terça-feira, 29 de março de 2011

THOMAZ FARKAS, JUAZEIRO E O CARIRI NO CINEMA

Num breve comunicado, por e-mail, Felipe Caixeta nos comunica o falecimento do húngaro Thomaz Farkas, acontecido em São Paulo, dia 25.03. De acordo com informações do www.itaucultural.org.br, transcrevemos sua biografia resumida: Thomaz Jorge Farkas (Budapeste, Hungria, 1924 - São Paulo, SP, 2011). Fotógrafo, professor, produtor e diretor de cinema. Em 1930, imigra com a família para São Paulo, onde seu pai é sócio fundador da Fotoptica, uma das primeiras lojas de equipamentos fotográficos do Brasil. Associa-se ao Foto Cine Clube Bandeirantes (FCCB) em 1942, e começa a expor em salões nacionais e internacionais. Em livros e revistas importados, conhece os trabalhos de Edward Weston (1886-1964) e Anselm Adams (1902-1984), dois expoentes da fotografia moderna norte-americana. Na década de 1940, fotografa companhias de balé, esportes, paisagens e cenas do cotidiano urbano de São Paulo e do Rio de Janeiro. Realiza, em 1949, a mostra individual Estudos Fotográficos, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), e sete imagens suas passam a integrar a coleção do Museum of Modern Art (MoMA) [Museu de Arte Moderna de Nova York]. Em 1950, com Geraldo de Barros (1923-1998), desenvolve o projeto do laboratório de fotografia no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), onde dá aulas no ano seguinte. Paralelamente, faz experimentações em cinema, freqüenta os estúdios da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, São Paulo, e inicia correspondência com o documentarista holandês Joris Ivens (1898-1989). Gradua-se em engenharia mecânica e elétrica na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) em 1953. De 1957 a 1960, fotografa a construção e a inauguração de Brasília. Após o falecimento do pai, em 1960, assume a direção da Fotoptica, cargo que ocupa até 1997. Entre 1964 e 1972, atua como produtor, patrocinador e, algumas vezes, como diretor de cinema e fotografia em documentários sobre a cultura popular no interior do Brasil no projeto conhecido como Caravana Farkas, que reúne cineastas como Eduardo Escorel (1945), Maurice Capovilla (1936), Paulo Gil Soares (1935), Geraldo Sarno (1938) e o fotógrafo Affonso Beato (1941). Os filmes são premiados em festivais dentro e fora do país, tornando-se referência para o cinema nacional. Em 1969, passa a lecionar fotografia nos Departamentos de Cinema e Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), onde desenvolve tese de doutorado sobre os métodos de realização de seus documentários. Lança a revista Fotoptica em 1970, com ensaios de fotógrafos brasileiros e internacionais, e inaugura, em 1979, a Galeria Fotoptica, pioneira na divulgação e comercialização de fotografia no país. A partir de 1990, integra o Conselho Deliberativo da Coleção Pirelli Masp de Fotografia. Assume a direção da Cinemateca Brasileira de São Paulo, em 1993. Em 1997, lança o livro Thomaz Farkas, Fotógrafo e realiza exposição homônima no Masp com trabalhos produzidos nos anos 1940 e 1950. Em 2005, a Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pesp) inaugura a exposição Brasil e Brasileiros no Olhar de Thomaz Farkas, que apresenta, pela primeira vez, imagens coloridas feitas nas décadas de 1960 e 1970. No ano seguinte, parte dessas fotos é reunida no livro Thomaz Farkas, Notas de Viagem.”

