sábado, 6 de agosto de 2011

 As missões de Frei  Damião
 Remexendo nos meus arquivos fotográficos encontrei uma foto de frei Damião e num piscar de olhos me veio à memória as Missões praticadas por ele, frade capuchinho de origem italiana, que fixou residência no Nordeste, exatamente em Recife, no ano de 1931. A sua grande meta era atrair grandes multidões para pregar a palavra de Deus nos locais mais longínquos, e foi assim que adentrou nos sertões pernambucanos e cearenses chegando à Juazeiro do Norte acompanhado de frei Antônio em 1936. Os seus sermões, seguidos de aconselhamentos e confissões constituíam sua ação pastoral. Dessa forma, de maneira simples, modesta e acolhedora começou a angariar fiéis que o seguiam com o propósito único de estar perto de uma pessoa de Deus, que transmitia o verdadeiro sentido da religião. A cada dia crescia o número de seguidores que o acolhiam e que o acompanhavam. E foi assim que, ainda criança, acompanhada dos meus pais fui ao  Sítio Coité, município de Caririaçu (antigamente chamado de São Pedro) para assistir às Santas Missões pregadas por ele. Este sítio pertencia ao senhor Jenário Oliveira, próspero comerciante de nossa cidade e amigo fiel de frei Damião. As lembranças que tenho dele é de uma pessoa de estatura baixa, olhinhos azuis, mãozinhas bem gordinhas, fofas e de dedos curtinhos e gordos. Barba comprida, cabelo bem aparado e com a coroinha (usada antigamente pelos padres) no meio da cabeça. Voz baixa e com sotaque italiano. A batina marrom e um cordão branco amarrado em sua cintura, lembro que costumava ficar segurando a ponta do cordão, enquanto confessava. Recordo que mamãe me levou até ele e disse: “Frei Damião, queria que o senhor colocasse uma bênção nesta menina porque ela chora demais, não acho isso normal”. Ele, de cabeça baixa (não gostava de levantar a vista para as pessoas) disse: “Ela não tem nada, deixe ela chorar, não faz mal nenhum”. Na ocasião das pregações ele aproveitava para aconselhar, orientava para o matrimônio religioso e para a conversão. Empolgados com a sua fala o povo sensibilizado aplaudia e não se cansava. Seus sermões duravam de 40 minutos a uma hora. Em conversa com minha amiga Suleta soube mais detalhes de sua permanência no Coité, as quais são narradas a seguir. Eram três dias de missões, acorria gente de Juazeiro e da redondeza. O sítio ficava todo iluminado, eram colocadas lâmpadas em redor da casa, clareando todo o ambiente próximo do altar. Tinha pequenas levadas cheias de pedrinhas que ficavam bem na entrada do sítio e muitas bananeiras. E era neste clima de paz, de contato com a natureza que frei Damião fazia suas pregações. Seu Jenário mandava matar até boi e distribuía comida com todos. Essas missões aconteciam sempre no mês de novembro, data do aniversário do frade. A maneira sugestiva que frei Damião utilizava para acordar as pessoas para acompanhá-lo na procissão da madrugada, precisamente às 4h, era balançando um pequeno sino. As pessoas acordavam, o sono ia embora rapidinho e o seguiam nesta procissão pelo sítio, todos animados e cantando. Usava também uns ramos na mão e molhava com água benta e benzia às pessoas. Em seguida celebrava-se a missa. Outra informação prestada por Suleta, foi de uma cura que aconteceu em um homem que chegou todo trêmulo, apoiado por familiares, pois ele não conseguia ficar em pé, devido os tremores, principalmente na cabeça, também não conseguia se alimentar, não podia colocar a comida na boca, caía. Frei Damião pediu que o trouxesse para mais próximo dele e com o cordão de São Francisco que estava atado em sua cintura começou a  bater no homem e, orando por alguns minutos, de repente, o homem parou de tremer ficou firme, como se nunca tivesse lhe acontecido nenhum transtorno. Este é um dos fatos presenciados por muitas pessoas e que foi feito por ele que são considerados extraordinários. Varava à noite sua disposição para confessar, ia até mais de meia noite, tinha paciência para escutar e não se cansava. Gostava de colocar sua mão na cabeça do fiel, dizendo: “Vai filha (filho) de Deus e se arrependa dos seus pecados”, e recomendava a penitência. Era um frade caminhante, andante. O missionário frei Damião deixou sua marca pelo contato permanente com o povo, com a massa. A sua experiência missionária foi intensa no Nordeste, ele percorreu estradas a pé, a cavalo e já idoso, de carro. No Santuário de São Francisco, dos capuchinhos, a sua Ordem religiosa, ele passava dias pregando e confessando e visitava as famílias. Segundo informações de Dona Lucy, minha  amiga e vizinha, foi ele quem instituiu a Hora da Graça, nos Franciscanos. Ela afirmou também que bem criança acompanhava sua mãe e sua irmã, para as procissões de madrugada, quando chegava lá no Santuário ele já estava em caminho com uma multidão, ele na frente cantando e rezando e benzendo com um ramo por onda passava. Voltava para o Santuário para a celebração da missa. Quando elas retornavam para casa já passava das 9h. Recorda também que sua mãe já viúva pedia sempre um aconselhamento para um negócio que precisava fazer. Em sutis pinceladas seguem mais um pouco das minhas lembranças de criança, hoje com a figura de uma pessoa que dedicou toda sua vida a serviço de Deus, como um instrumento de paz e de evangelização. Por ter sido (e ainda é, mesmo morto) pessoa muito querida em nossa cidade frei Damião foi homenageado aqui com nome de rua, praça e bairro. Ele morreu no dia 31 de maio de 1997, em Recife, e muita gente de Juazeiro foi assistir ao seu sepultamento. O processo de canonização de frei Damião está em curso no Vaticano e no momento ele já está na categoria de Servo de Deus.  

