quarta-feira, 2 de novembro de 2011



PRIMEIRA TESE... A aluna Teresa de Jesus Pinheiro Gomes Bandeira Tereza ( juazeirense, filha de Diva Pinheiro Gomes, grande benemérita desta cidade por largos serviços de promoção humana, e de Manoel Gomes, empresário do ramo farmacêutico dos mais estimados)  fará a defesa da primeira tese de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Médica, vinculado ao Departamento de Patologia e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. Será sexta-feira (4.11), às 9:00h, no Auditório Paulo Marcelo Martins Rodrigues, daquela Faculdade, à Rua Alexandre Baraúna, 949 – Bairro de Rodolfo Teófilo, Fortaleza – CE. Com orientação do Prof. José Júlio da Costa Sidrim, a aluna Teresa de Jesus Pinheiro Gomes Bandeira desenvolveu o trabalho "Caracterização Fenotípica e Genotípica, Sensibilidade a Antimicrobianos, Detecção de Gene de Virulência e Perfil Clínico-Epidemiológico de Burkholderia pseudomallei – Cepas Clínicas e Ambientais". A banca será formada pelos professores Elizabeth de Andrade Marques e Maria Cristina Maciel Plotkowski, ambas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Marcos Fábio Gadelha Rocha, da Universidade Estadual do Ceará; e Raimunda Sâmia Nogueira Brilhante, do Departamento de Patologia e Medicina Legal da UFC. Tereza de Jesus Pinheiro Gomes Bandeira é médica formada pela Universidade Federal do Ceará, em 1975. Mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal do Ceará (2003), tendo defendido a sua Dissertação sob o título: “Ocorrência e Perfil de Sensibilidade a antimicrobianos de bactérias isoladas de lavado brônquico alveolar de pacientes internados em hospitais de Fortaleza no período de Janeiro de 1996 a dezembro de 2001”, sob a orientação do prof. Dr. Jorge Luis Nobre Rodrigues. É Especialista em Patologia Clínica pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (2004). Atualmente, é Consultora Médica do setor de Microbiologia da Diagnósticos da América S.A. (DASA); microbiologista do LabPasteur - DASA e Presidente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital de Messejana - SESA (Secretaria Estadual de Saúde, CE). Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Microbiologia Clínica e Infecção Hospitalar. Ocupa também o cargo de Professora Universitária da Faculdade de Medicina CHRISTUS e Assessora Científica da Associação Cearense de Estudos para o Controle de Infecções Hospitalares - ACECIH. Participa como representante do Hospital de Messejana da REDE RM de Monitoramento e Prevenção da Resistência Microbiana em Serviços de Saúde, projeto desenvolvido no âmbito do Termo de Cooperação entre a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Tereza é juazeirense, filha de Diva Pinheiro Gomes, grande benemérita desta cidade por largos serviços de promoção humana, e de Manoel Gomes, empresário do ramo farmacêutico dos mais estimados.
E sobre esta pesquisa empreendida pela Dra. Tereza, leia abaixo uma entrevista que ela concedeu a bioMèrieux (conceituadíssima empresa produtora de reagentes para diagnóstico laboratorial, e que pode ser encontrada no endereço: http://www.biomerieux.com/upload/EntrevistaDraTereza.pdf

Entrevistador: Dra. Tereza, como microbiologista quais são os desafios enfrentados atualmente na sua rotina?
Dra. Tereza Bandeira: O microbiologista dos anos 2000 tem enfrentado um grande desafio no que diz respeito à resistência bacteriana aos antimicrobianos. As bactérias estão cada vez mais hábeis para resistir aos antimicrobianos, e o que é mais grave ainda, em disseminar os mecanismos desta resistência. Nesse sentido, a tarefa do microbiologista é conhecer estes mecanismos de resistência e usar as técnicas adequadas para detectá-los, atualizando-se a cada ano. Este processo exige um amplo conhecimento dos mecanismos de resistência, da farmacologia, dos aspectos topográficos, da evolução da infecção e principalmente uma disposição em discutir estes resultados com as comissões de controle de infecção hospitalar (CCIH). Segundo Rafael Canton a leitura interpretada do antibiograma deve deixar de ser um exercício intelectual de poucos e ser um processo multidisciplinar e universal. Certa vez li numa publicação do serviço de microbiología do Hospital Ramón y Cajal em Madrid que o desafio do microbiologista clínico é usar a combinação de uma avaliação criteriosa da qualidade da amostra, da acuidade dos sentidos, da experiência quando observa uma placa de cultura, da destreza na interpretação de um Gram, e da habilidade em construir um cenário clínico combinando a microbiologia com a clínica. O CLSI publica anualmente em janeiro, as padronizações e atualizações dos testes de sensibilidades a antimicrobianos e com isso nossa rotina é anualmente atualizada. Além disso, devemos ficar atentos a microrganismos emergentes e re-emergentes no cenário da assistência médica. Precisamos ter uma rotina de procedimentos de identificação o mais abrangente possível além de um senso aguçado e o espírito preparado para o “novo”. Vejam por exemplo, o caso da emergência da melioidose no Ceará: nós não estávamos preparados para suspeitar de um novo agente e foi preciso um surto de quatro casos da mesma família para que o alerta nos levasse à identificação da Burkholderia pseudomallei feita na ocasião pela Universidade Federal do Ceará. Hoje, após 11 casos, já conhecemos as características da colônia e temos a facilidade da identificação de B. pseudomallei em 6 horas.

