledade de Figueiredo, com a qual teria os filhos Antonio Figueiredo Sobrinho, Nelson Alencar de Figueiredo e Gilda Alencar de Figueiredo Moreira.
No Joazeiro, Consuelo freqüentou, entre 1928 e 1932 a escolas particulares de Adelaide Melo, de Amália Xavier de Oliveira e dona Nina Milfont, esposa do prof. Edmundo Milfont, que também tinha escola particular para rapazes. Nesta escola, que funcionava onde depois se instalaria a conhecida Farmácia Brasil, de Dr. Belém, Consuelo cumpriu parte dos anos da sua formação primária. Antes de concluí-los, decidiu ir morar em Recife, junto a sua irmã Violeta, e aí continuou os estudos no Grupo Escolar de Olinda. Aí se demorou por quatro anos, retornando a Juazeiro para fazer o então exame de admissão e ingressar na Escola Normal Rural, em busca de sua formação de professora ruralista, o que obteve entre 1936 e 1940. Em 1940, no dia primeiro de dezembro, no palco do Cine Roulien, Consuelo recebeu o seu diploma de professora, numa turma de 25 concludentes, paraninfada pelo Dr. José Martins Rodrigues, onde se destacavam, dentre outras, pessoas estimadíssimas como Mundinha Paiva, Luzieta Melo, Argina Figueiredo, Maura Almeida, Miguelina Araújo, Aila Almeida, Carmelita Guimarães, Celina Callou, e Haidê Maia.        
Entre 1941 e 1942, Consuelo dedicou-se ao magistério em escola particular em Juazeiro. Em 29.08.1942 casou com Jasson Conrado Brasileiro e o casal foi residir em Missão Velha. Deste relacionamento não houve descendência. Em 1944 o casal muda-se para Fortaleza, onde Consuelo passou a ministrar aulas num colégio público municipal do bairro do Alto da Balança, graças ao apoio do ex-prefeito Antonio Conserva Feitosa e do então prefeito de Fortaleza, Acrísio Moreira da Rocha. Em 26 de novembro de 1945, ausente de Juazeiro, Consuelo perde seu pai, falecendo com pouco mais de 64 anos de idade. Na gestão municipal do prefeito Paulo Cabral de Araújo, Consuelo é empregada no Instituto de Previdência de Fortaleza (IPM), a partir de 1954. Posteriormente prestou concurso e foi efetivada, mantendo-se no cargo até a sua aposentadoria. No órgão, respondeu pelas chefias dos setores: Serviços Gerais, Assistência, Expediente, e Pessoal. Na sua capacitação realizou cursos de formação em Reforma Administrativa (1969), Relações Públicas (1973), Relações Humanas (1973), Chefia de Pessoal (1975), Administração Pública (1975), Administração de Pessoal (1975), Gestão de Pessoal (1975) e Redação (1976). Ainda no IPM, na gestão do prefeito Murilo Borges Moreira, Consuelo foi designada presidente do órgão a que servia, por três meses. O presidente anterior, vereador Roberto de Carvalho Rocha teve de reassumir o seu mandato, tendo antes feito a indicação de sua substituta. Consuelo foi, deste forma, a primeira mulher a ocupar um cargo de Diretoria num órgão público municipal no Ceará. Com a sua aposentadoria do IPM, com grande vitalidade e disposição, Consuelo assumiu, na administração do então prefeito Evandro Aires de Moura, a partir de 1973, as funções de Diretora Administrativa na Fundação Educacional de Fortaleza (FUNEFOR). Ali trabalhou por 16 anos ininterruptos. E só parou de trabalhar quando a compulsória lhe chegou, em 1990, tendo sido aposentada por ato do então prefeito Juraci Vieira Magalhães, em 21.08.1990. 
