terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Juazeiro combate a intolerância religiosa

COMBATER A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E ÉTNICO-RACIAL PROMOVENDO UMA CULTURA DE PAZ

O combate a intolerância religiosa e étnico-racial se faz necessário não apenas como utopia ou sonho, mas como realidade vivida aqui e agora. Não adianta fingirmos nos iludindo com a idéia de que está tudo muito bom e que a sociedade brasileira é pacífica e ordeira, não é bem assim. Não promover guerras e não tolerar violências provocadas pelo racismo ou qualquer tipo de intolerância, não significa necessariamente que vivemos em paz, pois a violência não se caracteriza apenas de forma direta com agressões físicas e verbais. Mas também se dá de forma simbólica, silenciosa e indireta, assim como foi com a guerra fria no final da segunda guerra mundial (1945). Talvez essa seja a política de enxugar gelo, onde todos estão tratando do assunto, no entanto o problema se agrava ainda mais.
É justamente esse tipo de violência simbólica, silenciosa e ideológica que devemos combater para que possamos viver de forma concreta e real numa sociedade tolerante e respeitosa diante das diferenças, principalmente quando o assunto refere-se aos grupos étnicos e raciais com suas religiões de matrizes indígena, africana, indiana, dentre outras.
Na tentativa de contribuir com uma cultura de paz por reconhecer a gravidade da discriminação religiosa, o ex. presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 11.635 de dezembro de 2007 onde diz no Art. 1º: Fica instituído o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa a ser comemorado anualmente em todo o território nacional no dia 21 de janeiro. No Art. 2º enfatiza que esta data fica incluída no Calendário Cívico da União para efeitos de comemoração oficial. A data é uma homenagem à memória de Mãe Gilda, da Bahia. Ela teve sua fotografia publicada em um jornal evangélico de grande circulação, associada ao charlatanismo. Fragilizada por esse atentado moral a mãe de santo faleceu de infarto em 21 de janeiro de 2000.
Vamos Fazer valer esta lei participando ativamente da programação do dia 21 de janeiro de 2011, dia em que acontecerá a segunda caminhada contra a intolerância religiosa em Juazeiro do norte com o tema: Somos Todos Filhos de Deus. A concentração será na praça da prefeitura as 14:00 horas saindo em passeata até a praça Pe. Cicero. Vamos todos, vestidos de branco, participar desse ato de democracia em defesa de uma cultura de paz.
Ao falarmos em combater a intolerância religiosa e promover a dignidade humana não poderíamos deixar de registrar um fato histórico e profético protagonizado pelo Santo da nação romeira, Pe. Cícero, testemunhado pelo escritor Vicente Ribeiro Sobrinho e registrado em seu livro, Juazeiro de Ontem e de Hoje. O autor relata que até 1926 não se conhecia no Cariri outra religião a não ser a Católica Apostólica Romana. Foi quando chegaram três evangélicos da Primeira Igreja Batista, cuja finalidade era fazer um culto em praça pública nas principais cidades da Região, ou seja, Juazeiro, Crato e Barbalha, mas a caravana de pastores só teve acolhimento digno onde eles menos esperavam: Juazeiro, pois era considerada por muitos como terra de fanáticos, todos já esperavam que fossem linchados. Pe. Cícero, na época era prefeito da Cidade. Ao chegarem à casa do Padre todos foram bem recebidos ao abordarem a finalidade da viagem. O Padre então lhes falou: “Meus amiguinhos a lei garante a vocês o direito de expressão, e eu atualmente sou o homem da lei nesta cidade. Não vou proibir. (...) Prometo, que não haverá nenhuma manifestação contrária, que os impossibilitem de realizá-lo”. Foi aí que o Padre Cícero mostrou sua autoridade e seu alto espírito de democracia. Sua postura liberal e respeitosa foi louvada e exaltada em toda a Região, tinha como exemplo de passividade e equilíbrio no trato com as diferenças.
Este ato nobre de tolerância religiosa de Pe Cicero foi muito bem seguido pelo grande vigário do nordeste monsenhor Murilo de Sá Barreto. Vejamos o que afirma o renomado historiador juazeirense, Daniel Walker a esse respeito: “Convivi com Padre Murilo por mais de 40 anos e posso lhe garantir que ele não hostilizava as outras religiões. Lembro até que ele mantinha bom convívio com vários pastores protestantes e pessoas espíritas” . São exemplos como esses que devem ser seguidos por todos nós em especial por outros lideres religiosos e políticos. A propósito, o Secretário-Geral da ONU Ban Ki-moon, em Assemblei Geral, proclamou o ano de 2011 como “Ano Internacional para Afrodescendentes” no objetivo de erradicar a discriminação a descendentes de africanos, bem como promover o respeito à diversidade e herança culturais .
Portanto, faz-se necessário combater o mau pela raiz, ou seja, começar pela base do problema que acredito ser a falta de uma educação de qualidade. Como bem escreveu Paulo Freire, "Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda" . Concordando com Freire não se combate qualquer tipo de intolerância, preconceito ou ignorância sem investir prioritariamente na educação. Mas não é só isso. Nós educadores devemos ter consciência ética e crítica diante do que e como ensinar aos nossos alunos e filhos, pois, de forma indireta e silenciosa podemos estar ensinando que é natural e normal tratar o outro com intolerância, indiferença e discriminação, principalmente quando reproduzimos de forma acrítica as ideologias do sistema capitalista manifestada abertamente através de mídias, de piadas e músicas, de forma irresponsável sem o menor nível cultural. A verdade é que os princípios morais e éticos são frutos de uma educação sólida e efetiva que começa em casa sendo aperfeiçoada na escola, universidade, grupos religiosos e etc. trata-se, pois de não mais perdermos tempo com picuinhas e investirmos no que é mais necessário e urgente. Ao invés de ficarmos discutindo sobre qual a melhor religião, vamos refletir juntos de forma racional e ética sobre o que os lideres religiosos e leigos estamos fazendo ou poderíamos fazer pelo outro, pela promoção da justiça social e pela dignidade humana. Isto sim é uma discussão salutar capaz de apontar alternativas de salvação e libertação para quem já perdeu as esperanças e a força de lutar por uma vida digna e respeitada por todos.

Prof. Edilson Botelho Pereira Luna
JUAZEIRO DO NORTE - CE

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