Entrevistador: O que é Melioidose e como emergiu no Ceará?
Dra. Tereza Bandeira: Melioidose, também chamada doença de Whitmore, é uma doença infecciosa grave causada por Burkholderia pseudomallei, um bacilo Gram negativo que não esporula, é ligeiramente curvo, mede 0,5 a 1,0 μm de tamanho e apresenta aspecto bipolar quando corado. A doença apresenta uma grande variedade de formas clínicas, desde infecção assintomática, infecção localizada com ulcera cutânea, abscesso, pneumonia crônica, até choque séptico fulminante com abscessos em múltiplos órgãos. Em 1913, Alfred Whitmore, médico patologista inglês, trabalhando no Laboratório do Hospital Geral em Rangoon, publicou o primeiro relato de caso. Publicações subseqüentes descreveram o agente causal apresentando uma nomenclatura evolutivamente variável até B. pseudomallei proposta por Yabuuchi e colaboradores em 1995. Esta bactéria é considerada pelo CDC (Atlanta, GA-USA) como agente potencial de bioterrorismo devido à viabilidade no ambiente, alta infectividade e virulência. A doença é endêmica no sudeste da Ásia e hiperendêmica no norte da Austrália. No Brasil é considerada uma doença emergente desde o seu surgimento na região nordeste, no estado do Ceará. Esta é a única região do país onde a melioidose tem se manifestado desde 2003 até o ano de 2010, perfazendo um total de 11 casos. Destes, oito casos fatais de melioidose pneumônica disseminada, um caso fatal de abscesso pélvico com sepse, um óbito por aneurisma micótico e um paciente que sobreviveu a uma manifestação febril e linfoadenopática da melioidose. O caso mais recente foi o de um paciente que apresentou abscesso esplênico sem evidencias epidemiológicas de contato com solo e água das regiões anteriormente afetadas, mas teve contato íntimo com o seu filho de 15 anos que faleceu de melioidose pulmonar em 2008. Ou seja, dos 11 pacientes apenas dois sobreviveram a esta doença que aqui no Ceará se manifesta de forma tão grave, ou por outro lado nós só detectamos as formas graves. O Programa de Pós-graduação em Microbiologia Médica na Universidade Federal do Ceará detém todas as cepas e publicou vários trabalhos científicos sobre o assunto. Estamos cursando doutorado neste centro com uma proposta de caracterizar cepas clínicas e ambientais de B. pseudomallei isoladas no Ceará quanto aos fatores de virulência e com objetivos específicos de caracterizar o perfil de sensibilidade a antimicrobianos das cepas ambientais e clínicas de B. pseudomallei através do método de microdiluição.

Entrevistador: Quais os fatores de risco para adquirir Melioidose?
Dra. Tereza Bandeira: Vários relatos de surtos de Melioidose ocorreram no sudeste asiático sempre relacionados à exposição ao solo e a água. Melioidose ocorreu em soldados aliados e japoneses durante a segunda guerra mundial em Burma, na Malásia, na Tailândia e depois da segunda guerra mundial a doença apareceu abruptamente em North Quensland, Austrália. Alguns casos foram ocasionalmente relatados por outros países especialmente no sudeste da Ásia. A manifestação da melioidose durante a guerra do Vietnam mudou a descrição da doença em decorrência do aparecimento de formas crônicas e formas reativadas da doença. Melioidose é uma doença da estação chuvosa, em áreas endêmicas. Afeta principalmente pessoas que têm contato direto com o solo úmido e têm uma predisposição a infecções como acontece com pacientes com diabetes mellitus, doença renal, cirrose hepática, talassemia, alcoolismo, ou aqueles que estão imunodeprimidos, como resultado de uma doença ou tratamento medicamentoso. O número de casos registrados de infecção aumenta com a precipitação, por exemplo, da estação das chuvas nos trópicos, quando é mais provável que animais e seres humanos possam entrar em contato com a água barrenta e partículas que transportam bactérias do solo a partir de camadas mais profundas para a superfície. A forma pneumônica da doença também pode resultar da inalação de poeiras contaminadas e foi relatado em pilotos de helicóptero americanos durante a Guerra do Vietnã. A Melioidose humana surgiu no Brasil pela primeira vez em 2003 no Ceará nos municípios de Tejuçuoca. No mês de fevereiro de 2003 ocorreu um surto de melioidose em São Gonçalo, zona rural do município de Tejuçuoca. Quatro adolescentes apresentaram uma forma severa da doença e três foram a óbito. O quadro clínico foi de pneumonia fulminante e sepse. O diagnóstico foi realizado mediante isolamento da B. pseudomallei em hemoculturas de um dos casos.

