terça-feira, 6 de outubro de 2015

Grande perda para Juazeiro: morreu Dr. Mauro Sampaio

A cidade de Juazeiro do Norte foi sacudida hoje pela manhã com a triste notícia do falecimento aos 88 anos de idade  do seu ex-prefeito Dr. José Mauro Castelo Branco Sampaio. O fato ocorreu em São Paulo onde ele estava  em tratamento de saúde. O corpo  deverá chegar a Juazeiro amanhã, por volta das 8 horas, em voo da Avianca. 
MÉDICO
Dr. Mauro Sampaio foi durante toda a sua vida profissional um médico humanitarista, o médico dos pobres, como era cognominado. Seu consultório localizado na Rua Padre Cícero vivia sempre repleto de clientes, especialmente pessoas pobres da periferia da cidade que encontravam nele o profissional caridoso que receitava e operava de graça. Na medicina ele fundou as bases para ingresso na vida política.
POLÍTICO
Possuidor de extensa e brilhante carreira política, Dr. Mauro morre deixando um legado que jamais será esquecido pela população juazeirense. Lançado pela Família Bezerra ele foi eleito prefeito do município para o período de 1967 a 1970, tendo como vice-prefeito o Sr. José Teófilo Machado. Nesta sua primeira administração deixou duas marcas indeléveis: o Estádio O Romeirão (que tem seu nome) e o Monumento do Padre Cícero, construído na Colina do Horto e até hoje o principal cartão-postal de Juazeiro do Norte. Mas deixou também uma grande obra educacional: a construção do Ginásio Municipal Dr. Antônio Xavier de Oliveira, que foi durante muito tempo um dos mais importantes educandários públicos desta cidade. Ao deixar a prefeitura em seu primeiro mandato ele já estava consolidado como  liderança política no município e formou seu próprio grupo. Assim seguindo os passos do pai (Dr. Leão Sampaio) se elegeu deputado federal no pleito de 1974, obtendo expressiva votação em Juazeiro do Norte. Graças a sua brilhante ação parlamentar foi reconduzido ao cargo de deputado federal por mais quatro mandatos, sendo o último em 1995. Participou da constituinte de 1988, onde propôs 48 emendas, 16 delas aprovadas. Todos concordam que ele foi o maior de todos os deputados federais de Juazeiro, tendo se notabilizado pelo grande volume de verbas  alocadas para o município. Encerrada sua carreira como deputado federal ele retorna à prefeitura para um segundo mandato (1996-2000) e mais uma vez deixou marcas em sua administração. Construiu o Museu Vivo do Padre Cícero no Casarão do Horto e abriu o caminho para a expansão do polo universitário de Juazeiro contribuindo de maneira decisiva para a fundação da Faculdade Leão Sampaio e a Faculdade de Medicina. Em sua longa e vitoriosa vida política Dr. Mauro  patrocinou a carreira de muitos amigos que conseguiram com o seu apoio se eleger vereador, prefeito e deputado. Por tudo isso sua morte está sendo muito sentida não só em Juazeiro, mas em toda a região do Cariri onde seu nome brilha como estrela de primeira grandeza na constelação politica. Diferentemente do que vem ocorrendo ultimamente, ele sai da politica sem ter se locupletado a custa do poder. Quando deixou a prefeitura em seu primeiro mandato recebeu de presente dos seus amigos e admiradores um automóvel Opala, fato inédito na política local, em sinal de agradecimento pela sua fecunda administração. Mauro Sampaio morreu deixando seu nome na Galeria dos Melhores Prefeitos de Juazeiro. Esta cidade lhe deve muito.  
MEMÓRIA FOTOGRÁFICA
















