segunda-feira, 26 de julho de 2010

ATOR JUAZEIRENSE VAI ESTREARCOMO DIRETOR


Novo desafio

José Wilker se prepara para estrear como diretor de cinema com 'Giovanni Improtta'

10/07 às 08h36 Rodrigo Fonseca

José Wilker, ator e diretor -  Foto Leonardo Aversa  /   Agencia O Globo

RIO - Esteja onde estiver, o diretor da Rádio Clube de Pernambuco que, em 1960, reprovou o adolescente José Wilker Almeida em um teste para locutor vai sentir um baita orgulho ao saber que o lourinho cearense que descartou está a um passo de dirigir seu primeiro longa-metragem - além de ter se tornado um dos maiores atores do Brasil. Em outubro, aquele ex-garotão de 13 anos (hoje com 62) que um dia tentou ser radialista filma "Giovanni Improtta", do qual também é protagonista. Nele, retoma o papel do bicheiro de fala empolada criado por Aguinaldo Silva e imortalizado na novela "Senhora do destino" (2004) com o bordão "Felomenal!".

- Na sinopse da novela, a descrição de Giovanni tinha três linhas. Resolvi interpretá-lo achando que ia gravar pouco. Mas eu me enganei. Giovanni foi crescendo, crescendo, crescendo... O melhor que pode acontecer a um personagem é o público se apropriar dele. Se eu tivesse que resumir o filme sobre Giovanni a grosso modo, diria que ele será um "Godfather" ("O poderoso chefão") nacional: um sujeito com um passado criminoso, acostumado a resolver a bala o que o incomoda, tenta se tornar uma pessoa legal - diz Wilker, que, antes de filmar, vai estar ocupado com a maratona promocional da comédia política "O bem amado", dirigida por Guel Arraes e agendada para chegar às telas no dia 23.

Seu desempenho como o pistoleiro arrependido Zeca Diabo o transformou em um ímã de elogios no último Cine-PE, em Recife, mesmo lugar onde a reprovação da rádio abriu-lhe as portas para a arte de interpretar.

- Fiz o teste com Evandro Vasconcelos lá na Rádio Clube de Pernambuco. Alternava os graves e agudos de todo adolescente que está mudando de voz. Mas o Evandro ficou tão chateado por ter me reprovado que virou para mim e disse: "Olha, tem vaga para ator. Você quer tentar?" Aí eu virei ator. Fiz um cobrador em "Um bonde chamado desejo", com a Heloísa Helena como Blanche DuBois; fui um transeunte em "O diário de Anne Frank"; e levei um soco no seriado "O gavião". Ah: eu também fui o parada, aquele cara que entrega objetos para os artistas no picadeiro, no "Cirquinho na TV", no qual entrava em cena vestido de palhaço. Saí dali para fazer teatro no MCP (Movimento de Cultura Popular, que usava arte para promover alfabetização) e não parei - lembra Wilker, que trabalhou em 58 filmes, de "A falecida" (1965) a "O bem amado" (2010).

Entre os longas de que participou está o maior fenômeno de bilheteria da história do cinema brasileiro: "Dona Flor e seus dois maridos" (1976), visto por 12 milhões de pagantes. Três anos depois, ele faria um primeiro ensaio para se tornar um cineasta, dirigindo o curta-metragem documental "1979 - Arraes de volta" em parceria com o fotógrafo Lauro Escorel. Aliás, é Escorel quem vai fotografar "Giovanni Improtta".

- Acompanhamos o Miguel Arraes do Rio até Recife. É um filme sem narração. Minha voz só aparece entrevistando as pessoas. Foi o (Luiz Carlos) Barreto quem produziu a gente. E sabe que esse filme ficou desaparecido por um tempo por razões políticas? Eu até tenho uma cópia em DVD, mas emprestei e ainda não me devolveram - lembra Wilker, que ainda este ano deve ser visto em "Elvis & Madona", de Marcelo Laffite, e em "Matraga (A hora e a vez)", de Vinícius Coimbra, no qual interpreta um dos maiores matadores da fauna de Guimarães Rosa, o jagunço Joãozinho Bem-Bem.

Escorel está seguro de que vai encontrar um diretor bem preparado nas filmagens de "Giovanni Improtta":

- Acompanho o Wilker há anos, desde um curta chamado "Paixão", feito para o extinto Festival JB, do qual ele foi ator. Fizemos vários filmes juntos. Um dia, quando lançou seu livro (a coletânea de crônicas "Como deixar um relógio emocionado", de 1996), ele me escreveu uma dedicatória dizendo: "De um relógio para outro relógio." Era uma referência ao perfeccionismo que nós dois temos.

Originalmente, quando comprou os direitos do personagem de Aguinaldo Silva, Wilker pensava em Cacá Diegues para dirigir "Giovanni Improtta". Trabalhou com Diegues em cinco longas, entre os quais o cultuado "Bye bye Brasil" (1979), que lhe rendeu uma recente (e emocionante) experiência na Ásia. Wilker acaba de chegar de Taiwan, onde foi jurado da mostra New Talents Competition no Taipei International Film Festival.

- Um dia, saindo de uma sessão, um oriental veio na minha direção me cumprimentar. Era Tsai Ming-liang (cineasta malaio, radicado em Taiwan, premiado no Festival de Berlim por "O rio" e "O sabor da melancia") me dizendo que decidiu fazer cinema depois de ver "Bye bye Brasil". Ele está preparando um projeto em que um cara viaja pelo interior da China mostrando filmes para as pessoas, como o Lorde Cigano fazia - lembra Wilker, de quem Cacá Diegues guarda as melhores referências.

Os dois se conheceram na produção de "Xica da Silva" (1975), visto por cerca de 3,5 milhões de pagantes.

- Até ali, eu só tinha visto e admirado o Wilker no palco, nos espetáculos do Teatro Ipanema. Não só o magnífico trabalho dele no filme como também nossa convivência durante aqueles dias de agradável degredo na Serra de Diamantina aproximaram-nos definitivamente - diz Diegues, que, ao lado da mulher, Renata Almeida Magalhães, vai produzir "Giovanni Improtta".

Preparando-se para dirigir a peça canadense "Palace of the end", de Judith Thompson, Wilker ainda prepara um livro (para a editora LeYa) com suas reflexões como crítico de cinema:

- Tem um texto no qual eu defendo que "Shane" ("Os brutos também amam") é um filme gay. Fazendo crítica, passei a enxergar coisas no cinema que antes eu olhava e não via.


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Daniel Walker
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