Ainda na sua juventude, por quase 14 anos, Consuelo recorda que viveu muito intimamente ligada à casa do Padre Cícero, pelos laços de grande amizade de sua família e a casa do Patriarca. Aliás, o comércio de artigos religiosos da família, a sede da Coletoria Federal e a residência de Padre Cícero e Floro eram três casas juntas na antiga Rua Nova. Quando Padre Cícero faleceu, Consuelo não foi uma das que estiveram presentes ao seu velório, ainda residia em Olinda, e esta foi das mais profundas tristezas que a vida lhe reservou. Na casa de Consuelo, frequentemente, o mestre Chiquinho barbeiro ia cortar o cabelo de Padre Cícero, que ali sempre trocava de batina, deixando-a para ser lavada. Por muitos anos, Consuelo guardou com carinho uma destas preciosas batinas, um presente que o patriarca lhe destinara.
Recentemente, em 22.07.2011, Consuelo Figueiredo recebeu homenagens da municipalidade juazeirense, com uma placa comemorativa e da Comissão do Centenário de Juazeiro do Norte, um diploma de Honra ao Mérito pela sua colaboração ao desenvolvimento da cidade, entregues em cerimônia no Memorial Padre Cícero. Quem hoje visita Maria Consuelo de Figueiredo, a Consul – o tratamento carinhoso para com a amiga afetuosa, fiel e devotada, em sua acolhedora residência da rua Pinto Madeira vai encontrar naquele recanto que lhe cerca no dia-a-dia a imagem plena de uma mulher realizada, feliz e em paz com a vida e com os seus. Expressa com alegria e espontaneidade a gratidão por pessoas que foram muito importantes na sua vida, como os irmãos Bezerra (Alacoque, Adauto e Humberto, especialmente), bem como da inesquecível amiga e professora Generosa Ferreira Alencar, dentre muitos outros, mercê de seu reconhecimento. São de Alacoque e Generosa os termos destas homenagens a Consuelo:
“Consul, você é uma das pessoas mais queridas que tenho. É uma irmã adorável que tenho e que quero conservá-la a vida inteira. É desejo meu terminarmos juntas para alegria minha e sua. Um beijão, Alacoque.”
Consul, irmã amiga: A amizade é uma árvore plantada no coração. Cria raízes profundas, flores e frutos. A amizade que te dedico desde a tua infância, é perene. Tem raízes na tua família e na ligação da mesma com o Padre Cícero. Ela não morrerá e será tão duradoura quanto couber na minha e na tua existência. Um amplexo carinhoso da amiga que te dedica muito afeto e carinho. Generosa Ferreira Alencar”
Sorridente e brincalhona ela recorda diariamente o povo e o lugar do Juazeiro. Não tendo constituído família, vive esta plenitude de dedicação a tantos sobrinhos e sobrinhos-netos que lhe cercam com o afeto que expressam a gratidão por todo este serviço espontâneo e duradouro de sua existência. Adotou, criou e educou para vida o Jasson, hoje um oficial saído das Agulhas Negras, tenente da carreira militar no Rio de Janeiro. Na sua sala de estar, as paredes revelam, ao primeiro contato, a reprodução fiel deste calor que foi emanado do seu Joazeiro, desde a meninice buliçosa de uma garota que entrava e saia da casa do Padre Cícero, onde ali se reservava um prato farto de almoço, a bênção do santo padrinho e a convivência com os da casa, como se esta fosse a sua própria. E não precisava muito. Bastava dizer: “ - Mestre Antonio, é a Consuelo!!!” e a porta se lhe abria. Como todo juazeirense, devota de Nossa Senhora das Dores, fiel à herança do Patriarca Padre Cícero Romão Baptista, Maria Consuelo de Figueiredo é merecedora de nossa admiração e das nossas homenagens, na oportunidade em que rogamos, com nossas orações aos nossos santos, para que sobre si e sua família inteira, se derramem graças por todos os anos de sua existência benemérita. É este o tamanho do nosso orgulho e do nosso carinho.(Texto e fotos de Renato Casimiro, de Fortaleza)
  

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