 Frei Damião com o corpo já bastante encurvado e uma das suas inúmeras estátuas de gesso comercializadas
 Missa celebrada no sítio Sussuarana, Juazeiro do Norte. Estátua na praça em frente o Santuário de São Francisco
 Celebração em Juazeiro do Norte
 


 Esquife com o corpo de Frei Damião (em resina) quando de sua exposiçao no Ginásio Poliesportivo.
 Fotos do Arquivo de Salete Melo, Suleta Fernandes Macedo e Daniel Walker/Renato Casimiro/Juaonline 

 E-mails recebidos:

Olá prima querida,  como sempre adorei seu artigo. Achei superinteressante ressaltar a forma dos cortes de cabelos da garotada da nossa época. Se prestarmos bem atenção os cortes ou outras modas sempre voltam de uma maneira diferente.

Foi muito bom ver a foto do Paulo, que lindo!!

Continue a nos alimentar com essas recordações maravilhosas que nos enche à alma.

Bjs

Marleide Fernandes Guimarães, Fortaleza, Ceará



Encontrei seu blog e achei interessante, o assunto do livro O Diário de Ana Maria, de autoria do padre francês Michel Quoist, pois foi também meu livro de cabeceira. Ganhei o livro em 1970 do meu primeiro namorado, ele era meu professor de português. Quando começamos o namoro eu tinha 13 anos e ele 22 anos. Ele logo percebeu que eu era muito desinformada, e me presenteou como você escreveu. Não contava muito com as informações esclarecedoras e necessárias que as garotas daquela época e, como este livro me ajudou, porque até me incentivou a criar um diário também... Assim aprendi muito. Sento saudades deste livro. Fez parte da minha juventude. Guardei-o na casa dos meus pais, mas hoje não o tenho mais. Minha mãe não tem muito conhecimento do valor de se trabalhar a memória. Adorei seu blog.

Maryane, Ipueiras, Ceará



Resposta:

Que bom que este artigo lhe trouxe belas recordações, é muito animador tomar conhecimento de que as pessoas estão apreciando o que estou escrevendo. Minha coluna é apresentada todo domingo, com exceção no período que viajo. Continue acessando este blog, dá-nos muito prazer.

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