terça-feira, 11 de outubro de 2022

SANTO PADRE, SOMOS NORDESTINOS! Pe. Manoel Henrique

 SANTO PADRE, SOMOS NORDESTINOS!  assim começa seu texto para o Papa Francisco

Cônego Manoel Henrique da Arquidiocese de Maceió, fez sua grande romaria. Grande defensor e estudioso do servo de Deus Padre Cícero Romão Baptista, tendo vários livros escritos. Leiam que inspiração e defesa do nordestino e servo de Deus, nosso Padim  Padre Cicero ao Santo Padre.

Dom Magnus Bispo da Diocese do Crato , Cônego Manoel Henrique da arquidiocese de Maceió,  acompanhado de Padre Daniel

Santo Padre, somos nordestinos, residindo numa região histórica de nosso País, sob vários aspectos. Vivemos uma grande alegria, com a sua chegada ao Bispado de Roma, revelando-nos um novo tempo na Igreja, que surge da simplicidade, do desprendimento, da pobreza evangélica, que são também valores da nossa gente. Seus passos renovaram nossa caminhada, seu olhar modificou a nossa maneira de ver a Igreja e o Mundo. Aqui no Nordeste, vivemos a fé cristã, seguindo a voz de nossos pastores, congregados em torno de muitas referências de caminhada mui dignas de nossa veneração. Esta semana, com a festa de Nossa Senhora das Dores, aos 15 de setembro, Padroeira da Basílica do Juazeiro, centenas e centenas de romeiros estão presentes, ao lado de Padre Cícero do Juazeiro e da Mãe das Dores, como carinhosamente são acolhidos pelos fiéis.

Santo Padre, quando Padre Cícero faleceu aos 20 de julho de 1934, debaixo de uma grande comoção popular, muitos disseram então que Juazeiro voltaria ao seu passado histórico de pobreza, calma e imobilidade. Não foi verdade e pelo contrário o Juazeiro cresceu muitíssimas vezes, frequentada pelos romeiros, que nunca abandonaram o seu “Padrinho” e sua Mãe. Graças a essa intervenção histórica, a Igreja do Nordeste hoje permanece “católica”, quando em volta o Brasil quase se protestantizou, atraindo, sobretudo, os pobres, os largados da vida.

 Acrescentemos ainda um fato histórico de muita importância nos relatos do “caso Padre Cícero”, que não se podia acolher eclesialmente Padre Cícero. Nenhum padre, inclusive eu, podia sequer citar seu nome publicamente, muito menos admiti-lo como imagem nas igrejas ou fazer alguma procissão ou manifestação litúrgica em favor de Padre Cícero. Este era sempre posto como uma personalidade negativa na Igreja. 

Os padres desdenhavam dos romeiros e se negavam a participar de alguma cerimônia que envolvesse Padre Cícero. Por esse motivo, os romeiros possuíam apenas o Juazeiro como lugar sagrado e centro de suas atenções religiosas. Mesmo sem o apoio dos Bispos do Crato, o Juazeiro abriu-se naturalmente aos romeiros, a exceção de Padre Murilo, que foi seu grande protetor, compreendendo pastoralmente a dimensão religiosa dos romeiros. Mais tarde, uma comunidade religiosa, formada de irmãs agostinianas belgas, contribuiu com seu olhar científico para que esta realidade aparentemente rica e complexa, pudesse manifestar sua atual e real grandeza religiosa e humana.  


Hoje, passados quantos anos, nós temos uma inversão histórica. Antes, Padre Cícero era excluído da comunidade eclesial, excomungado em sua Igreja, mas atualmente, recebe oficial inclusão eclesial, com o seu novo Bispo, Dom Fernando Panico, italiano de nascimento, saudando-o liturgicamente, nas celebrações dentro da própria Igreja-Matriz, que foi historicamente a Igreja de Padre Cícero, apesar de seu pouco tempo de ministério paroquial. 

E nós nos perguntamos sinceramente: quem afinal mudou nessa história? Mudou a Igreja, mudou o povo?  Concluímos com toda certeza que foram os romeiros que emprestaram a sua fé e logo cedo transformaram Padre Cícero em seu “Padrinho”, uma forma carinhosa de chamá-lo discretamente de santo, mesmo sabendo que a Igreja ainda não o conduziu aos altares. Através dos romeiros, a Igreja recebeu uma grande legião de fiéis, vindos e espalhados de toda a parte. 

Os romeiros nunca mudaram, mas a Igreja reconheceu nos romeiros a expressão verdadeira de uma fé simples e peregrina, acolhedora e fraterna, porque romeiro é fraternidade. Seu chão é a Religiosidade Popular, que sustenta e resiste às mudanças, e numa forma dialogante, sabe aninhar-se no seio da hierarquia, quando esta possui o senso pastoral. E juntos celebram e brilhantemente revelam as grandezas de Deus, tão vivas e verdadeiramente residindo entre os pobres de coração.

Segue em paz na caminhada divina.

Texto enviado de Maceió pelo nosso amigo e colaborador Elias Romeiro

assim se despediu...

Ao ver meu Irmão partir...

Meu Amigo Manoel, já dizia frei Leão: " tens um coração do tamanho do mundo" e esse teu coração misericordioso, sem fronteiras o fez adentrar para a eternidade.

Manoel foi meu reitor e meu professor de escritos paulinos na faculdade de teologia. Cresci, vendo-o defender os romeiros e o servo de Deus padre Cícero Romão Baptista. Era um ardoroso defensor. Estudioso da vida do padrinho, escreveu 2 livros em sua defesa:

Do Anátema ao Acolhimento Pastoral – Da Condenação e Exclusão Eclesial do Padre Cícero do Juazeiro à sua Reabilitação Histórica, Maceió, 2008;

Padre Cícero do Juazeiro, Condenação e Exclusão Eclesial à Reabilitação Histórica, Maceió: Edufal, 2009.

Participamos juntos do movimento que resultou no famoso 17 de julho de 1997, a queda do Governo Suruagy.

No dia 20 de agosto telefonei para parabenizá-lo por ter contribuído para que chegássemos naquele grande dia, o do anúncio que o Papa Francisco concedia o título de Servo de Deus ao Padrinho dos pobres do Nordeste brasileiro. Nos emocionamos, pois sabíamos quantas humilhações e quantos sofrimentos passamos, por defender o Santo dos pobres.

Na sexta passada, Jackson nos dava a notícia da hospitalização e diariamente nos passava seu boletim médico com a atualização de seu estado de saúde. 

Ontem, no fim da manhã, recebemos de forma nao oficial que Manoel tinha feito sua romaria eterna, adentrando no Santuário celeste.

Fica a memória de um Padre comprometido com os pobres, com as causas sociais e educacionais das Alagoas.

Vai Manoel, o céu foi teu destino. Como dizia padrinho Nando, seu Amigo. O eterno pároco de Bebedouro e 3° bispo de Palmeira dos Índios: "Você parte ficando e fica partindo..."!

Até o Céu!!!

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