sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A respeito do lançamento dessa Coleção o Prof. Renato Casimiro concedeu  entrevista ao Blog do Juazeiro, do colega Beto Fernandes, a qual, devido a sua grande importância, transcrevemos abaixo:

sábado, 20 de outubro de 2012
O Blog do Juazeiro procurou o professor Renato Casimiro para conversar um pouco sobre o lançamento no próximo dia 25 da Coleção Padre Cícero Romão Batista e os fatos de Joaseiro. Renato tem doutorado pela USP e é formado é Química Industrial e Engenharia Química sendo respeitado ex-professor Universitário em Fortaleza.

Respeitado intelectual é profundo conhecedor da história juazeirense com dezenas de livros publicados e milhares de artigos em jornais brasileiros e do exterior. Foi um dos consultores do escritor e jornalista Lira Neto, quando da produção do Livro “Padre Cícero, Poder Fé e Guerra no sertão” e do roteirista Jonasluis de Souza, do Icapuí, que escreveu a Minissérie Sedição de Juazeiro para a FGF. Renato Casimiro, ao lado da não menos competente Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros organizou esta nova coleção que promete ser repleta de sucesso.

A entrevista foi concedida ao editor do Blog, Beto Fernandes:

Blog do Juazeiro: Como se deu a ideia de formatar a Coleção Padre Cícero Romão Batista e os fatos de Joaseiro?

Renato Casimiro: Foi um processo gradual, de amadurecimento da equipe que integrou a Comissão Diocesana de Estudos para a Reabilitação Histórico-Eclesial do Padre Cícero. A primeira destas reuniões aconteceu em São Paulo, nos dias 19 a 21 de abril de 2002, com o Bispo diocesano de Crato D. Fernando Panico. Nesta ocasião estiveram presentes o Prof. Antônio-Mendes da Costa Braga (sociólogo), Prof. Dr. Carlos Alberto Steil (antropólogo), Prof. Dr. Fr. Eduardo Spïller Pena (historiador), Prof. Dr. Marcelo Ayres Camurça Lima (antropólogo), Profa. Ms. Maria de Fátima Morais Pinho (historiadora), Profa. Ms. Maria do Carmo Pagan Forti (psicóloga e doutoranda em Ciências da Religião), Prof. Dr. Pe. Paulo César Loureiro Botas (teólogo e filósofo), Prof. Dr. Paulo Fernando Carneiro de Andrade (teólogo), Aroldo de Oliveira Braga (assessor do Setor Cultura - CNBB), Pe. Francisco Roserlândio de Souza (historiador, coordenador do FPI/CENDEP e DHDPG). Foram também convidados para participar da Comissão e estiveram presentes a esta reunião: Pe. João Jorge Correa Filho (teólogo e responsável pelo Arquivo de História Eclesiástica da Arquidiocese de Fortaleza), Profa. Dra. Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros (antropóloga) e o Prof. Dr. Antonio Renato Soares de Casimiro (em quem se reconhecia alguma habilidade e conhecimento sobre o documentário até então conhecido sobre as questões políticas e religiosas em torno do Pe. Cícero). Também faziam parte desta Comissão, como se sabe, Pe. Francisco Murilo de Sá Barreto, Ir. Anne Dumoulin e Ir. Therezinha Stella Guimarães. A partir deste meu primeiro contato com a equipe, ficou evidente que me caberia um trabalho extenso de revisão das fontes primárias, contendo documentos relativos a todos estes momentos da vida do Patriarca de Juazeiro, com o objetivo de ir colaborando com a equipe mais doméstica, já constituída, e em pleno trabalho, integrado pelas Irmãs Annette, Ana Teresa, Maria do Carmo e Pe. Roserlândio. O volume de documentos já revelados e novos achados em arquivos diversos, tanto no Cariri, quanto em outras partes do país e até no exterior, ia gradativamente nos empurrando para uma sistematização, uma vez que, ao objetivo maior de preparar um substancioso dossiê para coadjuvar a petição do Bispo Diocesano de Crato com respeito à reabertura do Processo em que está incurso o Pe. Cícero, perante a Santa Sé, a isto se seguiria, necessariamente, à disponibilização por via física (publicação) e/ou inserção na rede mundial de computadores, através de uma página a ser criada na web. Este, portanto, foi o motivo primeiro para gestar a Coleção que ora estamos lançando.

BJ: Há algo de novo nesta publicação em relação a Igreja estar vendo um novo conceito sobre os ‘fatos de Joaseiro’, principalmente com a possibilidade da reabilitação das ordens sacerdotais do padre Cícero?

RC: As maiores referências que tínhamos acumulado sobre as questões políticas e religiosas de Juazeiro e do Pe. Cícero estavam, essencialmente, na abertura de alguns arquivos que começaram a ser conhecidos a partir das pesquisas do prof. Ralph della Cava (anos 60), da profa. Luitgarde Barros (anos 70) e daí por diante, a dezenas de dissertações e teses de doutoramento acadêmico em universidades do país e do exterior, gerando novos e importantes olhares sobre estas velhas questões e seus personagens no Joaseiro. Com o conhecimento do que ia chegando aos livros publicados, logo veio a sensação de que o painel estava ainda incompleto, no tocante ao acervo documental. Mas, não imaginávamos que ainda se tinha tanto para revelar, para se conhecer. De maneira que, esta coleção traz no seu conteúdo um rico acervo de novos textos que passam a compor, em certos aspectos, um olhar menos sectário sobre os fatos do Joaseiro, e com certeza mais favorável a um posicionamento mais equilibrado, distanciado da polarização que persistiu por décadas com algo que nos incluía como participantes fanáticos de tendências bem radicais, pró ou contra. Pró ou contra os Milagres/Embustes... Pró ou contra o Santo/Coronel...

