terça-feira, 23 de junho de 2020

São João da nossa memória - OLHA PRO CÉU MEU AMOR.

OLHA PRO CÉU MEU AMOR... É NOITE DE SÃO JOÃO.

Esse ano não teremos fogueiras. A fogueira emite muita fumaça e isso piora mais ainda o quadro das pessoas que estão enfermas com alguma doença respiratória, esse ano agravado com a pandemia do COVID19. Sem fogueiras , mas com uma memória afetiva que nos acompanha culturalmente na Região do Nordeste onde fogueiras, fogos de artifícios, quadrilhas juninas, quermesses fazem parte da nossa história. Nesse contexto trazemos um texto escrito na coluna de Neuma no portal de Juazeiro em 24 de junho de 2017.


" Passando por estes dias no Parque Ecológico das Timbaúbas com as barracas de fogos de artifício bem enfeitadas me veio à memória o tempo de minha infância com as fogueiras preparadas no meio da rua. Naquela época o calçamento da rua em que morava, Rua São José, era de paralelepípedo, não existia proibição em acender fogueiras. No soar das 18 horas, a noitinha chegando, era o momento de acender as fogueiras. Os fogos a pipocar, sinal de que as brincadeiras podiam começar. 

As crianças se espalhavam alegres para soltar chuvinhas, traque de salão, rabo de saia, e os mais velhos soltavam fogos, vulcões e as famosas bombas escondidas debaixo de latas. O motivo era para provocar um estrondo maior, ensurdecedor que até assustava. As ruas ficavam enfeitadas com bandeirolas e o clima era de muita alegria. A maior parte das casas ostentavam suas fogueiras; umas grandes, outras menores, mas o prazer dos moradores era sentar nas calçadas, juntar a família e participar das brincadeiras, simpatias e adivinhações. 

As poucas casas que não acendiam as fogueiras homenageavam o Santo precursor de Jesus com uma velinha ou um candeeiro na frente da casa. Balões enfeitavam os céus, o colorido mágico voando e subindo até desaparecer. Era um dia muito especial, em que nós crianças podíamos dormir um pouco mais tarde, depois de muita diversão, de muita comilança. Não podiam faltar a batata doce assada na fogueira, o famoso pé-de-moleque, cocada, amendoim, milho assado e cozido, pamonha. Gente, pense na misturada de comidas, mas não faziam mal, porque estávamos sob a proteção do santo.

Cito algumas adivinhações e simpatias que costumávamos brincar com as amigas ao redor da fogueira. Na noite de 23 se enfiava uma faca nova e nunca usada no caule de uma bananeira. Na manhã seguinte ao retirar a faca a letra que ali aparecia era a inicial do futuro noivo ou noiva, Pessoas mais experientes que nos contavam. Escrever o nome de possíveis pretendentes em papeizinhos pequenos e colocá-los numa bacia com água, o nome que amanhecer aberto é o do noivo ou noiva.  

Perto da meia-noite, na véspera do dia 24, se enchia uma bacia com água e se olhava para dentro se não aparecesse o rosto era morte certa ainda nesse ano. E o medo, ninguém se atrevia a fazer esta adivinhação. Muitas ilusões acalentadas nessas noites de festejos juninos. Preciso lembrar dos batismos acontecidos ao redor das fogueiras. As amizades e afetos se consolidavam através do apadrinhamento, madrinhas e afilhados e comadres. O batizado acontecia assim: ambos seguravam um pedaço de lenha da fogueira e colocavam no chão para queimar, em seguida ficavam postados ao lado da lenha de mãos dadas e diziam três vezes os seguintes dizeres ‘São João disse, São Pedro confirmou que vamos ser comadre que Jesus Cristo mandou”. E a mesma oração se dizia com relação ao afilhado. 

Tenho até hoje madrinhas de São João e o hábito de chamá-las de madrinha nunca deixei. Associo também nessas lembranças as famosas quadrilhas do casal Zuíla e Alberto Morais, em sua residência, localizada nas Malvas, antigamente denominava-se assim esse logradouro, hoje é mais comum, Av. Dr. Floro. E as quadrilhas do Instituto Gonzaga promovidas pelos padres administradores, padre Manoel Germano, conhecido por padre Noé, e padre Antônio Germano. As barracas típicas enfeitadas com palhas de coqueiro e nas mesas toalhinhas de xadrez.

Participei um ano dessa quadrilha. O encontro dos participantes foi em frente ao Colégio Mons. Macêdo e partimos em cima de carroças. O cortejo de carroças enfileiradas até o Instituto Gonzaga, localizado na Av. Leão Sampaio. Como foi bom! A noiva dessa quadrilha foi Luzia Freire, hoje professora aposentada. Posteriormente com o fechamento do Colégio, o prédio foi vendido para um grupo de médicos que fundaram o Hospital Santo Inácio. Funcionou por muitos anos, e hoje já não existe. 

As tradições, os folguedos pitorescos estão desaparecendo, o espírito de fantasia, de mitos precisam ser preservados. Que não deixemos que o tempo nos furte e destrua os nossos costumes e tradições. E Viva Santo Antônio, e Viva São João e Viva São Pedro!

Bons festejos! 



Fotos da feira de fogos do Parque Ecológico


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