sábado, 3 de novembro de 2012

Juazeiro do Norte e o Turismo: algumas questões.



Océlio Teixeira de Souza
Professor do Curso de História da Urca
Membro da Pastoral Diocesana de Romaria

Juazeiro do Norte é um município cuja formação histórica, cultural, religiosa e econômica está intrinsicamente ligada ao Padre Cícero Romão Baptista e aos romeiros e romeiras que para a cidade peregrinam, desde julho de 1889. O Padre Cícero acolhia a todos e a todas com muito carinho. Orientava-os, aconselhava-os e, para aqueles que desejavam estabelecer residência no lugar, ele arrumava trabalho, de modo que ninguém ficava desocupado. Todos e todas tinham uma ocupação e ganhavam honestamente o pão de cada dia.

Seu espírito empreendedor era notável e pode ser resumido na frase: “Que exista em cada casa um oratório, e em cada quintal uma oficina”. Foi com esse lema, oração e trabalho, que ele, com a ajuda de todos e todas, habitantes e peregrinos, transformou, em pouco tempo, o pequeno povoado em uma cidade. A nova cidade cresceu e se desenvolveu, chegando aos cem anos como um dos principais centros urbanos do interior do Nordeste. 
Portando, o Padre Cícero não deve ser visto apenas como um sacerdote dedicado ao seu povo, mas também como político e empreendedor que sempre se preocupou com os problemas sociais e econômicos vividos pelos romeiros, romeiras e moradores de Juazeiro do Norte, principalmente os mais pobres. Ele deve ser para os atuais administradores e empreendedores, um modelo e uma referência.
Fico então me perguntando: o que faria, hoje, o Padre Cícero diante desse boom econômico pelo qual passa a sua amada Juazeiro? E mais especificamente: o que ele diria a respeito das propostas para o desenvolvimento do turismo na cidade?
Os “pontos turísticos” da cidade de Juazeiro do Norte são na realidade locais de romaria e de expressão da fé romeira: a Colina do Horto, o Túmulo do Padre Cícero, o Santo Sepulcro, os Santuários de São Francisco das Chagas e do Sagrado Coração de Jesus, a Basílica de Nossa Senhora das Dores e a Casa do Padre Cícero. Esses lugares constituem a espacialidade romeira. Eles foram sacralizados pela fé de milhares e milhares de romeiros e romeiras. Como então, de uma hora para outra, muitas vezes sem uma discussão ampla e democrática, se resolve intervir nesses espaços? Como construir um teleférico, ligando a cidade à Colina do Horto, sem avaliar se isso está ferindo ou não a sacralidade ali construída, desde a época em que o Padre Cícero subia a serra para descansar? Como colocar um letreiro luminoso na Colina do Horto, reduzindo a imagem do Padre Cícero e a fé romeira a coadjuvantes daquele espaço sagrado? Os danos que essas ações podem causar à história e à cultura de Juazeiro estão sendo avaliados? Ou se está pensando apenas nos lucros que o turismo pode gerar?
 Acredito que o momento é de reflexão. Juazeiro é uma cidade especial e diferenciada em função da figura do seu fundador e das romarias. Assim, toda intervenção na espacialidade romeira deve ser muito bem pensada e avaliada e, sobretudo, deve levar em consideração os sujeitos principais pela construção de Juazeiro do Norte: os romeiros e romeiras. 
Ouso aqui fazer uma sugestão aos atuais e futuros gestores do município: promovam debates e discussões que envolvam os romeiros e romeiras e os diversos segmentos sociais, econômicos, políticos, culturais e religiosos da cidade para aprofundar a política de turismo do município e, especificamente, essas duas obras: teleférico e letreiro luminoso da Colina do Horto. Concluo, parafraseando uma música de Roberto Carlos: “Eu não sou contra o turismo, mas apelo pro bom senso”. Reflitamos.

Um comentário:

iderval.blogspot.com disse...

Amigos do meu Juazeiro do Norte, gosto de sentir esta preocupação pela Meca do Cariri, em artigo anterior falei da importância cultural,histórica ,antropológica e fóssil da nossa querida Chapada do Araripe , tendo como epicentro a cidade fundada pelo Padre Cícero,que além de grande estudioso dos fenômenos futuristas, era um homem do bem. Nascido na milagrosa cidade do Crato , escolheu no tabuleiro grande o seu epicentro, a sua vila,o seu povoado,que mais tarde seria a cidade de Juazeiro do Norte.

A Chapada do Araripe é uma terra abençoada, como abençoada toda a Região do Cariri, foi nesta Chapada que nasceram- O Padre Cícero Romão Batista , o Patativa do Assaré e o Luiz Lua Gonzaga, os três homens do século , os três homens mais importantes do Nordeste ou até mesmo do Brasil ,cada um no seu segmento ,não esquecendo que o Padre Cícero além de tudo isto, está em processo de beatificação e depois de canonização,é uma Serra abençoada. Tem mais, foi nas terras desta chapada que peregrinou os outros futuros Santos, o Padre Ibiapina e o Frei Damião de Bozano.

Quando deparo com debates como este , lamento a pouca responsabilidade dos nossos gestores que ,para deixarem as suas marcas na cidade ,apagam da sua memória as obras comemorativas, foi assim com a marca do cinqüentenário, com as pequenas obras que marcaram um passado mais distante, os casarios, os pontos religiosos em diversos pontos da cidade e principalmente na colina do horto tão badalados pela Luitegard.

Deve sim os gestores preservarem todo este patrimônio histórico sem destruir o patrimônio existente,devem preservar as suas marcas,os passos de uma cidade importante,a história de toda uma região. Os Romeiros e Romeiras clamam pela manutenção das coisas do Padre Cícero que também são nossas,o que os Romeiros não pedem é a destruição do que existe de mais sagrado que é a vida do nosso patriarca e padrinho de todos que habitam esta terra.

Que venham os bondinhos,água de qualidade,comida saudável,acomodações dignas,letreiros e mais letreiros de todos os tamanhos desde quando não sepultem o patrimônio histórico da cidade e da região, não é só o Juazeiro, todo o Cariri é abençoado ,todo o Cariri sente a presença do maior ícone do Nordeste.

Faço todas as perguntas da grande Luitegard, onde andam os feitores que deram cabo a todo este patrimônio, onde andam os gestores que apagaram a memória da cidade para a construção de obras que poderiam ser construídas ao lado ou aos seus arredores. Juazeiro fez cinqüenta anos e foi homenageada com um logradouro,com uma praça na qual toda uma geração viveu,saboreou e sedimentou dentro do cérebro a sua infância e juventude, este marco foi arrancado materialmente por gestores sem compromisso co a história do Município, mas continua vivo na mente de cada um dos Juazeirenses.

A Cidade cresceu e tem que oferecer melhoras em todos os seus equipamentos turísticos e religiosos, sem esquecer de oferecer aos Romeiros e Romeiras o direito de exercer os seus sentimentos e externarem a sua fé.

Torço por uma Juazeiro grande,bonita,limpa,educada,cordial,turística ,religiosa e hospitaleira,torço por uma Juazeiro mais solidária e apontada para o exercício da cidadania.

Iderval Reginaldo Tenório