sábado, 20 de agosto de 2011

Brincadeiras do meu tempo de criança - I
  Amanhã se comemora o “Dia do Folclore”, por esse motivo achei interessante colocar na Coluna desta semana brincadeiras que fizeram parte da minha infância e da de vocês também, e que hoje caiu em desuso. Essas brincadeiras que foram passando de gerações e que aprendemos com os nossos pais, nas escolas e com os nossos amigos. Lembram-se do Chicote queimado? Escolhia-se um objeto para ser o chicote queimado, um pedaço de corda, cinturão ou um lenço enrolado. Os participantes da brincadeira cobriam com as mãos os olhos, enquanto outra criança escondia o chicote. Os participantes saíam à procura do chicote já com os olhos destampados. Começa, então a procura, todos se espalham e à medida que alguém se aproxima do objeto, a pessoa que escondeu o chicote diz “está quente”; quando  está longe diz “frio, geladeira”. E as informações continuam, esquentando ou esfriando conforme a distância. E quando está muito perto do chicote, responde gesticulando, com as mãos balançando, e exclamando “tá pelando”. Quem encontra o chicote, pega e sai correndo atrás de outra criança. Aquela que for tocada levemente pelo chicote será a próxima a escondê-lo. Era uma brincadeira sadia e divertida.

Boca-de-forno, outra brincadeira que nos divertia muito. Escolhia-se uma criança para iniciar a brincadeira, sendo chamada de Mestre e coloca-a ao centro da roda. Ela começa o jogo dizendo: - Boca de forno? Todos respondem: - Forno!- Tirando o bolo? A resposta:- Bolo! - Farão tudo que seu mestre mandar? Todos repetem:- Faremos!
- E se não fizerem?  Respondiam: - Ganharemos bolo!
- O Mestre ordena que seus subordinados executem a tarefa que ordenar, como: beijar um poste, dar "boa noite" a alguém que passava na rua, trazer um objeto de sua casa, se ajoelhar no meio da rua (pedra ou paralelepípedo), esta tarefa ralava os joelhos, mas tinha que obedecer, caso contrário era castigado. As crianças partem em direção ao alvo, cumprem a tarefa proposta pelo Mestre e voltam em disparada, pois o último que chegar leva bolos e fica na espera do castigo que receberá. Antes de aplicar o bolo o Mestre pergunta: - Que tipo de bolo vou dar nesse aqui? E quantos? E todos dão palpites. Mas o mestre diz a palavra final. De que tipo seriam os bolos: de padre: bate-se levemente e diz: não cometa mais isto! De tia: finge que vai bater com força e bate leve. De mãe: bate severamente. De pai: bate forte (era o mais forte!). Estes bolos eram aplicados na mão direita do perdedor.

Jogo das cinco marias ou de xibiu, brincadeira exclusiva de meninas, meninos não tinham vez. Noutros lugares brinca-se com pedrinhas escolhidas do mesmo tamanho, mas em nossa região, o Cariri, por possuir muita macaubeira, usa-se o fruto desta planta  a macaúba, na forma de bago, ou xibiu como é mais conhecido popularmente. O bago é a macaúba sem a parte comestível. Dentro do bago ainda tem outra parte comestível, que é o coco. Para que o jogo aconteça forma-se uma roda de meninas, sentadas no chão, e sorteia-se a que iniciará a brincadeira. No início da brincadeira, ou primeira rodada, jogam-se todos os xibius no chão e retira-se um deles (normalmente se tira o que está mais próximo de outro). Depois, com a mesma mão, joga-a para o alto e pega-se um dos que ficaram no chão. Repete-se o procedimento até pegar todos os xibius. Segunda rodada: joga os cinco xibius no chão, depois tira um e joga-o para o alto, porém desta vez pegam-se dois xibius de uma vez, e mais o que foi jogado para o alto. Repete. Terceira rodada: cinco xibius no chão, tira um e joga-o para o alto pegando desta vez três xibius e depois o que foi jogado. Última rodada: joga-se o xibiu para o alto e pega-se todos os que ficaram no chão. 
O número de pontos a ser atingido deve ser combinado entre os jogadores, e nessa contagem é que se conhece o ganhador da brincadeira. Nesta brincadeira me deleitava dias e dias, as costas doíam, devido a posição, mas nada disso me impedia de brincá-la. É bom enfatizar também que a disputa era grande porque havia vários participantes e demorava muito a chegar a vez do próximo quando participavam grandes campeãs.
Nas fotos abaixo vemos o manuseio dos xibius e a macaúba com a parte comestível e na forma de xibiu. 



O tema da Coluna sobre frei Damião gerou mais informações que escaparam da minha memória e aproveito para agradecer as contribuições de Marizete Carneiro e Lourdes Marques. Elas lembraram de outras informações que tiveram um papel muito importante nas missões do frade. Lourdes me forneceu um livrinho contendo a música citada abaixo. Marizete lembra que muito criança o acompanhava, ele na frente andando bem apressadinho e cantando:
                                          Vinde pais e vinde mães,
                                          Vinde todos a missão
                                           para cuidar como cristãos,
                                           de alcançar a salvação.

                                           Pecador arrependido,
                                           pobrezinho pecador
                                           vem abraçar-me contrito,
                                           sou teu pai, teu Criador.

                                           Ovelhinha desgarrada,
                                           nas vagas da solidão
                                           volta, volta, mas não sigas
                                           as vias da perdição.

                                           Para lavar as nossas culpas
                                           morreu Cristo numa cruz.
                                           Vinde pais e vinde mães
                                           quem vos chama é o bom Jesus.
                                          
                                            Ouvi, pais, os nossos rogos!
                                            Ouvi, mães, nosso bradar!
                                            Pois uma alma a temos todos.
                                            E o que importa é se salvar.

                                            Vossos filhos vo-lo pedem,
                                            vinde todos a Missão               
                                            vinde por amor de Deus,
                                            para cuidar da salvação. 



Um comentário:

Anônimo disse...

Muito interessante , enriquecedor esse assunto. Pena que a mídia eletrônica destruiu essas brincadeiras tão divertidas e os nossos gestores culturais não atentem para isso.
Lembrei das renovações e da brincadeira de "passar o anel".
Ah, na brincadeira de Boca de Forno a gente falava assim:
Boca de forno ? forno
Jacarandá ? já
Quando eu mandar / Vou
E se não for? ? Apanha
Maninha, maninha mandou (aí diz a tarefa)