Entrevistador: Qual o modo de transmissão da Melioidose?
Dra. Tereza Bandeira: Infecção em humanos e animais pode ocorrer por inoculação, ingestão ou inalação dos microrganismos ambientais. Rega do solo na estação seca, por exemplo, nos arredores de bombas de água, plantações de arroz, córregos, cachoeiras e lagos são as áreas e fatores de riscos relatadas nos casos publicados. Tal como acontece com outras doenças infecciosas, é provável que esses fatores, bem como o tamanho do inóculo sejam responsáveis pelo padrão e severidade da doença. Nós tivemos um caso aqui no Ceará de um paciente que por ocasião de um acidente automobilístico aspirou água de um açude e apresentou melioidose pulmonar grave de evolução rápida e fatal. Embora a transmissão pessoa-pessoa seja rara, tivemos o nosso ultimo caso em março de 2010, ainda em estudo, que provavelmente o paciente tenha adquirido a B. pseudomallei no contato direto com seu filho adolescente que teve uma das formas mais fulminantes de melioidose no Ceará em 2008.

Entrevistador: Como é feito o diagnóstico?
Dra. Tereza Bandeira: O diagnóstico começa com uma anamnese cuidadosa e com a busca de fatores de riscos e aspectos epidemiológicos. O diagnóstico laboratorial consiste no isolamento e identificação da B. pseudomallei do sangue, aspirado traqueal, lavado broncoalveolar ou qualquer outro espécime dependendo da forma clínica da doença. O isolamento de B. pseudomallei de fluidos corporais de pacientes continua a ser o "padrão ouro" no diagnóstico e requer o uso de meios seletivos para os espécimes não estéreis. Gram e outras colorações histopatológicas não são específicos para B. pseudomallei. Um número de técnicas tem sido empregado para tentar reduzir o tempo necessário para obter um diagnóstico, incluindo detecção de antígeno em amostras ou em sobrenadante de cultura e técnicas moleculares rápidas. Meios seletivos têm sido utilizados para o isolamento de B. pseudomallei dos fluidos não estéreis e amostras ambientais. Estas técnicas são importantes quando existe uma suspeita clínica. No Ceará os casos tiveram resultados inesperados e as técnicas de rotinas foram suficientes para a identificação. A B. pseudomallei é um bacilo Gram negativo não fermentador e as provas bioquímicas para identificação são laboriosas e demoradas por isso nos nossos casos o VITEK 2 foi fundamental, pois identificou todos estes agentes em apenas 6 horas. Umas das teses de mestrado do Programa de Pósgraduação em Microbiologia Médica da Universidade Federal do Ceará, do qual participo com o doutorado em curso abordando este tema, cita em uma de suas publicações a existência de testes sorológicos para a detecção de anticorpos de B. pseudomallei, entre estes, o teste de hemaglutinação indireta, ensaio de imunofluorescência e ensaio imunoenzimático, ELISA. Um ponto discutido nestes trabalhos é que cerca de 20% dos resultados sorológicos se mostram negativos no início da doença, mas podem apresentar elevada incidência de soroconversão na população de regiões endêmicas da melioidose.

Entrevistador: Quais as perspectivas diagnósticas para esta doença no Ceará?
Dra. Tereza Bandeira: O Centro Especializado em Micologia Médica, CEMM, da Universidade Federal do Ceará, tem desenvolvido vários trabalhos com B. pseudomallei que com certeza irão contribuir para o estabelecimento de protocolos moleculares que garantam a correta identificação de B. pseudomallei por técnicas rápidas e de fácil execução, para facilitar a detecção de casos e de reservarias além da possibilidade de criação de protocolos de detecção que estão em curso no âmbito da assistência médica estadual e que serão extremamente importantes na vigilância epidemiológica desta tão grave doença.


Um comentário:

Anônimo disse...

Meus agradecimentos ao amigo Renato pela divulgação do meu trabalho, na certeza que "seu Manuel da farmácia" ficará muito feliz e orgulhoso ao vê-la.
Um grande abraço e parabéns pelo blog!!!
Tereza