sábado, 4 de junho de 2011

Coroação de Nossa Senhora na Igreja de São Miguel
 Durante o mês de maio em todas as paróquias de Juazeiro do Norte Nossa Senhora é homenageada em cada dia. Tem a noite das famílias, das entidades religiosas, das escolas, das repartições públicas e privadas, dos jovens e das crianças etc. E assim, no decorrer do mês, ela é louvada, venerada e glorificada com cânticos, recitação do livro Mês de Maria, que tem uma leitura para cada dia, culminando com a sua coroação no último dia do mês. A coroação mais esperada sempre foi a da Igreja de São Miguel, denominada de Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes a partir de 1° de maio de 1958 pelo bispo Dom Francisco de Assis Pires, sendo, portanto,  a segunda paróquia de nossa cidade. Em 29 de setembro do mesmo ano, padre Antônio Onofre Alencar assumiu o cargo de Vigário daquela Paróquia. A primeira coroação ali realizada aconteceu na frente do Cruzeiro, no final da década de 50. Em 1961 com a ajuda dos moradores fervorosos e dedicados ele construiu um altar de madeira, bem alto,  ao lado da igreja num tempo recorde de 15 ou 20 dias. Mas por ser um trabalho exaustivo e que se fazia necessário construir todo ano, optou-se pela construção de um altar permanente, de alvenaria, que é o que existe até hoje. Essa construção aconteceu nos meados da década de 60. Meses antes do mês de maio, padre Onofre juntamente com os paroquianos, a Cruzadinha Eucarística e o Benjaminato se reuniam para discussão e apresentação do tema escolhido como enredo que seria encenado na coroação. Geralmente se obedecia ao tema da campanha da fraternidade do ano. Os ensaios começavam meses antes para a apresentação ser perfeita, porque padre Onofre era muito exigente e não admitia um erro sequer. O trabalho de embelezar o altar, feito por dona Clara Taveira (falecida), que foi a primeira secretária da Paróquia, tinha a doçura de quem faz o trabalho com muito amor. Eram peças e mais peças de cetim, de várias cores, feitos em casa de abelha, todas executado à mão, de beleza sem par. Ela não media esforços para executar com perfeição todo o trabalho do qual tinha se encarregado de preparar. O altar ficava lindíssimo, depois de todo preparado com uma iluminação espetacular, jarros com flores naturais e a escadaria pronta para receber os anjos e arcanjos. Era muito significativo o número de anjos que queriam participar, formando uma verdadeira corte celeste. Recebiam destaque especial os Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael, e era este trio que ficava no topo do altar, sendo um deles escolhido para colocar a coroa na cabeça de Nossa Senhora. Na hora da coroação, tudo em sintonia, na mais perfeita harmonia, os olhos fitos no espetáculo esperando a surpresa, produzia um momento de muita emoção com a banda de música municipal acompanhando todo o cortejo com seus acordes divinais, e ao som do pipocar dos  fogos de artifícios de várias cores, embelezando o céu e entusiasmando os presentes que aplaudiam com entusiasmo o momento em que se colocava a coroa na cabeça da Virgem Maria. Segundo as informações que recebi da paroquiana Dovaci Dalva de Araújo existia um acordo entre os padres das outras paróquias para que a coroação em suas igrejas acontecessem mais cedo para que todos os fiéis   pudessem participar da coroação da Igreja de São Miguel. O motivo, muito obvio, era porque esta coroação sempre apresentava motivos diferentes, novidades, era uma tradição, um verdadeiro encantamento. Atraía multidões, com gente vinda  de outros bairros da cidade e até das cidades vizinhas, conforme depoimento que me foi prestado por Aparecida de Alencar Rodrigues. Segundo ela acrescentou, à tardinha já começavam a chegar pessoas das redondezas e alguns por não morarem muito perto pernoitavam em frente à igreja para voltarem para seus lares no dia seguinte bem cedinho. Tenho belas recordações e imagens maravilhosas destes momentos que presenciei.
Agradeço a Dovaci a delicadeza e atenção em me prestar as informações e também as fotos, ressaltando o seu desempenho como diretora por muitos anos das Cruzadinhas Eucarísticas e como anjo que corou Nossa Senhora várias vezes. 



Nas fotos vemos dona Clara Taveira e o padre Antônio  Onofre de Alencar

Atualmente a Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes é dirigida pelo padre Francisco Luiz dos Santos (visto na foto abaixo) que está dando continuidade a tradicional coroação de Nossa Senhora e que este ano enfocou o Centenário de Juazeiro, fazendo uma retrospectiva histórica da fundação do povoado e sua independência política.



E-MAIL RECEBIDO:

- Neuma, como gostei do resgate dos bibelôs que você descreveu e mostrou no seu comentário da semana passada. Que peças bonitas e que nós não vemos mais nas lojas nos dias de hoje. Estou enviando a foto para o deleite dos leitores da Coluna, dessa peça raríssima de 1900 e antigamente, uma sopeira de rara beleza (foto abaixo), feita numa porcelana finíssima que minha sogra, me presenteou quando casei.
 Fátima Barbosa, Juazeiro do Norte



Um comentário:

Armando Rafael disse...

Neuma:

Parabéns pelo resgate – por você feito – da Coroação de Nossa Senhora, uma das mais belas Tradições religiosas de Juazeiro do Norte. Tradição, com “T” maiúsculo, pois vem resistindo à destruição voraz dos tempos modernos, que só valoriza o progresso material e o consumismo, os quais não preenchem os anseios do espírito do homem e da mulher, ambos criados à semelhança de Deus.

A piedosa tradição católica de coroar a Virgem Maria simboliza que ela é a Rainha dos lares, cidades e nações. E Juazeiro do Norte – conhecida como a Terra da Mãe de Deus – realiza, anualmente, na igreja de São Miguel, uma das mais bonitas solenidades, dentre as centenas de “coroações” feitas no Cariri.

Acredito que a maior beleza de Juazeiro do Norte é a religiosidade do seu povo. E esta não é, infelizmente, encontrada nos bairros ricos da cidade grande – um exemplo é a grande Lagoa Seca – mas sobrevive no núcleo que deu origem à cidade –- como o centro citadino e bairros adjacentes – os quais, até anos atrás, formavam uma sociedade orgânica, solidária, dotada da cultura de cordialidade, característica maior da antiga sociedade brasileira...

Armando Lopes Rafael