Num depoimento publicado no Folha da Manhã, Renato Casimiro assim escreve sobre o trabalho de Farkas: “O cinema tem sido um instrumento muito efetivo na divulgação da cultura regional, e particularmente de Juazeiro do Norte. Em Julho de 1972, eu participei, pela primeira vez, de um congresso de nível universitário. Tratava-se da Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na Universidade de São Paulo, USP. Num frio miserável, eu ficava durante o recesso das horas de almoço, procurando alguma sala para me manter aquecido. Numa destas buscas, encontrei uma programação que estava sendo dirigida por Sérgio Muniz, com a projeção de filmes documentários sobre o Nordeste brasileiro, realizados pelo produtor Thomaz Farkas. Fazia parte da seleção os seguintes títulos: Memórias do Cangaço, de Paulo Gil Soares, Jornal do Sertão, Viva Cariri, Padre Cícero, Região Cariri, Visão de Juazeiro, de Eduardo Escorel, além de outros que não recordo. Estes filmes, com duração de 20 a 40 minutos, são fascinantes documentos de uma importante fase da cultura e do desenvolvimento do Cariri, nos anos 60-70. Alguns destes filmes foram exibidos por ocasião de simpósios havidos no Memorial Pe. Cícero, uma vez que estas cópias estão disponíveis em cinematecas, como a da UFC. Eles também estão em DVD, o que facilita muito a sua exibição. Memórias do Cangaço, por exemplo, é uma retrospectiva da vida no cangaço, pelas brenhas do sertão. O ponto mais elevado do documentário é a reprodução de um pedaço do filme original de Benjamim Abraão. Por um período ele fora secretário do Pe. Cícero, ao mesmo tempo em que, assistido tecnicamente pela ABA film, em Fortaleza, realizava pequenos documentários sobre os fatos do Juazeiro. Depois, como sabemos, ele se aproximou de Lampião, certamente com a mediação do Pe. Cícero, e conseguiu realizar a proeza de filmá-lo em plena caatinga. Este filme foi muito procurado pela polícia do estado novo, e supostamente se acredita que por esta via tenha sido parcialmente destruído. Eu nunca soube exatamente como esta parte usada por Paulo Gil Soares foi encontrada, e hoje está preservada. O filme é bem feito. Benjamim, para alguns, antecipou-se à própria concepção de cinema novo, onde prevalecia uma câmara na mão e uma idéia na cabeça, segundo o guru, Glauber Rocha. O Jornal do Sertão foi realizado na gráfica de Zé Bernardo, em frente a nossa casa, na rua Santa Luzia. O documentário mostra o artesanato do cordel, composto na mão, letra por letra. Em Viva Cariri o documentário aborda a industrialização do Cariri, através do projeto Morris Azimow, da Universidade da California. Faz um apanhado das indústrias que estavam se implantando na região, desencadeando um surto de aparente progresso no Cariri. São mostrados os contrastes que a região abrigava com uma pobreza periférica das cidades principais da região. Basicamente mostrava os conflitos da cidade do Pe. Cícero, e suas romarias, e as tentativas de desenvolvimento da região. Este documentário chegou a ter versões em espanhol e inglês, e correu muitos países. Padre Cícero é um curta metragem que enfoca a figura do padrinho do Juazeiro, ai incluindo cenas autênticas da vida do Pe. Cícero, como o dia a dia de sua casa, recebendo romeiros e passeando pela rua. Região Cariri mostra a questão da agricultura e do desenvolvimento da região, com seus engenhos, artesanato e demais aspectos relevantes, principalmente o papel do Pe. Cícero na formação desta sociedade. Visão de Juazeiro apresenta a cidade onde milhares de romeiros chegam para homenagear o seu padrinho, os santos de suas devoções, bem como para o pagamento de promessas junto aos altares e casas de milagres. Em 2005, toda esta produção de Thomaz Farkas foi apresentada em quatro dias no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, numa programação denominada Caravana Farkas, constando da exibição de 34 filmes e alguns debates com estudiosos de cultura popular.”

Um comentário:

José de Arimatéa dos Santos disse...

Alguns desses filmes a respeito do Pe Cícero e do cariri játive oportunidade de vê-los na Tv Senado. Sempre que passa, paro para ver e maravilhar-se com a força de Pe Cícero e do cariri.