BJ:  Passados 123 anos do ‘Milagre da Hóstia’ o fato de estar ainda tão vivo deve-se a fé do povo nordestino. Esse novo olhar da Igreja é um reconhecimento à força do catolicismo popular, claramente maior que o catolicismo romano?

RC- Ao meu sentimento, sem dúvida alguma. Por todos estes anos, esta enorme Nação Romeira não arredou o pé e o compromisso de estar permanentemente ligada ao seu Patriarca. Juazeiro se afirmou como espaço generoso desta missão, em torno de Oração e Trabalho. E o que se viu foi um ato continuado de fé, fortalecida por uma convicção na santidade do seu líder, vivo e permanentemente ao lado de sua gente. Enquanto a Comissão trabalhava, pela imprensa, especialmente, surgiam especulações de que isto ia para Roma como esforço da nossa Diocese para subsidiar o Santo Padre na revisão que, assim parecia, já estava encomendada. Lembro até de uma entrevista de emissora local com uma romeira, onde o entrevistador indagava sobre o reconhecimento da santidade do Pe. Cícero. Ao que a romeira respondera com tal simplicidade e com alguma perplexidade: - Mas, meu filho, será que o Santo Padre ainda não sabe que o meu padrinho é santo? Não quero dizer que haja na essência deste trabalho que realizamos algo que nos posicione como alguém que estabelece uma dicotomia entre a igreja popular dos sertões brasileiros e a igreja romana, hierárquica. Para mim, o mais relevante e respeitável é que em nenhum momento, mesmo de práticas rústicas, mas com fé – inquebrantável, ela é a mesma Igreja do Cristo ressuscitado. É a mesma Igreja da Mãe das Dores. É a mesma Igreja do servo fiel e obediente, Padre Cícero. Essa identidade está viva no coração desta gente e de suas devoções. Quando eles vêm aos milhares, de volta ao Juazeiro, nós nos comovemos com a energia que eles nos trazem, como testemunho desta fidelidade exemplar.

BJ: Na edição há algo novo sobre estudos que busquem identificar para onde levaram os restos mortais da Beata Maria do Araújo?

RC: Não houve, em nenhum momento, esta preocupação com respeito à conduta da Comissão, posso lhe dizer com firmeza. Isoladamente, minha curiosidade e de alguém mais, isto é o que posso admitir. Afinal houve um fato violento, assim classifico, perpetrado por gente com motivos obscuros. Afinal, foi um tempo (1930) de profundas mudanças na cena política do país e até na região. Aconteceu no quase ocaso da vida do Patriarca que reagiu de forma contundente. Diz-se que havia no local até fotógrafo, mas nada foi identificado até hoje. Sumiu. Evaporou. Hoje nos posicionamos respeitosamente a este capítulo subtraído da nossa memória histórica. A reação, me parece, veio por uma elevada sensibilidade da inteligentzia que começou a resgatar a figura histórica da beata para elevá-la a um panteão de heroína. Sua biografia foi reescrita sem os ranços da exclusão a que foi submetida, em toda a sua existência. Pra mim, nenhuma surpresa se um dia esta Igreja a que ela serviu vier a se posicionar, relevando as suas virtudes de serva de Deus. Sobre o local exato, onde seu corpo esteve, disso sabemos, junto àquela parede direita da entrada da Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, eu até gostaria que o local tivesse esse reconhecimento autorizado. Aí, quem sabe, lembrando Maria de Araújo, colocaríamos sua imagem fotográfica e até um epitáfio muito conhecido (Mário Quintana) se poderia escrever, adaptando: “Eu não estou aqui... Aliás, eu estou aqui...”) Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo (* Juazeiro do Norte, *24.05.1862 / +17.01.1914).  Daqui a uns meses, será importante que isto aconteça. Não como eu gostaria, necessariamente. Mas, de algum modo. Serão cem anos de silêncio e de omissão, quase imperdoáveis.

BJ: Quais os parceiros para viabilizar o lançamento desta importantíssima coleção? 

RC: Não foi muito simples chegar a estes resultados. A esta Coleção, a este momento. No caminho havia diversas pedras. Felizmente, também, e por sorte nossa, havia por perto pessoas e instituições sensíveis a esta proposta. E assim foi. Queremos agradecer com muita gratidão o empenho de grandes parceiros, especialmente do sistema Fecomércio (SESC e SENAC), Diocese de Crato, Fundação Pe. Ibiapina, Fundação Waldemar de Alcântara e Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte.

Serviço:
Lançamento da Coleção Padre Cícero Romão Batista e os fatos de Joaseiro
Data: 25 de outubro (Quinta-feira)
Horário: 19h30min
Local: memorial Padre Cícero
Rua Leandro Bezerra S/N
Bairro Socorro

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