domingo, 26 de novembro de 2017

Livro inclui Padre Cícero na categoria de "santos fortes"


Pensar o Brasil a partir da crença nos santos. Esse foi o impulso inicial para o livro "Santos fortes -- raízes do sagrado no Brasil", escrito a quatro mãos pelos historiadores Leandro Karnal e o sorocabano Luiz Estevam de Oliveira Fernandes. 
Antes mesmo do lançamento oficial (em 7 de dezembro a dupla lança a obra no Rio de Janeiro), "Santos fortes" já figura nas listas dos livros de não-ficção mais vendidos do país desde a pré-venda iniciada no mês passado.
Publicado pela editora Rocco, sob o selo Anfiteatro, o livro de 216 páginas discorre sobre o culto, as vidas e as lendas em torno desses homens e mulheres a quem os brasileiros recorrem para reforçar os pedidos de interferência divina. "Selecionamos santos com mais popularidade no Brasil, mas claro que sempre alguém vai reclamar que faltou um ou outro. Procuramos abordar a faceta deles na vida do brasileiro, de onde surgem algumas relações curiosas como o gesto de colocar o santo de ponta cabeça ou tirar o Menino Jesus dos braços", exemplifica Fernandes.
A publicação também aborda os "santos fora do altar", como os autores chamam aqueles que são objeto de culto, apesar de não terem sido canonizados pela Igreja Católica, como Padre Cícero e João de Camargo, que viveu na região de Sorocaba.

Luiz Fernandes detalha que durante a pesquisa para o livro mapeou dezenas de santos "não-oficiais". Segundo ele, são recorrentes em cidades de todo o Brasil manifestações de devoção a crianças mortas tragicamente, como a menina Julieta, conhecida como a "Santinha de Sorocaba", assassinada 1899, cujo o túmulo é um dos mais visitados do Cemitério da Saudade.

O historiador comenta que a palavra santo, que para a Igreja Católica é "aquele que está no paraíso", tem origem em "sancto" (sanção, em latim), ou que "possui sanção para estar no céu". "A igreja não transforma ninguém em santo, porque eu, você e o leitor do Cruzeiro do Sul têm potencial para ser santo, mas ela apenas reconhece a santidade nessas pessoas", assinala.

Doutor em História Cultural e professor da Universidade Federal de Ouro Preto, o historiador sorocabano radicado em Campinas destaca que o livro não tem a pretensão de analisar dogmas religiosos ou sequer os milagres atribuídos aos santos. "Não é um livro apenas para religioso. É uma abordagem histórica e sociológica, para todos os públicos, curiosos, protestantes, ateus...", afirma.
De acordo com os autores, os brasileiros, de maneira geral, nutrem forte simpatia por santos, fruto da colonização portuguesa católica, misturada às entidades das religiões africanas, cujas as divindades eram cultuadas nas figuras aos santos de origem europeia. Desta mescla, defendem, nasce uma espiritualidade peculiar, bastante distinta das praticadas na maior parte do mundo. "No Brasil, a história de santos e orixás, como Santa Barbara e Iansã e São Jorge e Ogum se entrelaçam. A gente também procurou falar dessa relação nem sempre cordial com a fé dos outros. Mas além dos problemas e mazelas, a gente conta histórias curiosas e pitorescas", acrescenta.
Curiosidades, aliás, não faltam no livro, especialmente nas histórias atribuídas aos santos não-canônicos. É o caso São Longuinho, invocado quando o devoto perde algum objeto e que, ao ser encontrado, é recompensado por três pulinhos. O santo, segundo os autores, seria um romano que teria perfurado o corpo de Cristo na cruz com uma lança e seu nome tem origem na corruptela de "Longinus", a forma latinizada do grego "lonche" - que identifica cinco mártires.
Fonte: http://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/839067

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