História da construção do Monumento de Padre Cícero - Por Aldemir Sobreira
No início de 1967, fomos entrevistar o recém-eleito prefeito de Juazeiro do Norte, Dr. Mauro Sampaio. Ele estava dando um banho, como administrador. Certo dia, no início da sua gestão, Mauro me deu uma carona e, durante o trajeto até a prefeitura, me disse que um beato havia dado uma sugestão para construção de uma herma, lá no Horto. Seria uma forma de homenagear o Padre Cícero...
- O que você acha disso?
- Que herma, que nada, Doutor Mauro! Meu "padim" merece mais do que um simples busto, lá no Horto. Vamos construir é um monumento! Você tem todas as condições para realizar uma obra capaz de ser um ponto de referência da gratidão do povo de Juazeiro ao seu grande benfeitor; mais do que um projeto turístico de grande envergadura, capaz de eternizar, na memória regional, a gratidão dos juazeirenses e de todos os romeiros...
- É caro! Disse o Dr. Mauro.
- Que nada, Mauro, quanto a isso, o Gumercindo Ferreira tira de letra. Na base da administração direta.
- Você tem quem faça o projeto?
- Ainda não, mas isso é fácil. Na próxima viagem a Fortaleza, vamos atrás de um escultor e está tudo resolvido. Não conseguimos encontrar nenhum escultor disponível, em Fortaleza. Nesse meio tempo aconteceu um fato interessante. A Faculdade de Filosofia do Crato estava organizando uma Exposição de Artes Plásticas e fomos convidados, pelo seu Diretor, professor José Newton Alves, para integrar a Comissão Julgadora, juntamente com as professoras Maria dos Remédios e Sílmia Sobreira. Ao final da abertura da exposição, tivemos a oportunidade de adquirir uma das obras premiadas: O primeiro lugar, um quadro de Abrãao Batista, retratando o Cristo. Quando estávamos na fila, para adquirir uma outra peça premiada, uma estátua da Mulher Rendeira, saindo da própria almofada, muito original, uma apressada senhora furou a fila e adquiriu a obra. Cheguei diante do escultor laureado, sorrindo.
- É duro ser cavalheiro! Perdi a chance de adquirir a sua mulher rendeira e, quando já ia me retirar, caiu a ficha.
- Você seria capaz de construir uma estátua, um monumento?
- É minha praia, disse ele. Meteu a mão no bolso interno do seu paletó e retirou um maço de fotos: Monumento do Jegue de Patos; Monumento do Vaqueiro etc...
- Você acaba de ser "intimado" para construir o monumento do Padre Cícero, lá em Juazeiro!
E o talentoso artista plástico, o pernambucano, Armando Lacerda, representante comercial da Cinzano, construtor de monumentos, por esse Nordeste, rindo, aceitou a incumbência. Chico Bento, empresário de transportes e amigo do Armando, prontificou-se em levá-lo a Juazeiro, na segunda-feira. Quando Armando Lacerda chegou à prefeitura, já vinha com uma proposta definida em mente. O monumento teria 7 metros de altura, fora a base... Um assombro! Acertou os detalhes da matéria-prima, um barro preto lá de Barbalha, para construção do protótipo. Numa noite de quinta-feira, fomos à casa do Armando, para ver o protótipo. A primeira dama, Dayse Sampaio, doutor Mauro e eu. Uma surpresa! Armando havia optado para erguer uma estátua de 12 metros e não 7. O modelo do protótipo media 1,20m. Esse modelo foi presenteado ao Doutor Mauro. O passo seguinte era arranjar um local adequado para iniciar a montagem do modelo da estátua. Um amplo galpão. O velho armazém da antiga usina de algodão da P. Machado, na Rua São Paulo, esquina com a São Francisco. Foi o escolhido e apro-vado. Durante a construção da modelagem da estátua, Armando Lacerda tomou uma decisão surpreendente. O modelo foi redimensionado para ter 17 metros, fora base, e não mais os 12 metros, imaginados anterior-mente. O engenheiro Rômulo Ayres Montenegro ficou encarregado de realizar os cálculos de engenharia da base e da estátua. O resultado foi além do esperado e o doutor Mauro inaugurou o monumento, no início de novembro de 1969. 
(Na montagem fotográfica abaixo, com imagens do saudoso fotógrafo Raimundo Oliveira Gonçalves, vemos a estrutura do monumento em construção e o prefeito Dr. Mauro Sampaio acompanhado do escultor do monumento, Armando Lacerda).


Nenhum comentário: